O ano de 2020 marcou a virada de chave para a Beckhauser. Referência no setor de equipamentos para a pecuária, a companhia inaugurou, naquele ano, em Maringá (PR), sua primeira fábrica planejada. O temor da pandemia se transformou em euforia nas vendas e a meta de dobrar a produção em sete anos na nova unidade foi batida ainda no primeiro ano.

Paralelamente, a Beckhauser realizava a passagem de bastão entre gerações na gestão da empresa familiar. Com isso, admitem os irmãos Mariana e Tiago Beckheuser, a inovação que sempre pautou seu portfólio nos 55 anos de história (50 à época) foi deixada em segundo plano.

“A energia foi muito colocada na fábrica e a empresa não conseguiu se dedicar à inovação, que ficou um pouco para trás naquela época”, resumiu Tiago, em conversa com o AgFeed sobre o lançamento do BeckLab, o novo laboratório de pesquisa e desenvolvimento da empresa.

Com investimento de R$ 1,5 milhão, o centro de inovação da Beckhauser sai da sede da empresa e se muda para o parque e incubadora tecnológica MaringaTech, no mesmo município paranaense.

O acordo foi assinado na última sexta-feira, 3 de outubro, e o BeckLab, previsto para entrar em operação no primeiro semestre de 2026, será a primeira empresa-âncora do polo tecnológico paranaense.

O novo centro de pesquisas ocupará uma área de 600 metros quadrados, sendo 400 metros quadrados destinados aos protótipos de futuros modelos, quatro vezes mais que o disponível atualmente na sede da companhia.

“Precisávamos desconectar, tirar a área de criação e a engenharia precisava de espaço”, destacou Tiago. Mas o BeckLab foi pensado para ser além de um centro de novos projetos de futuros lançamentos da empresa. A ideia é fomentar startups, universidades, centros de pesquisas e os próprios pesquisadores a atuarem em um ambiente colaborativo.

“Vamos levar para o BeckLab todo o desenvolvimento de engenharia, prototipagem e outros dois ambientes para compartilhar com a incubadora. Teremos uma sala criativa para formar gente e trabalhar na nossa equipe, mesmo que sejam utilizados por outros atores”, explicou Mariana Beckheuser, CEO da companhia, também em entrevista ao AgFeed.

Ela lembra que a incubadora, nascida em 2000, ganhou em 2014 um espaço no barracão do Instituto Brasileiro do Café (IBC) de Maringá, imóvel dividido com o almoxarifado municipal.

Há dois anos, recebeu o status de parque tecnológico, o que fez crescer o número de startups, algumas delas ligadas ao agronegócio e à metalmecânica, onde a Beckhauser atua.

“Tínhamos a ideia de ter espaço próprio de inovação, que está no DNA da empresa. Mas a ideia era sair da inovação fechada para a aberta. Entramos como a primeira empresa âncora da incubadora, com um papel ampliado também de mentoria de negócios menores”, explicou a CEO da Beckhauser.

Ao lado da irmã, Tiago cita como exemplo, entre os projetos de parceria na pauta do BeckLab, servir de ponte para que projetos bons de startups do agronegócio cheguem de fato ao campo, pois a empresa, com mais de cinco décadas fornecendo equipamentos para a pecuária, tem contato direto com o produtor.

Indagados se o BeckLab, diante de tanta inovação e provocação no entorno, poderia ser o celeiro para a que a companhia pensasse “ainda mais fora da caixa, ou do curral” e passasse a produzir equipamentos para outros setores, os executivos foram diretos.

“Tem muita coisa para fazer fora do curral, com inteligência artificial, por exemplo. Tem muita coisa desenvolvida e que podemos ser os potencializadores”, disse Tiago.

“Primeiro horizonte ainda é foco no bovino, mas vamos abrir a porta para o futuro. A marca é maior que o negócio, tem espaços. Sem megalomania, claro, mas nada nos impede no futuro, que tenhamos outros caminhos nesse sentido”, completou Mariana.

De volta ao curral, ao mesmo tempo em que aposta na nova fronteira da inovação, a Beckhauser volta os olhos para quem responde por 70% da pecuária brasileira.

Em parceria com o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), a companhia desenvolveu a linha Primo, um modelo de sistema de contenção para o manejo de bovinos para os pequenos produtores. Os modelos estão em fase final de desenvolvimento e testes e devem entrar em breve no mercado.

Em 2025, a empresa deve chegar a um faturamento entre R$ 55 milhões a R$ 60 milhões, ante R$ 42 milhões em 2024. Se o ano passado foi marcado pela receita atípica - prejudicada por um incêndio na área de tratamento de metais que parou o fluxo produtivo da empresa - e 2025 será o de recuperação, em 2026 o BeckLab trará a Beckhauser de volta aos trilhos da inovação.

É o que apostam os irmãos Mariana e Tiago.

Resumo

  • Beckhauser investe R$ 1,5 milhão no BeckLab, que será instalado no parque tecnológico MaringaTech e ocupará 600 m² dedicados à inovação e prototipagem.
  • O centro funcionará como hub de inovação aberta, conectando startups, universidades e pesquisadores ao setor de pecuária e à engenharia da companhia
  •  Após receita impactada por incêndio em 2024, empresa projeta faturar até R$ 60 mi em 2025 e aposta no BeckLab para retomar a agenda de inovação.

Tiago Beckheuser