De modo geral, as empresas sucroalcooleiras têm privilegiado o açúcar em relação ao etanol no balanceamento da produção industrial. Mas a Cerradinho Bioenergia, como diz o nome, é uma empresa de energia e, portanto, de etanol. E o momento para o etanol não é favorável.

No terceiro trimestre da safra 2023/2024, a Cerradinho dependeu da venda de energia elétrica e principalmente de CBIOs, títulos de descarbonização vendidos para distribuidoras de combustíveis, para conseguir melhorar a lucratividade. Mas no acumulado em nove meses, a situação ainda se mostra complicada.

A moagem de cana cresceu 2,3% no trimestre e caiu quase 2% no acumulado de 2023/2024. Os números mostram que a Cerradinho tem aumentado a participação do milho em sua produção, já que a moagem do grão avançou cerca de 40% no trimestre e no ano.

Mas em faturamento, o resultado com etanol de milho no trimestre piorou mais que o de cana, com quedas de 43% e 4%, respectivamente. No ano, o cenário se inverte, com o etanol de cana apresentando receitas 20% menores em relação a 2022/2023, contra queda de 3% no milho.

Se a operação principal da Cerradinho apresenta problemas, as outras atividades desenvolvidas pela companhia “salvaram” os lucros, pelo menos no terceiro trimestre da safra.

As receitas com venda de energia elétrica superaram os R$ 31 milhões entre outubro e dezembro do ano passado, com crescimento superior a 12% em relação ao mesmo período da safra 2022/2023. Isso em um cenário de queda de quase 15% no volume de energia vendida.

Mas o melhor desempenho veio mesmo da venda de CBIOs. O faturamento foi praticamente 10 vezes maior no terceiro trimestre de 2023/2024, chegando a R$ 27 milhões. Em volume de títulos, o crescimento foi de 7,5 vezes.

Chama ainda mais atenção o desempenho da linha Outras, que a Cerradinho não detalha em seu balanço. Foram R$ 92 milhões em faturamento nesta categoria, contra menos de R$ 2 milhões um ano antes.

Com isso, a Cerradinho Bioenergia conseguiu quase triplicar seu lucro trimestral, na comparação com a safra anterior, para quase R$ 88 milhões.

No acumulado da safra, o cenário é diferente. O lucro acumulado em nove meses foi todo gerado no terceiro trimestre, já que o valor da safra total até agora é de R$ 86,5 milhões, que representa uma queda de 70% na comparação com a safra anterior.

Em nove meses, nem mesmo a venda de energia ajudou, já que acumula queda de 4% em receitas. Mas CBIOs e a linha Outras também fizeram diferença, com crescimentos de 159% e 734%, respectivamente.

Preços de etanol atrapalham

Sobre o etanol de cana, a Cerradinho aponta que houve uma queda superior a 25% nos preços médios líquidos nos nove meses de 23/24, saindo de R$ 3,198 para R$ 2,478.

No milho, a empresa destaca que houve uma expansão da planta da subsidiária Neomille em Goiás, que foi concluída no final de dezembro de 2022. E a partir de janeiro, entrou em operação a nova planta da Cerradinho, em Maracaju, no Mato Grosso do Sul, com capacidade de processar 600 mil toneladas por ano.

As receitas do etanol de milho foram atrapalhadas também pelos preços praticados no mercado, segundo a companhia.

Os preços atrapalharam também o faturamento com outros produtos resultantes do milho. No caso do farelo, houve queda de 27% no preço médio vendido, compensado pelo aumento de quase 35% na produção. Com isso, o faturamento com o produto caiu menos de 2% em nove meses.

O volume de óleo vendido dobrou na safra 23/24, o que permitiu um aumento de 28% nas receitas com o produto, mesmo em um cenário de preços 36% inferiores em relação à safra 22/23.