Muitos termos e conceitos têm ganhado força dentro do agronegócio nos últimos anos. Um deles é a agricultura regenerativa, que consiste em sistemas mais sustentáveis de produção que também podem levar a uma melhor produtividade.
A BP Bunge, uma das maiores empresas sucroenergéticas do Brasil, colocou esse conceito no centro de sua estratégia de negócios, inclusive para diminuição de despesas com compra de insumos.
Em conversa com o AgFeed, Rogério Bremm, diretor agrícola da BP Bunge, revelou que o objetivo da companhia é ser autossuficiente em fertilizantes em poucos anos, utilizando os subprodutos do processamento de cana-de-açúcar, como vinhaça e torta de filtro.
É um projeto ambicioso, dentro de uma empresa que tem mais de 450 mil hectares de canaviais sob gestão e receita próxima de R$ 8 bilhões na última safra.
Em média, os gastos com fertilizantes representam 16% dos custos agrícolas do setor sucroenergético – e, com boa parte desse insumo sendo proveniente de importação. Assim, sua substituição por alternativas produzidas dentro de casa têm uma série de benefícios, inclusive o de não ver uma linha importante de seus gastos sujeita a variações cambiais.
A abertura, em maio, da fábrica de fertilizantes na usina Moema, localizada na cidade de Orindiúva, no noroeste do estado de São Paulo, vai servir para completar a primeira parte da autossuficiência em fetilizantes.
“O plano é chegar a ter 100% do potássio de fabricação própria com vinhaça até 2026”, afirma Bremm.
“A vinhaça é rica principalmente em potássio e 86% da nossa área já recebe esse subproduto como fertilizante. Mas como a vinhaça não tem todos os nutrientes necessários, nós tínhamos que comprar”, conta o executivo.
A BP Bunge investiu R$ 22 milhões na fábrica. E outras iniciativas semelhantes já estão nos planos da companhia. “Nós já estamos com projetos para mais duas fábricas de fertilizantes, provavelmente em Goiás e Minas Gerais, locais que ficam próximos de todas as nossas usinas, facilitando a logística”.
A empresa opera 11 unidades de produção de bioenergia, açúcar e etanol, que moeram, na safra passada, perto de 30 milhões de toneladas de cana.
Outro insumo que vai entrar no programa de agricultura regenerativa da BP Bunge é o fósforo, por meio do reaproveitamento da torta de filtro, que são os resíduos sólidos que permanecem do processo de primeira filtragem do caldo da cana.
No caso do fósforo, o uso da torta de filtro permite a produção de 80% das necessidades da companhia, segundo Bremm.
Os dois materiais também fornecem nitrogênio, outro insumo importante na composição dos fertilizantes necessários para a cultura de cana. Mas a BP Bunge precisava adquirir ureia ou nitrato de amônia para completar a fórmula.
“Nós estamos em um processo de substituição por bactérias que fixam nitrogênio nas plantas. Já conseguimos substituir 80% da nossa demanda por esses microorganismos, e pretendemos chegar a 100%”, diz o diretor da companhia.
Para atingir esse objetivo, Bremm explica que é preciso desenvolver as bactérias para aumentar a eficiência na fixação de nitrogênio e não é possível, ainda, estabelecer um prazo para chegar nesse resultado.
O executivo conta que o plano de agricultura regenerativa da BP Bunge teve início há quatro anos, e permitiu, desde então, a redução em 70% na compra de fertilizantes minerais.
“É importante lembrar que 95% desses fertilizantes minerais são importados de Canadá, Rússia e Ucrânia. Estamos evitando essa dependência, principalmente pensando que dois destes países estão em guerra”, afirma Bremm.
Além da redução de custos com compra de insumos, o executivo afirma que a utilização de fertilizantes organominerais de fabricação própria têm melhorado o desempenho da cana. “O aumento da produtividade foi de 10% a 15%”, revela.
A utilização de insumos biológicos e organominerais ajuda inclusive na resistência das plantas às condições climáticas desfavoráveis.
“Começamos bem essa safra de 2024, com produtividade acima da expectativa. Mas existe uma expectativa de clima mais seco nos próximos cinco meses. O uso desses insumos acaba reduzindo os efeitos do stress hídrico nas plantas, com as bactérias formando uma espécie de película protetora, reduzindo a perda de água”, conta Bremm.
O diretor da BP Bunge conta que uma das usinas já chegou a 100% de utilização de biológicos em defensivos contra pragas e doenças.
“Só não ampliamos ainda mais porque a tecnologia ainda não está disponível para alguns fins, como herbicidas e fungicidas. Mas é o que gostaríamos de fazer”.
Ele afirma que a usina foi uma espécie de pioneira, dentro da BP Bunge, na substituição completa de defensivos químicos por biológicos para estes fins.
“Mas é um processo que leva alguns anos. Não é simplesmente substituir, é uma evolução, inserindo os biológicos juntamente com os químicos, e gradualmente aumentando a proporção. Por isso ainda não temos outras usinas no mesmo patamar”, explica Bremm.