Ainda bastante longe de dias melhores, a AgroGalaxy começa a dar os primeiros passos rumo a balanços no azul. Nos resultados referentes ao terceiro trimestre deste ano, o primeiro após a homologação da recuperação judicial, a companhia ainda apresenta uma operação no vermelho, mas com alguns sinais positivos.
No terceiro trimestre de 2025, período de julho a setembro, a rede de revendas do Aqua Capital somou uma receita líquida de R$ 417,8 milhões, um número 65,7% menor do que no ano anterior, em uma época em que a empresa era, segundo a própria, o “dobro do tamanho da atual”.
Desse faturamento, R$ 247,2 milhões vieram da operação com insumos e R$ 170,6 milhões, da operação com grãos. A empresa conseguiu ainda apresentar um lucro bruto de R$ 2,5 milhões, revertendo o prejuízo bruto de R$ 160 milhões de um ano antes.
Apesar disso, o resultado líquido final ainda continua no vermelho, com prejuízo líquido de R$ 611 milhões, 61,2% menor do que no ano anterior.
Eron Martins, CEO da empresa, ressaltou em conversas com jornalistas que a figura do terceiro trimestre é muito parecida com a do segundo trimestre: uma empresa de um tamanho muito menor seguindo os passos para cumprir à risca as metas do plano de RJ. Ao mesmo tempo, encarando uma operação ainda em ajuste.
Na operação, a margem bruta de insumos alcançou 7%, revertendo uma margem negativa em quase 20% no ano anterior. A margem com grãos continuou negativa e foi de -8,6%.
Nos insumos, a empresa ressaltou que o mix de vendas contou com 13% de produtos de especialidades, foco da operação para garantir mais rentabilidade.
A Agrogalaxy encerrou setembro com uma carteira de pedidos de R$ 231 milhões, o que, segundo Eron Martins, é um “seguro garantia” para o faturamento do ano completo da empresa.
Da receita atual, Martins citou que 62% dos negócios foram feitos via barter. “O número anterior era em torno de 49%, e nós optamos por privilegiar o barter como ferramenta porque negociamos margem e não preço e, historicamente, receber grãos traz melhores índices de inadimplência”, disse.
O CEO informou que grande parte do faturamento veio da carteira de pedidos de R$ 325 milhões, que havia sido sinalizada no balanço do segundo trimestre, divulgado há poucas semanas.
Agora, a companhia conta com uma carteira de R$ 231 milhões. Martins cita que a carteira divulgada no segundo trimestre era composta principalmente por fertilizantes e sementes e a nova carteira já conta com defensivos e até compras para a safrinha de milho.
Luiz Conrado Sundfeld, CFO da AgroGalaxy, cita que as quedas nos indicadores são naturais, dada a redução do tamanho do parque de lojas em mais de 50% de um ano para cá. “Esse trimestre tivemos um faturamento em linha com a nossa projeção quando olhamos o plano apresentado na RJ”, afirmou.
A margem de lucro bruto, que atingiu 7%, ainda é comprimida em sua visão, já que a margem prevista no plano de recuperação judicial ronda os 12%.
A margem com insumos, segundo o CFO, conta com um componente de escoamento de estoques antigos. Ele destacou, sem detalhes, que a margem de produtos novos é extremamente positiva.
A AgroGalaxy ainda reduziu, de um ano para cá, suas despesas operacionais, de R$ 124 milhões para R$ 56 milhões.
Mesmo atingindo o patamar esperado para as despesas fixas previsto para 2026, a empresa sinalizou no balanço que continuará “buscando sinergias” em seus custos fixos para uma economia adicional de até R$ 4 milhões por mês no início do próximo ano.
Outro indicador que mostra melhora é o da curva da inadimplência. A companhia informou que, em relação aos vencimentos de 2025, sem contar de outros anos, os calotes estão em 5,9%. No ano passado, levando em consideração os vencimentos de 2024, era de 19%.
“É natural que o produtor arraste o vencimento por algum período, mas comparativamente com ano passado, implementamos novos processos de cobrança e uma nova gestão de crédito. Claro, o vento também soprou a favor do produtor, com melhores condições”, disse.
A foto da safra
Eron Martins fez questão de ilustrar o mercado que a AgroGalaxy está inserida nesse primeiro trimestre já com a RJ em vigor. Utilizando dados da consultoria Agrinvest, o executivo mencionou que ainda há um grande mercado aberto para vendas de defensivos para sojicultores.
“O produtor está trabalhando com repique, comprando o que falta para o manejo direto na loja. Isso contribui com a margem, mas traz complexidade logística de levar os produtos corretos na hora certa”, disse.
Martins ressaltou uma janela de chuvas positiva no Sul do País, mas ainda incerta em regiões no Cerrado, em especial no Vale do Araguaia, no Mato Grosso, e em Goiás. “O produtor ainda espera a consolidação do regime de chuvas para concluir o plantio. Houve um atraso na janela nessas regiões, o que faz o produtor demorar a entender o tamanho da safrinha e o quanto vai investir”, disse.
Ao mesmo tempo que a primeira safra ainda não está concluída, a safrinha já se põe no horizonte. O CEO vê que a empresa “arranca” com uma boa carteira para o quarto trimestre, mas ainda depende do quanto consegue participar deste “repique”.
“Estamos competitivos nos preços, mas o produtor no Cerrado de Goiás e Vale do Araguaia está esperando a chuva que vem. Existia um ponto de interrogação e a chuva veio, mas ainda não é uniforme, com o produtor deixando tudo para o último minuto”, acrescentou.
Segundo ele, antes dessa chuva inicial, ele projetava uma safrinha menor para a região. Agora, a perspectiva é mais otimista.
Resumo
- AgroGalaxy reduz prejuízo em 61% para R$ 611 mi, com margem de insumos voltando ao positivo (7%) após RJ
- Receita encolhe 65,7% para R$ 417,8 mi; 62% das vendas via barter elevam margem e reduzem inadimplência, agora em 5,9%
- Custos e despesas recuam, carteira chega a R$ 231 mi, e empresa aposta no “repique” de compras e nas chuvas para um 4º tri mais forte