A tecnologia no agronegócio brasileiro ainda engatinhava quando a Agrosystem, criada por Carlos Henrique Jacintho Andrade, começou a operar em 1989. Atuando como distribuidora de produtos importados, a empresa fez parte das primeiras movimentações do setor rumo à mecanização e à modernização do campo.
A empresa é mais velha do que o repórter que escreve esta reportagem, e, ainda assim, não envelheceu deixando a tradição se sobrepor a inovação que fez parte do negócio desde os primórdios. E encontrou espaço para se reinventar.
Três décadas depois, a empresa promoveu uma espécie de “choque de gestão”, que começa a ter resultados práticos no portfólio de produtos neste ano. Carlos Henrique, que ainda é o sócio majoritário da Agrosystem, passou a integrar o conselho, trazendo um novo corpo diretivo.
O cargo de CEO foi ocupado por Thiago Carvalho, executivo com passagens pelo Grupo Ultra e pela gestora Patria Investimentos. De lá pra cá, trouxe Isadora Andrade, também ex-Patria, para o posto de CFO, e Arthur Ferreira, ex-WEG, como diretor de engenharia e operações. Para o conselho, ainda atraiu Paulo Herrmann, ex-CEO da John Deere no Brasil.
Segundo explicou Carvalho ao AgFeed, o objetivo da nova gestão era “acelerar toda cadeia de inovação e de novos produtos da Agrosystem”. O primeiro movimento desta nova fase foi apresentado na edição deste ano da Agrishow, quando a Agrosystem fez o pré-lançamento do Bolt, um dosador de sementes 100% elétrico com turbina na linha para plantio direto.
O equipamento é tido como pioneiro no mercado, segundo o executivo, demandando três anos de desenvolvimento e um investimento de R$ 20 milhões. A ideia, segundo revelou Carvalho ao AgFeed, é acelerar a agenda de lançamentos até o fim da década, com mais três novos produtos.
O investimento deve ser o mesmo do Bolt, que deve chegar oficialmente ao mercado no ano que vem, o que forma um investimento de R$ 60 milhões até 2030 em novos produtos.
“Estamos investindo em novos produtos para pré-lançar em 2026 e levar ao mercado em 2027 e assim por diante. Estimamos um crescimento exponencial com esse novo produto, e planejamos aumentar o faturamento em 50% em 2026 frente a 2025”, disse o CEO.
O investimento para os produtos é feito parte pelo caixa da empresa e parte recursos captados pela Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), do governo federal, o que deve continuar também nos próximos lançamentos. A empresa não projeta receber investidores e capital externos.
Segundo Thiago Carvalho, todos os principais fabricantes de máquinas, internacionais e nacionais são clientes da Agrosystem. Ele cita as marcas da AGCO, CNH e John Deere, além das nacionais Marchesan, Jumil, Baldan e Stara.
O modelo de negócio tem três vertentes de vendas: para fabricantes, para distribuidores e direto ao produtor final. O faturamento, que não é divulgado pelo CEO, é dividido em 40% para as fabricantes e o restante dividido entre as outras duas frentes.
Nos clientes finais, ele cita que equipamentos da Agrosystem são comprados por companhias como SLC Agrícola e Amaggi. “Somos fortes em eletrônicos que atuam com o solo e plantio, principalmente sensores e produtos para o preparo de solo. Mas também temos soluções de monitoramento de plantio e aplicação variável de fertilizantes”, disse.
Como o Bolt ainda será lançado oficialmente no ano que vem, a projeção é crescer as vendas de 10% a 15% neste ano, “acompanhando a tendência de mercado dos fabricantes e concorrentes de agricultura de precisão”, concluiu o CEO.
A expectativa com o novo produto é ganhar mais terreno no chamado retrofit, modernizando máquinas antigas com o novo implemento. Nos cálculos de Thiago Carvalho, o Brasil tem hoje cerca de 4 milhões de linhas acopladas a plantadeiras, sendo que metade está apta a receber o retrofit.
Mesmo atendendo todo o País, a Agrosystem fabrica seus equipamentos em Ribeirão Preto, no interior paulista, e o CEO vislumbra expandir essa atuação física com novos centros de distribuição pelo País.
A companhia tem hoje dois escritórios comerciais na região Centro-Oeste, um no Sul e outros espalhados entre São Paulo e Minas Gerais.
“Quando começamos a reestruturação da empresa nos últimos anos, vimos que a estrutura regional, e de equipe comercial no front, tanto venda quanto pós-venda, já estava adequada”, disse.
Resumo
- Após um choque de gestão, a Agrosystem investirá R$ 60 milhões até 2030 em novos produtos, começando com o dosador elétrico Bolt
- O novo CEO, Thiago Carvalho, quer acelerar o portfólio de inovações, com lançamentos anuais previstos para a Agrishow
- Com foco em retrofit e agricultura de precisão, a empresa projeta crescer 50% em 2026 e ampliar presença nacional