Nos últimos meses, as obras correm em ritmo acelerado em uma fazenda da Verdana Agropecuária em Itatinga, no interior Paulista. O empresário José Carlos Grubisich tem pressa e um cronograma a cumprir.

Até o fim deste ano, ele espera que as novíssimas instalações da propriedade recebam 240 vacas, dobrando o atual rebanho e multiplicando em uma proporção ainda maior a coleta diária de leite.

E depois, em mais um ano, dobrar novamente, seja o número de animais, seja a estrutura física para acomodá-los. “O projeto é ter entre 480 e 550 vacas girolando de alta produtividade”, conta Grubisich sobre seu novo empreendimento.

Mais que o leite, que segundo ele “é o que vai pagar as contas”, o pecuarista e ex-CEO de companhias como Rhodia, Braskem e Eldorado Celulose deve acelerar nos próximos meses um negócio com o qual pretende ajudar a transformar a pecuária leiteira no País – e quem sabe em outros também.

Ele batizou a iniciativa – que havia antecipado ao AgFeed há cerca de um ano e meio – de Vitrine Tecnológica de Leite Verdana. E explica a ideia da seguinte forma: “Vamos criar uma espécie de hub de tecnologia e inovação para a genética do leite tropical”.

Grubisich pretende expor nessa vitrine os resultados de um programa exclusivo de melhoramento genético do gado girolando, raça desenvolvida a partir do cruzamento da zebuína gir com a holandesa.

Aliando a rusticidade da primeira, que encara bem os desafios climáticos dos trópicos, com a alta produtividade do rebanho holandês, o girolando passou a ganhar espaço em projetos leiteiros no Brasil. Mas, segundo o empresário, ainda não na plenitude do seu potencial.

“Na genética da raça holandesa, a Europa e os Estados Unidos já andaram milhares de quilômetros, já tem tudo na mão, e eu não teria muita coisa para contribuir nesse campo”, afirma.

“Então eu resolvi entrar na raça girolando, que, apesar de ser muito desenvolvido e presente no Brasil, ele ainda está muito atrás, do ponto de vista da genética, da genômica, do conhecimento estatístico, científico, de dados factuais”.

O pecuarista afirma que, por ser uma raça muito jovem e pouco explorada do ponto de vista da ciência, é possível obter um conhecimento mais profundo e, com isso, trazer mais impacto ao mercado.

O caminho escolhido por ele foi a formação de parcerias que o ajudem a mergulhar nas características genéticas do girolando. Ele acaba de fechar uma delas, com a multinacional americana Neogen, especializada em análise genômica. E mantém aindaoutra, já em genética avançada, com a ST Genetics, também dos EUA.

“Quero investir fortemente nessa parte de genômica, acasalamento genômico, eficiência alimentar, monitoramento real-time. Tudo isso com uma camada de inteligência artificial, para poder usar e tratar todos esses dados que a gente vai obter na operação”, explica.

A Neogen foi contratada pela Verdana para genotipar todos os animais que vão nascer dentro da vitrine tecnológica do leite, sejam elas girolandas meio-sangue ou três-quartos, assim como todas as doadoras de óvulos para produzir embriões na fertilização in vitro.

Depois, com essas informações, ele espera cruzar informação para encontrar as melhores combinações de acasalamento com os melhores touros holandeses, americanos e europeus.

Grubuisch admite que já há outros projetos de genotipagem no Brasil, que passam pela Associação Brasileira de Girolando. Segundo ele, entratanto, esses processos são mais simples e os criador não têm acesso a todos os dados genômicos dos animais.

“O que a maior parte do pessoal faz é genotipar e dar um ranqueamento dentro da raça, para ver em que quartil você está”, afirma o empresário. “Mas você não tem acesso à integralidade da genotipagem para poder fazer um acasalamento genômico de verdade. Então, é aí que a gente está inovando”.

Na vitrine tecnológica, ele diz buscar informações sobre 100 mil marcadores genéticos, um volume de dados que permitirá uma infinidade de combinações – e é aí que a IA terá papel relevante.

Com isso, ele espera ter em suas mãos o maior banco de genótipo da raça girolando, podendo definir os caminhos a seguir a partir desses dados e da escolha dos touros certos para obter os resultados desejados.

“Vou melhorar o nível de assertividade. Em princípio, se tudo correr bem, eu vou ter animais melhores, mais férteis, mais produtivos, que vão responder melhor ao programa de melhoramento”, resume.

Produção em alta

Do ponto de vista operacional, o projeto de Grubisch começou há quatro meses. Hoje, na fazenda, ele conta com 120 vacas produzindo, o que lhe permite coletar 3 mil litros diários – comercializados com a indústria de laticínios Tirolez.

Também fazem parte de seu plantel cerca de 140 bezerras nascidas na fazenda, de embriões selecionados, segundo ele, em diferentes locais, sempre com sexagem para fêmeas. “Isso acelera demais a capacidade reprodutiva”, aponta.

A escalada prevista é para chegar a uma produção em torno de 20 mil litros de leite por dia, que Grubisch considera ser o mínimo necessário para “ser competitivo e ter resultado e geração de caixa para poder reinvestir”.

“E eu agora vou rápido para chegar em 240 vacas até o final deste ano. E até o começo do ano que vem eu tenho que estar com essa primeira perna do projeto já na capacidade”.

A estrutura da fazenda precisa acompanhar o ritmo, por isso as obras em andamento. Hoje ela conta com um compost barn – galpão especialmente projetado para abrigar os animais com boas condições de manejo e contorto térmico – para as primeiras 240 vacas.

Em maio do ano que vem o cronograma prevê o início de um segundo para dobrar a capacidade, já com a previsão de ocupá-lo imediatamente. Então, seriam quase 500 vacas produzindo.

A média de produção da fazenda hoje está na faixa de 30 litros por vaca a cada dia, já bem acima da média nacional da raça girolando, que, segundo Grubisich, fica em torno de 20 litros diários.

“Acho que a girolando de boa seleção, que é para onde eu quero ir, pode chegar a 40 litros por dia de média”, afirma.

Para a ordenha, A Verdana já está preparada. A capacidade atual já é para a coleta automatizada, com um sistema de última geração com capacidade para os desejados 20 mil litros.

Há também melhorias na área agrícola, com a produção de milho para a silagem, feita também na propriedade. São 200 hectares cultivados, que estão recebendo aportes em pivôs irrigação e na produção de adubos orgânicos provenientes dos próprios dejetos do gado.

Isso está sendo feito com a instalação de piscinas e um biodigestor, que vai gerar também metano, que será usado na produção de eletricidade para alimentar o projeto.

O investimento total nessa primeira etapa do projeto é estimado em R$ 30 milhões. Segundo Grubisich, tudo é feito com recursos próprios.

O potencial de faturamento é de R$ 50 milhões anuais, “na hora que estiver tudo rodando na velocidade de cruzeiro”.

Grubisich afirma estar satisfeito com os resultados obtidos até agora, ainda no início do processo. Um de seus orgulhos é estar atingindo o padrão máximo de qualidade do leite na avaliação da compradora, a Tirolez, com quem mantém um contrato de fornecimento de longo prazo.

“Estou muito feliz porque eu estou batendo o teto do bônus pela qualidade do leite. Isso é bom para quem está começando”, diz.

Genética tropical

Além do leite, o projeto da vitrine de Grubisich é expor e vender genética de gado leiteiro tropical para o Brasil e países da América Latina, da África e eventualmente da Ásia.

“Estou buscando isso para o produtor que não tem o clima, não tem a condição de ter um gado confinado e fazer toda a recria em ambiente controlado, almejando a genética para aquele pecuarista que vai fazer uma recria pasto com um gado que vai ser mais resistente a carrapato e esse tipo de coisa, mas sem perder a produtividade”

Se é principiante na pecuária leiteria, o empresário já tem larga experiência com melhoramento genético na pecuária de corte.

Desde os tempos em que atuava no mundo corporativo ele já vinha fazendo aquisição de terras e de animais da raça Nelore, seja de elite, seja de produção.

Atualmente, mantém o rebanho de elite em outra propriedade também na região de Itatinga. E o rebanho de produção em duas fazendas no Mato Grosso do Sul, onde investe em um projeto de intensificação no sistema de integração com florestas e pecuária (ILPF), para elavar o plantel de cerca de 3 mil para 7 mil cabeças.

O produtor pretende atuar nas etapas de cria e recria de animais e já tem cerca de 2 mil matrizes “hiper selecionadas” para dar arranque no projeto. A ideia é vender touros e matrizes “ceipados”, ou seja, certificados a partir de uma avaliação genética que leva em consideração características de precocidade na desmama e no ganho de peso.

Ele também já mantém negpocios na área de melhoria genética, sendo sócio da Seleon Biotecnologia, empresa criada e comandada pelo filho, Bruno Grubisich, que se tornou uma referência do segmento no País.

A Seleon também tem seu espaço na vitrine da pecuária leiteira, atuando como prestadora de serviço. “São dois projetos que caminham em paralelo”, observa Grubisich.

Resumo

  • Empresário José Carlos Grubisich investe R$ 30 mi para dobrar rebanho girolando e ampliar produção de leite
  • Projeto inclui parceria com a Neogen para genômica e criação de uma vitrine tecnológica para a pecuária leiteira tropical
  • Objetivo é atingir 20 mil litros/dia e vender genética para pecuaristas do Brasil, América Latina, África e até Ásia