O Estado americano da Flórida foi, por muito tempo, o principal concorrente dos produtores brasileiros de laranjas. Nos últimos anos, porém, a citricultura encolheu drasticamente por lá, devastada pelos efeitos do greening, uma doença sem cura que ataca pomares de frutas cítricas, provocando imensas perdas na produção.
Estima-se em US$ 1 bilhão por ano, por exemplo, os prejuízos causados, apenas na Flórida, pelo greening, que agora começa a se alastrar pelas principais regiões produtoras no Brasil.
A infestação, segundo o Fundecitrus, já atinge mais de 43% das cerca de 200 milhões de árvores dos pomares brasileiros. Deles saem os frutos que movimentam uma economia de cerca de US$ 2 bilhões e fazem do País o maior exportador de suco de laranja do mundo.
Já de acordo com um estudo do Grupo de Consultores em Citrus (Gconci) e da consultoria Agriplanning, se não houver controle, em dez anos a citricultura brasileira pode perder até 25% de sua produção. Na Flórida, a redução chegou a 80%.
É também da Flórida, porém, que vem uma das mais auspiciosas notícia de um controle eficiente da bactéria Candidatus Liberibacter asiaticus, que provoca a doença e é transmitida pelo inseto psilídeo.
O Departamento de Agricultura e Serviços Comunitários do estado americano aprovou, pela primeira vez, o registro de um métido para tratamento contra o greening, após constatar, em testes, os bons resultados em devolver a saúde aos laranjais.
A façanha foi obtida pela Invaio, companhia especializada no desenvolvimento de bioplataformas para proteção de cultivos, com sede no estado de Massachusetts – e que há três anos está também no Brasil.
Desenvolvida pela empresa, a solução Citrus Health conseguiu suprimir as bactérias presentes nas árvores infectadas. Mais que isso, promoveu um aumento de até 30% em sua produtividade.
O trunfo do tratamento é a plataforma de aplicação do pesticida – no caso um bioativo desenvolvido com uma empresa parceira. Registrada com a marca Trecise, a plataforma permite o uso de quantidades bem menores de defensivo do que em tratamentos convencionais, que exigem grandes volumes e nem sempre são eficientes.
Normalmente, os antibacterianos são pulverizados ou “injetados” nos pés de laranja através de grandes buracos feitos em seus troncos. Depositadas até a saturação, as soluções são, então, absorvidas lentamente pela árvore.
Esse método é inviável, porém, em árvores jovens, com troncos mais finos, o que impede a eliminação da doença nos pomares.
O dispositivo aplicador da Invaio, porém, usa um orifício do tamanho do carregador de um telefone celular, introduzindo o pesticida diretamente no tecido da árvore.
“Podemos começar a tratar as árvores cerca de dois meses depois de sair da estufa”, diz Dave Gerrard, chefe de negócios comerciais da Invaio, ao site americano Modern Farmer.
Ao concentrar os ingredientes ativos no sistema vascular da planta, a dose utilizada pode ser bem menor. “Estamos reduzindo a dose de um método de perfuração tradicional cerca de cinco a oito vezes.”
A plataforma Trecise também permite ao citricultor fazer aplicações sucessivas numa árvore sem ter de fazer um novo furo de cada vez.
A Invaio pesquisa o uso do mesmo método para diferentes abordagens no tratamento. Segundo Gerrard, a empresa espera no futuro utilizá-lo para a aplicação de inseticidas biológicos e convencionais.
“Eventualmente testaremos terapias de RNA”, diz Gerrard. “Se conseguirmos que essa plataforma de injeção seja uma prática estabelecida pelos agricultores, então podemos começar a empilhar coisas lá e mudar a forma como o pomar é gerido”.
A solução já começou a ser comercializada em escala comercial na Flórida. Nesse caso, a Invaio não vende apenas o bioativo e o aplicador, mas todo o serviço de aplicação nos pomares.
A empresa também trabalha para trazer o sistema para testes e posterior registro no Brasil, segundo confirmou Avram Slovic, diretor comercial para a América do Sul, ao AgFeed. “Atualmente, a Invaio testa outros produtos junto a grandes produtores brasileiros”, diz Slovic. “A infestação da doença vem avançando muito rápido no Brasil e vemos todos muito alarmados”.
Fundada pela Flagship Pioneering, cujo ecossistema reúne mais de 45 empresas com tecnologia de ponta em biociências, como a fabricante de vacinas Moderna, a Invaio tem investido na pesquisa de novas abordagens para grandes problemas sanitários da agricultura, em diversas culturas.