O CEO da divisão agrícola da Jacto, Carlos Daniel Haushahn, está há menos de seis meses no cargo. Mas faz questão de salientar que “já chegou sabendo”. Com 14 anos de experiência no grupo produtor de máquinas agrícolas, o executivo era CEO da divisão de portáteis quando foi escolhido para comandar o principal braço da companhia.
“Foi uma transição muito tranquila, porque foi feita dentro da própria companhia, sem a inércia inicial para conhecer a empresa, pois já conhecia os acionistas e o jeito Jacto de fazer negócios”, disse Haushahn ao AgFeed.
A missão dada a ele foi a de consolidar o projeto de expansão da companhia, após a inauguração da segunda unidade em Pompeia (SP), há pouco mais de um ano. O primeiro ano de operação na moderna unidade industrial, completamente automatizada e conectada com tecnologia 5G, foi de aprendizado e, após ajustes, a meta é aumentar os volumes e reduzir o custo operacional.
“Nós rodamos o ano de 2024 com algumas dificuldades operacionais, o que é normal, mas hoje estamos na normalidade de produção, com volume muito bom para começar a colher, então, os frutos desse investimento”, afirmou o executivo.
Com quase 100 mil metros quadrados, a unidade fabrica 60 pulverizadores da Jacto por dia. A empresa não divulga o valor dos investimentos, estimados no mercado em mais de R$ 500 milhões. A primeira meta é crescer em até 40% essa oferta. Em seguida, outros produtos serão incorporados às seis linhas previstas e os primeiros deles serão as plantadeiras de grãos.
“A partir desse ano agora, a gente entra com mais força na área de plantio. É uma nova linha que a gente fez e que ajudará a escalar a produção da fábrica para os próximos anos”, explicou Haushahn.
Uma linha de produção unidade industrial já está reservada para receber, em breve, a fabricação da primeira colhedora de cana-de-açúcar da companhia. Projeto dos mais ambiciosos da Jacto, a Hover 500 chegará para enfrentar as tradicionais concorrentes das multinacionais John Deere e Case nesse restrito mercado.
O fato de ser um produto de uma empresa brasileira com 76 anos de tradição já seria um bom apelo para as vendas da colhedora. Mas a excelência oriental buscada pela família Nishimura e o lema do seu fundador, Shunji Nishimura, de que “ninguém cresce sozinho” trouxe a cautela e a parceria para o desenvolvimento da máquina.
São anos de projeto e testes da Hover 500, incluindo clínicas com os setores de operação e manutenção de usinas parceiras para desenvolver um novo conceito de colhedora.
Uma máquina que pretende ser mais simples na operação e na manutenção, com custos menores e uma capacidade maior de colheita e processamento.
“É um anseio do produtor brasileiro que tenha mais uma opção e, se essa opção for nacional e ouvindo a voz deles, é muito bem-vinda”, afirmou o CEO da divisão agrícola da Jacto.
A expectativa do mercado contrasta com a estratégia da Jacto em chegar a um grau de maturidade do projeto que acredita ser o ideal para lançar a colhedora capaz de competir com as tradicionais concorrentes.
“É um mercado totalmente distinto e uma máquina muito robusta, que opera 24 horas por dia durante dez meses sem parar”, explicou.
Para Haushahn, 2025 será um ano de ajustes na unidade fabril, com incremento de produtividade, para que em 2026 os novos produtos entrem em produção e todo um processo de maturação seja incorporado, mas já com a experiência adquirida na fabricação dos pulverizadores.
Futuro sem repetir o passado
Resolvidos os gargalos do passado e paralelamente aos desafios do futuro, a Jacto tem de lidar com os desafios do presente. Assim como para outras companhias dependentes do agronegócio, o cenário atual é complexo para a empresa, principalmente para produtos de alto valor.
“O mercado depende de preço da commodity, produtividade e taxa de juros. Os preços estão num patamar mediano, a taxa de juros está muito alta e, pelo menos um dos fatores, a produtividade, joga a favor do fabricante de equipamentos”, avaliou Haushahn.
Com parte da carteira contratada no ano passado, em outro cenário de juros, e com os outros fatores agrícolas positivos, a Jacto espera crescer em 2025 ante 2024 e até mesmo superar 2023. Naquele ano, o faturamento da divisão agrícola foi de R$ 3,2 bilhões, com lucro líquido de R$ 431 milhões, segundo balanço divulgado em abril do ano passado - os resultados do exercício passado ainda não foram anunciados.
Entre as alternativas para financiar os clientes estão linhas estruturadas de crédito com instituições financeiras e o consórcio, em parceria com a Comasa. Dados da Jacto apontam que houve um crescimento de 46% nas vendas de consórcio entre 2022 e 2023 e de 34% no ano passado. “O produtor está começando a ter uma visão diferente para o consórcio e hoje é uma alternativa de investimento”, disse o executivo.
Além das duas unidades em Pompeia, incluindo a nova fábrica, a Jacto tem unidades fabris na Argentina e na Tailândia, escritório comercial e centro de distribuição no México e Estados Unidos, e comercializa seus produtos para mais de 100 países.