O segundo trimestre de 2025 foi uma verdadeira epopeia na rede de revendas de insumos agrícolas AgroGalaxy. Entre abril e junho deste ano, a empresa teve seu plano de recuperação judicial aprovado pelos credores, conseguiu a homologação do mesmo junto da justiça goiana e iniciou sua nova fase repaginando as lojas com as antigas marcas que deram origem à rede.
Tudo isso em meio a um período sazonalmente fraco para as vendas desse mercado, mas estratégico em preparar terreno para o segundo semestre.
Esse turbilhão de agendas fez com que a AgroGalaxy adiasse por duas vezes a divulgação de seu balanço do período, que foi conhecido pelo mercado somente nesta sexta-feira, dia 24 de outubro, ao ser arquivado na Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
Em conversa com jornalistas para apresentar os números, Eron Martins, CEO da companhia, mostrou que esse turbilhão ainda continua, com uma verdadeira faca de dois gumes regendo a operação.
De um lado, uma animação com o andamento das metas da RJ, redução de despesas e uma confiança nas entregas. Do outro, um trimestre prejudicado operacionalmente pelo andamento da recuperação judicial e números em queda nas principais linhas do balanço.
“O segundo trimestre serve para carimbar o passaporte do ano. E em 2025, aconteceu num momento de toda aprovação e homologação da RJ. Os números são menores porque diminuímos de tamanho”, disse o executivo.
A AgroGalaxy encerrou o período com uma receita líquida de R$ 251 milhões, número 76% menor em um ano. Desse total, R$ 114 milhões vieram de insumos e R$ 137 milhões de grãos.
“Esse trimestre é o mais pobre de faturamento, isso historicamente e em todo agro. O produtor já terminou a safra, já tem a safrinha plantada e em produção, então, a utilização de insumos é pequena. É o trimestre de encarteiramento”, disse.
Ao final de junho, a carteira de pedidos da AgroGalaxy somava R$ 325 milhões. Nos cálculos de Martins, a empresa no ano passado tinha uma carteira de cerca de R$ 600 milhões, mas deixou claro que se tratava de “uma empresa que tinha o dobro do tamanho da atual”.
O CEO ainda comentou que o movimento de encarteiramento acelerou entre o final de maio e o início de junho, justamente no momento em que a empresa divulgou sua homologação da RJ.
O andamento desses pedidos se acelerou no terceiro trimestre, período que vai de julho a setembro. Segundo Martins, cerca de um terço desses pedidos já foi faturado e entregue aos clientes nos primeiros 40 dias.
O movimento tem duas justificativas: escapar da janela logística, já que novamente os produtores têm deixado para comprar insumos na última hora, como também mostrar que a empresa vai honrar com seus compromissos.
“O maior desafio para alguém que passa pelo que passamos é a recuperação da confiança, e isso só funciona de um jeito: cumprir o combinado e antecipando as entregas. Entregamos o quanto antes para mostrar que voltamos pro jogo cumprindo os combinados, vendendo e entregando”, disse Eron Martins.
Além disso, a carteira de pedidos soma uma menor participação das lojas do Mato Grosso por que, segundo Martins, é a região que faz as compras da cesta de insumos antes de outros estados. “Em contrapartida, o Cerrado fora do Mato Grosso performou bem na nossa carteira. Aproveitamos boas oportunidades em Goiás, Maranhão, Tocantins e Pará”, disse.
Nessa jornada comercial, ainda percebeu que a região do Vale do Araguaia, localizada no leste mato-grossense, é a que mais tem sofrido com o desafio do crédito escasso. “É uma região que sofre com seca e instabilidade climática, além de um nível de endividamento maior do produtor”.
Em relação à queda no faturamento, Luiz Conrado, CFO da Agrogalaxy, cita que para além das atenções voltadas para o processo de RJ, a empresa, que já teve mais de 140 lojas, hoje opera numa faixa próxima a 60 unidades.
Esse enxugamento é visto por uma redução de 53% no SG&A, sigla que corresponde às despesas gerais, de venda e administrativas.
“Demoramos para entrar no mercado da safrinha pois gastamos muito tempo na renegociação do plano”, comentou.
Dentro da receita com insumos, a empresa iniciou uma estratégia de focar em produtos de maior valor agregado. De um ano para cá, a participação da venda de defensivos saiu de 35% para quase 55% do mix de vendas. As especialidades somaram 18% do total e quem perdeu espaço foram os fertilizantes, que saíram de uma participação de 44% para 26%.
Com a RJ homologada, a empresa viu suas “obrigações líquidas” reduzirem na dívida. Na comparação com o primeiro trimestre deste ano, essas obrigações caíram de R$ 4,2 bilhões para R$ 1,6 bilhão.
Como explicou o CFO, Luiz Conrado Sundfeld, as dívidas eram integralmente de curto prazo. Agora se encontram 87% no longo prazo, conforme o rito aprovado durante o processo de aprovação da RJ.
“Parte dessas dívidas repactuadas e reformuladas no plano serão aperfeiçoadas em emissões de debêntures. Ainda teremos uma parcela de dívida que será convertida em ações”, citou o diretor.
Ao final de junho, a inadimplência da empresa, que leva em consideração tudo que a AgroGalaxy tinha a receber desde o início do ano, estava em 5,4%, uma redução de 14 pontos percentuais de um indicador que beirava os 20%.
“A nossa performance de cobrança foi positiva, buscávamos esse dígito lá para setembro ou outubro, projetando que o produtor utilizasse o recurso da safrinha para cobrir o que não pagou na primeira safra. Mas vimos que esse produtor ficou ‘menos sentado em cima da soja’ e comercializou para se livrar das pendências”, disse.
Mesmo com o agricultor ainda esperando para comprar seus insumos até o último segundo possível, Eron Martins cita que a carteira de pedidos dá tranquilidade para atingir a meta de R$ 1 bilhão de faturamento com insumos até o final do ano.
Apesar disso, esse movimento de “repique” pode ajudar as revendas que souberem trabalhar com um patamar saudável de estoque, já que ganham mais poder de barganha e conseguem margens melhores na hora da venda.
Hoje, a empresa roda com um nível de estoque de 15% a 20%. Antes de todo o processo da recuperação judicial, a companhia trabalhava com um nível acima de 30%.
Resumo
- Receita líquida da Agrogalaxy somou R$ 251 milhões no segundo trimestre, queda de 76% em um ano, reflexo da reestruturação
- Empresa considerou positivos os números da carteira de pedidos, , com R$ 325 milhões, e espera fechar 2025 com R$ 1 bilhão em faturamento de insumos
- Homologação da RJ reduziu a dívida de R$ 4,2 bilhões para R$ 1,6 bilhão, alongando 87% das obrigações para o longo prazo