Em uma primeira leitura dos números, a Rumo, empresa de logística do grupo Cosan, teve um desempenho bem melhor no segundo trimestre deste ano em comparação com o ano passado.
De fato, a companhia transportou maior quantidade de produtos e faturou mais no período. Mas aos investidores ficaram frustrados com os números apresentados no balanço trimestral anunciado na noite da quinta feira, 7 de agosto, a julgar pelo desempemnho das ações da companhia na manhã seguinte (por volta das 13h da sexta-feira elas caíam mais de 7%).
Isso porque a comparação anual fica distorcida, já que o resultado do ano passado foi fortemente afetado pelas enchentes de maio, que devastaram parte do Rio Grande do Sul e comprometeram a rede ferroviária da Malha Sul, sob concessão da companhia.
Entre abril e junho deste ano, a Rumo teve um lucro líquido de R$ 329 milhões entre abril e junho, ante um prejuízo de R$ 1,7 bilhão registrado no mesmo período do ano passado.
Mas, considerando o resultado já ajustado após uma provisão de R$ 2,57 bilhões para cobrir impairment (termo em inglês que significa baixa contábil por perda de ativos), relacionado às perdas na Malha Sul, o lucro líquido ajustado do segundo trimestre deste ano foi de R$ 731 milhões, alta de apenas 1,4% em relação ao mesmo período de 2024.
O Ebtida do segundo trimestre ficou em R$ 1,88 bilhão, também revertendo um resultado negativo de R$ 264 milhões visto há um ano.
A receita operacional líquida, por sua vez, atingiu R$ 3,71 bilhões, alta de 3,8% em relação ao mesmo período de 2024.
Houve uma alta de 4% no volume transportado pela companhia no segundo trimestre deste ano, ficando em 21,8 bilhões de toneladas por quilômetro útil (TKU).
A Operação Norte registrou uma alta de 8% nos volume de transporte, chegando a 17,9 bilhões de TKUs, com destaque para as 10,8 bilhões de TKUs de soja transportada, alta de 9% na comparação anual. Houve crescimento também de 14,3% no volume transportado de açúcar, que foi de 614 milhões de TKUs.
Em contrapartida, houve uma queda de 65,1% no transporte de milho transportado (49 milhões de TKU), de 31,9% no volume transportado de fertilizantes (1,2 bilhão de TKUs) e 12,3% no de farelo de soja (2,6 bilhões de TKUs).
A companhia destacou que, no caso dos fertilizantes, a queda no volume refletiu a retomada tardia do consumo no período pós-entressafra, além de uma demanda menor pela solução logística da Rumo.
Já os transportes da Operação Sul recuaram 11%, com 2,9 bilhões de TKUs, ainda afetada pelos prejuízos causados pela enchente do Rio Grande do Sul, com destaque para a queda de 20,7% no volume transportado de soja, que foi de 1,4 bilhão de TKUs.
Apesar da queda, a Rumo informou que houve uma "recuperação progressiva" dos volumes transportados ao longo do trimestre.
Os investimentos no período somaram R$ 1,395 bilhão, em linha com o que já havia sido previsto, representando uma alta de 18,6% em relação ao mesmo período de 2024.
Já a alavancagem da companhia aumentou 11,1% em relação ao trimestre imediatamente anterior, passando de 1,6x para 1,8x,
O endividamento líquido da companhia também cresceu, passando a R$ 14,2 bilhões, alta de 12,9% em relação ao primeiro trimestre deste ano, em função da redução do caixa da companhia. Já os custos fixos e as despesas comerciais, gerais e administrativas apresentaram redução de 3% no segundo trimestre deste ano.
O que pensam os analistas
Os resultados não animaram muito o banco BTG Pactual. Em relatório assinado por Lucas Marquiori, Fernanda Recchia e Samuel Alkmim, a instituição informou que não gostou especialmente dos preços mais baixos – a tarifa consolidada caiu 2,4% –, que levaram a uma pequena frustração na receita líquida apresentada pela Rumo, que ficou 4% abaixo da expectativa da instituição.
O Ebtida apresentado pela companhia foi apenas "razoável", segundo o BTG. O banco destacou ainda que o capex acelerou e que a alavancagem aumentou devido ao pagamento de dividendos extraordinários.
“O yield médio caiu 2% ano contra ano (Norte, -2%; Sul, -10%), refletindo uma composição de cargas menos favorável, com maior participação de produtos de menor tarifa e preços mais baixos de grãos”, também observou a instituição.
Daqui em diante, o BTG acredita que o mercado vai focar em quatro pontos para analisar o desempenho da Rumo na metade final do ano: (1) evolução dos yields no segundo semestre; (2) o andamento da safra de milho e comercialização da soja; (3) a gestão do capex; e (4) atualizações regulatórias das Malhas Oeste e Sul.
O banco conclui que, embora continue vendo a Rumo como o "melhor operador logístico de grãos do país", vê a situação de curto prazo da companhia "sob alguma pressão", especialmente pelo desempenho mais fraco dos yields, pela alta no capex e pelo ruído regulatório. Ainda assim, mantém recomendação de compra para a ação e preço-alvo de R$ 25.
Na XP Investimentos, os resultados foram recebidos de forma mista. Se, por um lado, o desempenho dos custos, com recuo de 1% nas despesas fixas na comparação anual, foi o principal destaque positivo, por outro lado os yields "decepcionaram" a casa, especialmente na operação de grãos da malha Norte, que recuaram 2% ante expectativa de alta de 3%.
A XP avaliou ainda que o capex da companhia parece voltar ao ritmo esperado após o número elevado do primeiro trimestre de 2025 – quando havia registrado capex de R$ 1,780 bilhão. "O capex anualizado do 1S25 agora está dentro da faixa de guidance da Rumo para 2025, entre R$ 5,8 e R$ 6,5 bilhões", diz a casa.
Apesar de reiterar visão "positiva" para a Rumo, a XP reduziu suas estimativas de yield da companhia para 2025 (-6%) para refletir o novo padrão competitivo e agora estima que o Ebtida da companhia seja de R$8,3 bilhões em 2025, resultado 3% menor que a estimativa anterior. A gestora também introduziu preço-alvo para o final de 2026 de R$ 27 para ação, substituindo o preço-alvo para o final de 2025, de R$ 28.
Resumo
- Rumo teve lucro líquido de R$ 329 milhões no segundo trimestre, revertendo prejuízo de R$ 1,7 bilhão um ano antes, mas avanço de apenas 1,4% considerando resultado ajustado
- Volume transportado cresceu 4%, com alta na soja e no açúcar e quedas expressivas em milho, fertilizantes e farelo de soja
- Analistas apontam pressão de curto prazo por yields mais fracos, capex elevado e ruídos regulatórios, mas mantêm recomendação para as ações