Carambeí (PR) - Há dez anos, Pedro Nório, pecuarista desde 1968 em Paraí (RS), voltou da Alemanha entusiasmado com um robô que fazia a ordenha nas propriedades que visitara naquele país.

“Eu pensei: quando virá para o Brasil aquele troço? Eu vim para casa e contei para meus filhos e mulher, e eles falaram, 'Pedro, tu tá pensando o quê?'”.

A resposta para as perguntas veio rápido. Nório foi o primeiro proprietário de um robô ordenhador da holandesa Lely no Brasil. Com 134 vacas em lactação, o pecuarista gaúcho consegue obter de 10 a 12 litros por dia por animal e garante que o investimento deu resultado.

“O robô consegue entender quando a vaca precisa ser ordenhada, o que garante mais produtividade e mais saúde para o animal”, afirmou o pecuarista.

Em uma década, a companhia chegou, se consolidou e transformou o País em sua sede na América Latina. O marco desse ciclo foi a inauguração, nesta terça-feira, 23 de setembro, da unidade que centralizará as operações no Brasil, Argentina, Chile e Uruguai.

Localizada em Carambeí (PR), pólo da imigração holandesa e da produção leiteira no Brasil, o imóvel demandou investimentos de R$ 10 milhões, será um centro de treinamento e ainda fornecerá equipamentos ao mercado do México, onde inicia suas operações.

O próximo ciclo de dez anos será de crescimento e consolidação dos mercados no Brasil e na América Latina. Após essa etapa, a Lely estuda montar no País suas máquinas modernas para a automação na pecuária, hoje importadas da Holanda.

“Vamos crescer na América do Sul e no Brasil. Aí nós podemos considerar a montagem aqui. Mas isso não é imediato, é para os próximos 10 anos”, disse ao AgFeed Norbert van Hemert, diretor global de mercados da Lely.

Segundo ele, a nova estrutura, que centraliza todas as operações, será capaz de ampliar os mercados da região para a companhia, em um cenário de crescimento da pecuária leiteira na América Latina. “Nós vemos esse mercado emergente como um potencial enorme para a pecuária leiteira”.

Esse potencial pode ser comprovado com números. O Brasil é responsável pela primeira e quarta posições do ranking de produtividade entre os clientes da Lely, com as empresas Melkstad e Melkland, respectivamente. O maior projeto da empresa no mundo, com a implantação de 96 robôs, está na Argentina.

“Só no mercado brasilero são 23 milhões de vacas leiteiras. Se pegarmos 10% disso, estamos falando (em grandes propriedades) em 2,3 milhões de vacas para poder colocar um robô”, disse o gerente-geral Lely América Latina, Edison Acherman.

Dos 50 mil robôs comercializados pela Lely desde 1992, 700 chegaram à América Latina e 400 ao Brasil nos últimos dez anos. No entanto, 90 desses equipamentos foram comercializados somente no ano passado no Brasil e 150 na América Latina, de acordo com Acherman.

Nos últimos cinco anos, esse mercado regional cresceu 600% para a Lely, que não divulga números de faturamento.

Segundo o executivo, o total de animais e o potencial de mercado pode gerar um volume suficiente de automação que justifique uma unidade de montagem no Brasil, como ocorreu nos Estados Unidos, único país fora da Holanda que possui uma planta industrial da companhia.

“É uma possibilidade não tão no curto prazo, a não ser que o mercado continue crescendo numa velocidade que comece a justificar o investimento”.

Além do ordenhador, carro-chefe da empresa, os projetos de automação da Lely incluem um robô coletor de dejetos, um aproximador de alimentos para as vacas leiteiras e um alimentador automático de bezerros. A empresa pretende trazer aos mercados latinos-americanos, no próximo ano, um vagão autônomo alimentador dos animais.

De acordo com Acherman, o custo, de R$ 1,5 milhão por robô e unidade central de controle, ainda é um empecilho para o pecuarista brasileiro, já que muitos precisam de financiamento para a aquisição em um cenário de juros altos.

“Estamos buscando alternativas com a matriz para oferecer linhas de crédito aos nossos clientes, já que o financiamento responde por 70% das decisões de compra”, concluiu o diretor-geral da Lely América Latina.

Resumo

  • Holandesa Lely abre sede em Carambeí (PR) para centralizar operações no Brasil, Argentina, Chile, Uruguai e iniciar México
  • Empresa projeta crescimento de mercado e avalia montar robôs de ordenha no Brasil no próximo ciclo de 10 anos
  • Pecuária leiteira da América Latina cresce rápido: Brasil já concentra 400 robôs e pode justificar unidade industrial

Nova sede da Lely em Carambeí (PR): de olho em todo o continente

Norbert van Hemert, diretor global de mercados da Lely