Passado pouco menos de um mês desde que obteve na justiça uma tutela cautelar para suspender pagamentos a credores e da fixação de grãos junto a agricultores, a Belagrícola, empresa de distribuição de insumos e comercialização de insumos com sede em Londrina (PR), deu outro passo em sua estratégia de reestruturação financeira.

A companhia, controlada pelo grupo chinês Pengdu, contratou a Alvarez & Marsal, uma das mais conceituadas consultorias especializadas em processos de turnaround, para liderar a elaboração de um plano que leve à reestruturação do caixa, com a retomada da normalidade.

Os profissionais da Alvarez & Marsal já estão trabalhando junto à direção da Belagrícola em busca de um novo desenho financeiro e operacional para a a empresa, que tem 52 filiais para revendas de insumos e unidades de recebimento de grãos com capacidade estática de 1,5 milhão de toneladas para armazenamento de grãos em 58 silos, sendo 40 próprios.

A tutela engloba todas as empresas do grupo com sede em Londrina – além da rede de revendas, estão incluídas na decisão a Bela Sementes, que produz sementes de soja no Paraná e em Patos de Minas, no Triângulo Mineiro, e a DKBR Agro, trading que atua com a importação de defensivos pós-patente da China, comercializados no mercado B2B com distribuidores e grupos agrícolas no Brasil.

A proteção tem prazo até o dia 9 de dezembro. Enquanto o novo plano não é concluído, as equipes operacionais da companhia atuam em um esquema de emergência, montado para atender à grande demanda de produtores que buscam informações junto ao grupo.

Os profissionais foram divididos em dois times. Um, para cuidar da entrega de insumos adquiridos pelos produtores, que vivem o momento crítico do plantio da safra 2025/2026 nas regiões atendidas pela empresa.

Essas operações seguiram normalmente após a obtenção da cautelar, em um fluxo considerado positivo pelos executivos do grupo.

Outro time ficou incumbido justamente de conversar e orientar agricultores sobre a situação da empresa e o status dos negócios já fechados.

Segundo fontes ouvidas pelo AgFeed, a primeira repercussão do movimento da Belagrícola de buscar proteção na Justiça contra execuções foi de surpresa, mas com demonstrações de confianças tanto de clientes quanto de fornecedores.

Segundo o AgFeed informou em primeira mão no dia 16 de outubro, a opção de recorrer à tutela cautelar deveu-se à necessidade de recompor o caixa da empresa, que vinha sofrendo com o aumento de calotes e com o grande número de recuperações judiciais em sua base de clientes – a inadimplência somada dos últimos dois anos provocou um impacto negativo de R$ 1 bilhão nas contas a receber da empresa.

Ao fazer essa opção, a Belagrícola descartou, em um primeiro momento, recorrer a instrumentos mais duros, como a recuperação judicial ou extrajudicial. A própria contratação da Alvarez & Marsal seria uma demonstração nesse sentido.

O último balanço anual da Belagrícola, referente ao ano fiscal de 2024, mostrou queda de receita, que ficou em R$ 4,7 bilhões, resultando em prejuízo líquido superior a R$ 400 milhões.

Resumo

  • A Belagrícola, controlada pela chinesa Pengdu, contratou a Alvarez & Marsal para elaborar um plano de reestruturação financeira e operacional
  • A empresa obteve tutela cautelar para suspender pagamentos e recompor o caixa, impactado por R$ 1 bi em inadimplência de clientes
  • Com 52 filiais e 1,5 milhão t de capacidade de armazenagem, a companhia busca estabilizar operações e descarta recuperação judicial