Adquirida em setembro passado pela belga Biobest, a empresa brasileira de insumos biológicos Biotrop ganhou novo status nas últimas semanas. Como resultado de uma reorganização elaborada pelo grupo europeu, a companhia com sede em Vinhedo é agora uma divisão com atuação global e será responsável pelo desenvolvimento e comercialização de produtos voltados para grandes culturas em todo o mundo.
A marca Biotrop continua, como o maior negócio individual de uma nova corporação, a Biofirst, nome dado pelos novos conglomerados à holding que vai reunir as outras frentes controladas por eles.
A Biobest também permanece, mas limitada à área de macrobiológicos – que usa insetos benéficos como polinizadores ou predadores de pragas. Será assim, também, uma divisão do grupo, ao lado da Biotrop e de outras duas: a Bioworks, originada de uma empresa americana especializada em fungos para fruticultura e hortaliças, e a distribuidora Plenty Products, baseada no Canadá.
“Somos a divisão que vai comandar, em todo o mundo, a Biofirst no quesito grandes cultivos”, afirma ao AgFeed o fundador da Biotrop, Antonio Carlos Zem, que na nova configuração passa a ser o presidente dessa divisão em nível global.
Também não muda, segundo ele, o orçamento e o planejamento feito, ainda antes de os belgas efetivamente pagarem os R$ 2,8 bilhões ao fundo Acqua Capital e assumirem efetivamente o controle da Biotrop, quase na virada do ano.
“Foi tudo aprovado por eles”, diz Zem. “Vamos chegar a R$ 930 milhões de faturamento, o que promove de novo um crescimento robusto, apesar das circunstâncias de mercado não estarem tão boas”.
Para atingir a meta, a agora divisão Biotrop terá de aumentar em mais de 50% os R$ 618 milhões apurados em 2023. Para Zem. É um resultado factível no mercado em que atua.
“O biológico recebe respingos da crise química, da queda de commodities e da queda de preço dos defensivos. Mas é respingo”, diz, sem deixar de registrar que, mesmo ambicioso, tal crescimento significará uma desaceleração ante os 65% a 70% obtidos em anos anteriores.
“No ano que está todo mundo retraindo, estamos indo pra frente. Não há motivo para ter medo. Temos que encontrar espaços. Novos cultivos, novos segmentos, novos produtos...”
O experiente executivo desfia um cardápio extenso de ações, algumas mais genéricas e outras mais detalhadas, para continuar avançando rápido. Os investimentos, para esse ano, devem ficar em R$ 30 milhões, com destaque para a nova planta para a produção de fungos.
Ele afirma que, com os problemas de rentabilidade mais concentrados em cultivos como soja e milho, há espaço para abrir mercados em outras lavouras.
“O agricultor está mais preocupado com custos, mas a agricultura continua rentável. Algodão, cana, sucos cítricos e mesmo o trigo continuam bem. Vamos atuar mais nessas culturas e vamos abrir novas culturas para a Biotrop”, diz.
Café e laranja, por exemplo, entrarão no alvo da empresa este ano. Além disso, ele pretende ampliar os esforços na venda direta a grandes grupos e produtores, além de cooperativas. Sem esquecer os distribuidores parceiros de primeira hora, a quem promete uma atenção especial nesse momento de dificuldade.
“Amor com amor se paga. Seremos agradecidos e solidários àqueles que nos abraçaram desde o princípio”, promete.
Entregar resultados é a estratégia de Zem para manter o maior nível de autonomia possível em seu trabalho na Biotrop. “Nosso entendimento é que vão nos dar independência de atuação. Se entregarmos o que propomos, vai continuar. Se não, vai encher de belga aqui”, brinca.
Ele comemora o fato de ter negociado a empresa com uma companhia que é “pura em biológicos”. “Foi uma bênção divina, porque se tivesse entrado aqui uma química ou de fertilizantes, provavelmente desconfiguraria nossa proposta”.
Na visão de Zem, o momento difícil da indpsutria química de defensivos agrícolas, por outro lado, fez com que o valor da própria Bitrop fosse um pouco reduzido na negociação com os belgas.
“Se o momento tivesse um pouco melhor, teríamos vendido por preço melhor”, afirma. O mesmo motivo, acredita, fará com transações com o mesmo porte demorem um pouco para voltar a acontecer.
Ele diz não ver, no horizonte, o que chamou de “novos M&As transformadores” no curto prazo, embora aquisições com cheques menores, como a recente compra da paranaense Notro 1000 pelo grupo israelense ICL, devam continuar acontecendo.
“Fomos o último grande evento dos próximos dois ou três anos”, completa.