Depois de anos de crescimento acelerado, o setor de insumos biológicos tem mostrado que não é imune aos ciclos de baixa do agronegócio. Alguns fabricantes têm mostrado, inclusive em balanços, que o momento é de ritmo mais lento e, em alguns casos, até de redução nas vendas.

Mesmo nesse contexto, empreendedores continuam surgindo no mercado. A Biosphera é um exemplo. Fundada em 2020 por profissionais que já atuavam no setor, a empresa acredita que ainda há um grande potencial a ser explorado no Brasil. Uma crença acompanhada de investimentos.

Segundo Cezar Kersting, sócio e diretor comercial da Biosphera, a companhia começou como uma espécie de revendedora, começou a trabalhar para ter produtos registrados junto ao Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), para então fabricar seus produtos.

“Começamos com uma planta pequena, que chamamos de planta laboratório. Hoje, nossa capacidade produtiva é de 2 milhões de litros de insumos e temos 40 produtos registrados”, conta Kersting.

Sediada em Londrina, no norte do Paraná, a Biosphera planeja aumentar em 50% a capacidade de sua planta em 2025, chegando a 3 milhões de litros.

Enquanto isso, está em fase inicial a construção de uma nova unidade de fabricação de biológicos, em uma cidade vizinha, que vai adicionar mais 4 milhões de litros à capacidade da companhia.

“Estamos ainda em fase de conseguir as licenças necessárias para iniciar a construção. O orçamento inicial de investimento nessa nova unidade fica entre R$ 65 milhões e R$ 70 milhões”, conta o sócio da Biosphera.

A projeção de Kersting é de que a nova unidade esteja em pleno funcionamento para a safra 2027/2028, mas ela pode começar a funcionar parcialmente antes desse período, a depender dos trâmites burocráticos.

O tamanho do investimento pode ser medido pelo nível de faturamento da Biosphera. Na safra 2022/2023, a empresa teve R$ 65 milhões em receitas. A projeção para a safra 2023/2024 é chegar a R$ 80 milhões, o que indicaria um crescimento na casa de 18% em um ano complexo para o setor.

“Nós tínhamos um planejamento de cinco anos e conseguimos adiantar em um ano o faturamento que estava no plano de negócios”, revela Kersting.

Durante a conversa com o AgFeed, o diretor da Biosphera ressaltou dois pontos centrais para a estratégia da companhia: a visão de longo prazo para o mercado de biológicos e a formação de profissionais para atender os produtores rurais.

“A grande questão do mercado foi que se criou um clima de ‘oba-oba’. Muitos produtores entraram na onda da novidade e os fabricantes só queriam vender os produtos. No primeiro momento de baixa nas cotações dos grãos, os produtores colocaram o pé no freio, também porque muitos não tiveram os resultados prometidos”, avalia o executivo.

Ele acredita que o caminho para ter consistência de resultados no longo prazo é formar profissionais qualificados para estarem próximos ao produtor para buscar a solução que ele realmente necessita.

“Nós formamos a Academia Biosphera, que é voltada para jovens recém-formados ou na fase final de graduação, com o objetivo de formar consultores que realmente saibam o manejo correto de biológicos, dependendo do solo e da cultura”. Kersting inclusive utiliza sua experiência como professor universitário no projeto.

A capacitação dos profissionais tem como objetivo ajudar a mudar a forma como os produtores rurais pensam o combate de pragas e doenças.

“Nós não fabricamos “cidas”, como inseticidas, fungicidas. Nós temos produtos que trazem um equilíbrio para lavoura, que resulte em um perfil biológico mais saudável do solo e das plantas”, explica.

Ele dá o exemplo de uma lagarta que ataca plantações de milho. “Na abordagem tradicional, a pulverização vai derrubando as lagartas quase automaticamente. No caso do nosso manejo, as lagartas não somem”, conta.

“Mas os agentes biológicos que implementamos a deixam doente, ela para de comer as plantas. E quando ela morre, ficam resíduos que servem de alimentos para esses microbiológicos, que vão se multiplicando e deixando o ambiente cada vez melhor para as plantas”.

Ele afirma que o resultado prático desse tipo de manejo é o aumento nos intervalos de aplicação dos defensivos. “O produtor acaba economizando. E não há também o objetivo de substituir as outras categorias de insumos. É um complemento que tem resultado em longo prazo”.

O executivo sempre ressalta a questão do manejo, já que a Biosphera se propõe a não só vender os produtos, mas também a ser uma prestadora de serviços. “É assim que vamos conseguir manter uma relação duradoura com os produtores”.

Sobre o potencial do mercado, Kersting lembra que os biológicos estão presentes em pouco mais de 30% da área plantada no Brasil. E a qualidade de informações para o produtor é considerada por ele como um elemento-chave para elevar essa participação.

“Nós temos a realidade da dupla safra em muitas áreas. Mas ainda existe uma dificuldade de ‘encaixar’ a produção de soja com milho de inverno, por exemplo. É possível manejar a terra durante o ciclo da soja para evitar pragas logo no começo do plantio de milho e vice-versa”, completa o executivo.