Enquanto briga para retomar seu processo de recuperação judicial – suspenso por liminar expedida pelo Tribunal de Justiça do Mato Grosso (TJ-MT) – o Grupo Safras enfrenta novo revés em outra frente.
Por determinação da 1ª. Vara Cível de Cuiabá, o conglomerado agroindustrial com sede em Sorriso (MT) perdeu a posse da unidade esmagadora de soja localizada na capital do estado, um dos ativos que considera essenciais para a continuidade de sua operação.
O juiz Márcio Aparecido Guedes concedeu, no dia 20 de maio passado, a reintegração de posse da fábrica à Carbon Participações, empresa responsável pela administração da massa falida da Olvepar, dona original da planta.
A medida começou a ser executada no dia 3 de junho e a unidade já está sob posse da Carbon. Entretanto conforme afirmou ao AgFeed o advogado da empresa, David Garon, ainda nesta terça-feira, 10 de junho, uma semana depois, o Safras ainda não retirou de lá materiais de escritório e até mesmo insumos que seriam usados na produção da fábrica.
“Quando nós chegamos ao local, fomos surpreendidos com a situação de abandono da unidade industrial, que já estava sem energia elétrica”, disse Garon. A situação consta na certidão da execução elaborada pelos oficiais de justiça que participaram da operação e que foi anexada ao processo.
No documento, eles apontam ter ouvido de funcionários presentes no local o relato de que o corte de energia deveu-se ao não pagamento das dívidas do Safras com a Energisa, empresa distribuidora do setor elétrico.
E informam que o gerente da unidade, Cleber Bedin, “optou por dispensar os trabalhadores, considerando a conjuntura gerada pelo corte de energia e a necessidade de cumprimento do mandado judicial objeto da presente certidão”.
O mesmo documento aponta que a falta de energia comprometia também o abastecimento de água, já que ele dependia do funcionamento de bombas elétricas.
Além disso, os oficiais de justiça relataram que, por conta da paralisação das operações, encontraram no pátio da fábrica, no primeiro dia da execução da ordem judicial, um número superior a 60 caminhões para carga e descarga “completamente parados, alguns desde sábado (31/05/2025), aguardando a movimentação da empresa para a emissão de notas fiscais e demais documentos necessários para a remessa ou recebimento das cargas”.
Nos armazéns, eles anotaram ter verificado a existência de cerca de 5% de ocupação com grãos, segundo inspeções realizadas por prepostos da Carbon. Fotos anexadas na certidão apresentam, de fato, os espaços praticamente vazios.
“O material não estava sendo processado, porque a usina estava desligada”, afirmou o advogado da Carbon. Estamos fazendo a medição de quantidade de tudo, até pra poder alinhar a retirada de tudo isso com o proprietário, que não é o Safras, mas o grupo Engelhart, a quem eles prestam serviços”.
A Engelhart é uma trading controlada pelo BTG Pactual, que mantinha com o safras um contrato de prestação de serviços para beneficiamento de soja na unidade.
De acordo com Garon, a intenção da Carbon é voltar a operar a unidade. Ele disse que a empresa está inclusive oferecendo aos funcionários do Safras que atuavam no local a possibilidade de, se desejarem, continuarem trabalhando na fábrica, desde que apresentem as carteiras de trabalho com baixa dada pelo antigo contratante.
“Diante da situação que foi encontrada no local, algumas medidas foram adotadas já de maneira imediata e a primeira foi distribuição de cestas básicas para funcionários da indústria, porque havia muita reclamação de problemas de pagamento de salário”, afirmou.
Procurado pelo AgFeed, o Safras negou, através de sua assessoria, que houvesse atraso nos salários e disse que o corte de energia se deu em função das exigências do processo de recuperação judicial – o grupo estaria impedido de saldar as conta anteriores a propositura da medida (4 de abril). “A Energisa não estava aceitando essa condição, por isso mandou cortar a energia”, informou a companhia.
Segundo David Garon, a Carbon tem mantido conversas com interessados em arrendar ou operar a unidade. “A Carbon precisa desses ativos para pagar os credores da Olvepar”, afirmou.
Resumo
- Juiz Márcio Aparecido Guedes, da 1ª. Vara Cível de Cuiabá, determinou a reintegração de posse da fábrica à Carbon Participações, empresa responsável pela administração da massa falida da Olvepar, dona original da planta.
- A unidade esmagadora de soja, localizada na capital do estado, é considerada essencial pelo Safras para a continuidade de sua operação
- Carbon afirma ter encontrado a planta abandonada e sem energia e nem abastecimento de água