O cenário é conhecido. Crédito escasso, juros altos e uma pressão por preços mais baixos nos insumos feita pelos agricultores, que devem ver uma margem mais espremida na safra.
Apesar disso, 2025 não será um ano perdido para todo mundo. No tradicional grupo paulista Casa Bugre, plataforma de difusão tecnológica para o agro, a projeção é crescer, mesmo atuando com um portfólio que sentiu esse baque no ano: especialidades e biológicos.
Conforme revelou o CEO da companhia, Flavio Maia, ao AgFeed, a empresa deve encerrar o ano com avanço próximo de 20% no faturamento neste ano, para algo em torno de R$ 110 milhões. A alta, segundo ele, é apoiada na combinação entre diversificação de culturas e uma agenda de inovação que começou a ganhar escala.
“O driver de crescimento é ancorado em inovação, produtos novos e especialidades, que contam com uma margem mais adequada para o mercado e mais rentável para nós enquanto distribuidores”, disse o executivo.
Segundo ele, hoje 20% do faturamento já vem dessa base de “produtos novos” do grupo, principalmente aqueles que atuam com sinalização fisiológica e nutrição avançada.
O plano no médio prazo é mais ousado: até 2030, a meta é chegar a R$ 250 milhões de receita, sendo 70% desse valor vindo de tecnologias novas, com muitas delas nascidas dentro da Agriforlife, plataforma focada no desenvolvimento de tecnologias para agricultura regenerativa.
Everton Molina, diretor de marketing da Casa Bugre, lembra que a plataforma deixou de ser apenas um vetor de P&D para se tornar peça central da expansão.
Só nos últimos dois anos, foram quase 20 produtos lançados, incluindo soluções nanotecnológicas e ferramentas de agricultura de precisão biológica do solo. “Isso abriu conversa com novos canais e trouxe rentabilidade maior para a rede”, diz Molina.
A mudança também aparece na composição do faturamento. O hortifrúti, mercado original da Casa Bugre, ainda responde por 45% da receita (patamar que já foi de 80% em 2022).
O grupo acelerou nas últimas safras em café e cereais, ambos com participação de 20% cada, e começou a ganhar tração também em novas frutas, mamão, uva, além de dar seus primeiros passos, ainda tímidos, em cana e citros.
O CEO, Flavio Maia, cita que avançar nessas novas frentes ajudou a empresa a compensar as decisões mais tardias de compra ao longo do ano dos produtores, e ver seu faturamento crescer.
O ambiente, porém, não foi simples. Biológicos tiveram queda de preço, pressionados por maior oferta e pela necessidade do agricultor de reduzir custos, segundo Maia.
Já nutrição e bioestimulação também sentiram, embora a Casa Bugre tenha conseguido defender parte do valor por meio de diferenciação. “Quando mostramos rentabilidade e benefício claro, o produtor entende que não é ‘mais do mesmo’. É nisso que apostamos”, afirma o CEO.
Outra frente relevante em 2025 é o crédito. Com um produtor alongando prazos, a companhia reforçou ferramentas para mitigar risco na concessão, principalmente nas culturas de café e cereais, onde 80% a 90% das vendas são realizadas em prazo-safra. Hoje, a carteira, considerando esse prazo estendido, gira em torno de R$ 50 milhões.
Para equilibrar caixa e reduzir exposição, a Casa Bugre intensificou a estratégia de FIDCs, e o CEO cita parcerias com a gestora Brave e com o Itaú. “Ficamos mais criteriosos, mas demos mais prazos, que hoje gira em torno de 180 a 200 dias na empresa. As vendas para o setor de HF ajuda muito a mitigar esse alongamento do crédito”, diz Maia.
O grupo conta com três operações industriais, a Agrilife, que mistura produção própria e distribuição de produtos focados em nutrição, biológicos e adjuvantes especiais, a Krilltech, investida do grupo que atua na produção de fertilizantes com nanotecnologia, e a Terrus, de análise de solo.
Everton Molina cita que cerca de 70% das vendas são direcionadas para distribuidoras, enquanto o restante atende grandes produtores, sobretudo de cereais. No mercado internacional, a empresa já exporta para a Europa, com um distribuidor na Espanha, e recentemente firmou uma parceria para sua entrada no Uruguai.
Maia cita que o ano tem sido desafiador, e que a projeção inicial era até crescer mais no faturamento, mas que o crescimento apresentado já é considerado “interessante” frente ao desafio.
“O custo do agricultor tem crescido ano após ano, com mão de obra e o custo do dinheiro captado aumentando e limitando o crédito. Isso desincentiva o agricultor de investir, e para nós, que atuamos com especialidades, são produtos que o produtor toma a decisão geralmente por último”, disse o CEO.
“Isso traz pouca visibilidade da composição da carteira com a demora de compra, o que atrapalhou um pouco nós esse ano. Diante do desafio do ano acreditamos que temos um bom avanço principalmente falando em novas tecnologias”, acrescentou.
Ele cita que esse cenário traz uma pressão de preços aos insumos, principalmente nos biológicos. “Vemos sempre um aumento de área contínuo no uso desses produtos, mas um aumento menos significativo no valor”.
Somado a isso, ele acredita que o crescimento do número de empresas de biológicos e uma flexibilização dos registros acabou achatando as margens do setor.
“Conseguimos justificar preços pelo custo benefício. É por isso que apostamos nas linhas de inovação. Sem concorrentes no mercado, conseguimos demonstrar a rentabilidade”, afirmou Flavio Maia.
Resumo
- Faturamento da Casa Bugre avança perto de 20% em 2025, para cerca de R$ 110 milhões, impulsionado por inovação e pela entrada mais forte em café e cereais
- Portfólio de novas tecnologias já representa 20% da receita, com quase 20 produtos lançados em dois anos. Meta é faturar R$ 250 milhões em 2030
- Crédito segue como desafio, e carteira da companhia gira em torno de R$ 50 milhões com o uso de FIDCs para mitigar risco