A tempestade perfeita que abalou o setor de distribuição de insumos durante a safra 2022/23 foi atípica e não veio para ficar. Apesar disso, seus efeitos ainda são sentidos e devem permanecer por mais algum tempo, principalmente para empresas ligadas ao segmento.

É com esse cenário em mente que o CEO do Grupo Sinagro, Renato Guimarães, baliza suas decisões. No comando de uma das maiores empresas do segmento no País, ele colocou em modo pause o plano de expansão previsto para o próximo ano, revertendo um movimento que vinha sendo a marca da companhia nas últimas temporadas.

No ano passado, por exemplo, a empresa abriu 30 novas lojas – fechou o ano de 2022 com 62 unidades. Para 2023, a companhia inaugurará apenas as oito lojas que já estavam no planejamento desde o ano anterior. E em 2024, a tendência é de que o número fique estável.

“Não é uma decisão 100% fechada, mas avaliamos trabalhar com a estabilização das lojas e postergar o plano de crescimento”, afirmou Guimarães ao AgFeed.

Sinagro tem respaldo de sócios poderosos. Criada em 2001 por um grupo de empresários de Primavera do Leste (MT), hoje ela tem em seu quadro acionário dois nomes de peso no agro e uma grife do setor de investimentos: Bunge (33,33%) UPL (38,96%) e Global Capital Fund (26,71%).

Ainda assim, Guimarães adota uma posição de cautela. Para ele, o momento do setor de distribuição passa por uma negociação de estoques, já considerando que o primeiro semestre deste ano trouxe uma rentabilidade menor aos produtores.

“Temos uma relação razoável em termos de rentabilidade para o produtor, já que os custos e os preços dos insumos caíram, o que causa um ‘equilíbrio’ na safra 2023/24”, avalia. “O problema é a herança ruim, que causa uma tensão e torna os resultados contábeis de 2023 mais desafiadores, tanto para a indústria quanto para a distribuição”, afirmou.

Dentro de casa, o Grupo Sinagro olha para a eficiência operacional como forma de mitigar o cenário externo, de forma a melhorar a gestão e o planejamento. O desafio, segundo o executivo, é eliminar os chamados estoques de passagem do ano e da safra, ainda mais custosos com as taxas de juros no País acima de dois dígitos.

Guimarães afirmou que a empresa tem uma preocupação enorme com o caixa, e destacou que vê a saúde financeira do grupo melhor do que a média do mercado.

Ele atribui esse cenário às operações de barter feitas pela Sinagro, que diminuem problemas com cobranças. “Aconselho todo produtor a travar custos em barter e especular com o lucro, não com o custo”, diz.

Por ter sido criada por empresários do setor, a Sinagro tem uma relação próxima com os agricultores. Os fundadores viram, no início dos anos 2000, uma oportunidade de se estabelecer no segmento de distribuição de insumos, principalmente no sul do Mato Grosso e, posteriormente, no Vale do Araguaia, regiões que tinham uma deficiência nesse ramo.

O grupo foi crescendo, e dez anos depois da fundação, já era um dos maiores distribuidores do país. “A empresa aproveitou um bom momento do agro com a safrinha crescendo e a necessidade de armazéns aumentando”, comenta o CEO.

Sócios poderosos

Para escalar o processo, a empresa precisou de mais mãos no negócio. Foi então que, entre 2014 e 2015, a gigante global de insumos UPL tornou-se sócia do grupo.

Em 2017 houve uma segunda captação, que culminou na entrada do fundo Global Capital Fund. Foi nessa época que Guimarães entrou no time, para estruturar essa transformação.

“Saímos de uma empresa de 12 lojas que faturava R$ 375 milhões, para um grupo que, na área de insumos, conta com 70 lojas espalhadas em 10 estados e faturou R$ 3 bilhões no ano passado”, afirma o CEO.

O executivo atua há quase 40 anos no agronegócio, com grande parte desse tempo sendo diretor de uma unidade de negócios na Syngenta. A formação em agronomia nos anos 1980 destoou do restante da família - o pai e os irmãos são dentistas.

Renato Guimarães, CEO do Grupo Sinagro

Depois da Syngenta, virou consultor de empresas e ajudou companhias do exterior a instalarem operações no Brasil, além de, junto a outros sócios, comprar uma fazenda e virar produtor de café no sul de Minas Gerais. Dois anos atrás, adquiriu uma área em Goiás onde planta soja. No dia a dia, contudo, olha o negócio mais à distância. “Sou mais investidor do que produtor”, diz.

No período sob o comando de Guimarães, a Sinagro também montou seu negócio de originação de grãos, que de acordo com o executivo, possui uma capacidade estática de 270 mil toneladas em quatro armazéns.

Segundo ele, essa estrutura ajuda as operações na área de insumos e todas as operações de barter da Sinagro são feitas pela trading do próprio grupo.

Setor em consolidação

Com a desaceleração do setor de distribuição, o CEO da Sinagro vê um hiato nas fusões e aquisições que marcaram o segmento nos últimos anos.

Liderado pelo surgimento de marcas como AgroGalaxy e Lavoro, criadas por grandes fundos de private equity, e pela participação maior de capital estrangeiro no segmento, o mercado passa por um processo de consolidação. Nos cálculos do executivo, 10 plataformas concentram 30% dos negócios do setor.

Sua expectativa, antes da crise que envolve o segmento, era que nos próximos três ou quatro anos essas mesmas plataformas representariam 60% do mercado. Agora, acredita que esse percentual seja atingido apenas em cinco ou seis anos.

“Provavelmente entre 2023 e 2024 teremos pouquíssimos movimentos de consolidação, pois o caixa do setor está apertado”, opina.

Essa consolidação continuará se dando, em sua visão, por fundos, tradings e grandes players da indústria, que enxergam uma verticalização na cadeia. Dentro da Sinagro, esses três universos se complementam, o que tira a empresa da mira de outros players.

“Temos um sócio da área de insumos, um originador de grãos e um fundo, os três com objetivos e ajudas diferentes. Continuamos com nosso plano de crescimento, que sempre foi orgânico através de abertura de lojas”, afirmou Renato Guimarães. Mas apenas quando o céu voltar a ficar azul para o setor.