A demanda por bioinsumos é crescente no Brasil e no mundo, mas ainda enfrenta alguns desafios. Um deles é a logística para transportar determinados produtos à base de microrganismos vivos para as regiões distantes de fronteira agrícola, garantindo o que o mercado chama de “shelf life”, ou seja, o tempo de prateleira.

A startup Life Biological Control, criada há 3 anos no “AgValley” de Piracicaba (SP), tem nesta “duração estendida” um dos grandes diferenciais para o produto que virou carro-chefe da empresa: um biodefensivo à base de baculovírus que está sendo amplamente adotado por agricultores para combater a lagarta-do-cartucho, uma das piores pragas nas lavouras de milho.

Em entrevista exclusiva ao AgFeed, a CEO da Life Biological Control, Cristiane Tibola, disse que o produto vem obtendo controle da praga acima de 90%, por isso acredita que em breve a empresa deverá se tornar a maior fornecedora de baculovírus no mercado brasileiro.

O modelo de negócio é principalmente baseado no B2B, em que a empresa fornece o produto para outras fabricantes, mas também trabalha com marcas próprias e cabe aos parceiros fazer a comercialização.

“Nós nos concentramos naquilo que a gente sabe fazer. A gente sabe produzir, a gente sabe escalar essa produção e a gente achou parceiros que consigam comercializar ou com a marca deles ou com a nossa marca”, explica.

No caso do baculovírus, o nome comercial atual é Destroyer SF. O desenvolvimento dessa tecnologia foi feito em parceria com a Embrapa.

“Eu tenho uma validade para dois anos para ele (baculovírus) em temperatura ambiente, consigo operar muito bem no Brasil. Então, ele não precisa de refrigeração. Isso é uma diferença muito grande dos nossos concorrentes”, ressalta.

Ela argumenta que produtos que precisam de cadeia fria, quando se pretende transportar para longas distâncias, como Mato Grosso e Bahia, por exemplo, o custo fica muito alto e há um “risco de perda de eficiência muito grande”.

Cristiane tem apenas um sócio, o engenheiro agrônomo Leandro Silva, mas vem conquistando o apoio de vários segmentos.

“Nós temos a Finep, por exemplo, que é uma das nossas parceiras de investimento, nós temos a WBGI e estamos em momento de captação. A empresa cresceu muito, então nós estamos nos estruturando agora para uma nova biofábrica em 2026”, revelou ao AgFeed.

O valor da captação que está em aberto é de R$ 20 milhões, mas outras rodadas estão previstas para 2026 e 2027. Tibola não divulga o faturamento exato da empresa, mas diz que já está “bem acima de milhões”. Segundo Tibola, o breakeven foi alcançado já no primeiro ano. O baculovírus representa hoje 90% da receita.

Desde que foi criada, a Life Biological Control diz que já foram tratados 5 milhões de hectares com seus produtos. Só em 2024 foram 1 milhão de hectares, com a venda de 50 toneladas de produto no mercado. “Eu comecei em 2022 com 200 quilogramas de produto sendo produzido, só para se ter uma ideia”.

Se houve houvesse capacidade produtiva na safra atual, a CEO diz a empresa já estaria produzindo e vendendo pelo menos 40% a mais.

O projeto da nova fábrica prevê triplicar a produção atual. Será preciso, segundo a executiva, uma área adicional de 5 mil metros quadrados.

Novos produtos e culturas

Além do baculovírus, a Life Biological Control também tem o registro de outro produto, a microvespa, que faz o controle do percevejo na soja. Neste caso, o tempo de prateleira é de 15 dias, o que exige uma logística mais rápida, por isso há mais dificuldade em produzir em larga escala.

Por isso, as apostas seguem forte no baculovírus e na expansão para outras culturas. A lagarta é uma praga que não ataca só o milho, causa prejuízos também no algodão, na soja, e até em cultivos como tomate, fumo e pastagens, segundo Tibola.

“Para esse ano ainda, para essa próxima safra, nós estamos registrando um produto à base de baculovírus para soja e outro para algodão”, contou Cristiane. Um deles terá como foco o combate à lagarta falsa medideira na soja.

Cristiane Tibola, CEO da Life Biological Control

As pesquisas na Embrapa, com foco no milho, levaram quase 40 anos, segundo ela. O produto foi desenvolvido em parceria com a instituição, mas a Life Biological Control não tem exclusividade. Já dois novos produtos que serão lançados também em parceria com a Embrapa, a base de baculovírus, serão exclusivos da empresa.

Para 2026, a companhia diz que já está submetendo dois novos registros que terão dupla e tripla ação, um deles para controlar três lagartas na soja.

Com isso, a Life Biological espera se consolidar como a empresa com maior número de produtos à base de baculovírus no Brasil. Há também lançamentos previstos para 2027 e 2028.

Até hoje quem vinha dominando o mercado era uma multinacional que passou a vender produtos com baculovírus no Brasil para aproveitar uma oportunidade, que foram as fortes perdas causadas pela helicoverpa armígera em 2014.

Cristiane Tibola acredita que a realização da COP 30 no Brasil esse ano será uma grande oportunidade para os biológicos, especialmente para os produtos da Life Biological Control. Ela conta que fez parte de uma pesquisa feita pela Finep que está preparando conteúdos a serem apresentados na Conferência.

“Quando a gente utiliza controle biológico a gente deixa de utilizar muito agrotóxico no ambiente. Isso por si só já reduz muito as emissões de CO2, que é um dos fatores principais a serem debatidos na COP30”, defende.

Ela disse acreditar que, além de mostrar o trabalho, possa atrair investidores. A empresa já vem trabalhando na internacionalização, avaliando expansão para países da América Latina e também já em conversas com a África do Sul.