Os resultados recentes da austríaca Bauer representam uma exceção à regra do último ano. Enquanto o setor de máquinas agrícolas teve queda nas vendas, a fabricante de equipamentos de irrigação registrou um crescimento de 30% no mercado brasileiro na comparação com 2023.

O Brasil representa 35% do faturamento global da companhia, que ficou em 400 milhões de euros.

Na visão dos executivos da Bauer, uma combinação de diversos fatores que garantiram o resultado positivo no Brasil no ano em que o mercado de irrigação, segundo eles, teria recuado 30%.

Para Luiz Alberto Roque, um dos co-CEOs da Bauer América Latina, o diferencial começa por “uma gestão muito enxuta” e por uma facilidade de adaptação e proximidade do cliente, com trabalho intenso de pós-venda.

Outro destaque tem sido a tecnologia. A empresa adquiriu, em 2019, a Irricontrol, startup especializada em tecnologias de automação e conectividade para sistemas de irrigação, que vem trazendo novidades ao mercado.

Rodrigo Parada, o outro co-CEO da Bauer, também reforçou ao AgFeed que, “além da tecnologia que funciona”, tem contribído para o crescimento a expansão na rede de revendas. “Temos parceiros muito bons hoje, a gente trocou boa parte das revendas que a gente tinha”.

No primeiro trimestre de 2025 os executivos admitem que o mercado cresce, porém em ritmo menos intenso do que vinha sendo até agora. A Bauer projeta um avanço de 10% nas vendas este ano. Em 2024 a receita foi de cerca de R$ 600 milhões.

Parada lembra que “todo mundo precisa de trator para plantar” ou de uma colheitadeira, já o pivô de irrigação é o último investimento que se faz na fazenda.

Nesse cenário, é um segmento que tende a vender para produtores mais capitalizados

“O grande problema é assim, se você tem dinheiro no seu bolso, tem uma casa pra comprar, mas tem juros de 20% do mercado. Você fala assim, vou fazer isso esse ano ou espero um pouquinho, deixo guardado e faço ano que vem? É um pouco (como ocorre com) o produtor. Existe uma certa incerteza, o pessoal com o pé atrás”, descreveu Parada.

Luiz Roque diz que o apetite do produtor em adquirir equipamentos de irrigação não mudou, pelo retorno e aumento da produtividade, mas ele estaria postergando alguns projetos “realmente pela questão do crédito”.

Quantos aos recursos do Plano Safra, os executivos dizem que “não dá para contar com isso”. Afinal, segundo eles, logo após o anúncio, o dinheiro costuma acabar em dois dias.

Uma das saídas encontradas pela Bauer foi a oferta do barter, as tradicionais operações de troca, muito usadas na venda de insumos como adubos e defensivos.

“Somos os únicos que tem essa modalidade hoje, o cliente consegue trocar a soja pelo equipamento (de irrigação”, contou Roque.

As operações são feitas por meio de uma parceria com o Itaú BBA. Um fundo foi criado com o banco e 40% dos recursos já foram utilizados. A Bauer diz que o programa de barter contempla R$ 100 milhões.

Rodrigo Parada diz que a empresa já analisa a possibilidade de optar por ferramentas do mercado de capitais para aumentar a oferta alternativa de crédito no segundo semestre, mas evitou dar detalhes.

Tecnologia inédita

Durante a Agrishow, no final de abril, em Ribeirão Preto, a Bauer apresentou algumas novidades. Uma delas é o produto chamado Cosmofield by Finapp, um sensor de umidade do solo baseado na detecção de nêutrons cósmicos.

Segundo a empresa, trata-se de uma tecnologia reconhecida pela FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura) como uma ferramenta eficaz para aumentar a produtividade agrícola, com menor consumo de água.

Helton Franco, CMO da Irricontrol, explicou ao AgFeed como a tecnologia funciona. Medir a umidade do solo é uma das informações essenciais para que o produtor tome a decisão de acionar ou não o equipamento de irrigação, segundo ele.

O produto permite monitorar essa umidade, mas de uma forma que, segundo a empresa, será bem mais assertiva do que as opções disponíveis até hoje no mercado.

Os métodos tradicionais para mensurar a umidade do solo vão desde o trabalho manual de um técnico, até a instalação de sensores ou então o uso de informações de satélites.

Com as tecnologias vistas até então, Franco diz que “você instala um sensor em um ponto, mas você tem a medida só daquele ponto, por isso, a tecnologia de sensor de solo não foi tão adaptada para o Brasil”.

Nas áreas extensas da agricultura brasileira, era um desafio usar esse tipo de ferramenta. Outra opção é o uso de satélites, mas segundo o executivo, “a precisão é muito baixa”.

Ele conta que a Irricontrol conheceu uma empresa italiana, a Finapp, que usava “uma tecnologia inovadora e conseguia romper esses desafios”. “Você conseguia medir a umidade de solo não só de um ponto, mas de uma área maior, chegando até 10 hectares”.

A novidade, então, foi trazida para avaliação de especialistas em irrigação de universidades brasileiras e testada nas fazendas, para só depois lançar o produto no mercado.

“ É um equipamento que detecta a interação do nêutron que vem da atmosfera com a água, com a molécula de água que está no solo. É um princípio já utilizado hoje para a academia, para medir outros princípios. Era utilizado, por exemplo, até para medir radioatividade, e eles conseguiram mover o equipamento para que ele conseguisse identificar a molécula de água presente em materiais, seja solo, seja, ainda não disponível, na massa da planta”, explicou.

Os executivos da Bauer repetem que é algo “disruptivo” e que não existe “nada parecido” no Brasil. A tecnologia será oferecida com exclusividade pela Bauer em nível global.

Internacionalização

Outra novidade na companhia é que Roque e Parada, que antes eram “Bauer do Brasil”, agora são “Bauer América Latina”. E não é uma mudança apenas regional. A empresa austríaca está passando por um processo de “internacionalização”.

Segundo Parada, ao invés de trabalhar produtos específicos para cada país, agora houve uma junção do portfólio e a companhia começa a apresentar o conceito de “fazenda inteligente, onde não só fornece o produto, mas fornece toda a integração entre eles”.

Ele diz que o fato de ter crescido 10 vezes de tamanho no Brasil, nos últimos 4 anos, tem a ver com inserção de tecnologia, que agora será ofertada de forma global.

A direção de marketing global, que era na Áustria, agora passa a ser feita a partir do Brasil. O lançamento do novo produto para medir umidade do solo está sendo realizado, pela primeira vez, na Agrishow, mas para todos os países em que atua e não apenas aqui.

“No ano passado, houve essa nova função do Brasil devido à mudança de mindset que realmente a Bauer global decidiu ter e ser reconhecida como uma empresa de tecnologia. No Brasil a gente já tinha avançado muito em relação à Bauer de maneira muito mais tecnológica. Então, fez sentido para a matriz trazer isso, colocar uma roupagem mais internacional do trabalho que a gente já vinha fazendo há alguns anos e levar isso para outros países”, acrescentou Roque.

Em função disso, a expectativa é seguir recebendo mais investimentos em expansão de fábrica e melhoria de produtos.

Resumo

  • Bauer, que cresceu 30% no País em 2024, lança sensor inédito de umidade do solo, baseado em nêutrons cósmicos, com maior precisão e cobertura que os métodos tradicionais
  • Empresa adotou o modelo de barter (troca por soja) com apoio do Itaú BBA para facilitar o acesso dos produtores a equipamentos de irrigação
  • A unidade brasileira passou a liderar a estratégia para a América Latina