No dia 25 de julho passado, o diretor do grupo agropecuário Cavalca, Marcio Lima, registrou em seu Linkedin uma visita que recebeu no escritório da empresa, no Mato Grosso. Na foto, ao seu lado, estava o Volker Fabian, executivo de uma startup americana, que acabara de fazer uma demonstração de seu produto.

Fabian é diretor comercial da Pyka, primeira empresa a produzir aviões agrícolas e de carga elétricos e autônomos – ou seja, que não necessitam de um piloto na aeronave – e que, por isso, tem sido observada com atenção em vários cantos do mundo.

A conversa e a visita, que agradaram os ouvidos do empresário local, fazem parte de uma intensa agenda do executivo aqui no Brasil nos últimos meses.

Conforme Fabian disse ao AgFeed, a Pyka está preparando o terreno para aterrissar no país, que possui a segunda maior área agricultável do mundo, conforme destacou. E também o segundo maior mercado para pulverização aérea, com 100 milhões de hectares pulverizados por cerca de 2,5 mil aeronaves, segundo dados do Sindicato Nacional das Empresas de Aviação Agrícola (Sindag).

Desde maio, o americano tem rodado o país para conversar com produtores e mostrar as oportunidades de pulverização que podem ser feitas com o avião Pelican Spray, uma aeronave de 6 metros de comprimento, 11 metros de envergadura e 300 kg de capacidade, que não precisa de pilotos.

Além de apresentar a inovação e ouvir o feedback dos produtores, que tem sido positivo, a Pyka tem como objetivo traçar a melhor rota para começar a comercialização dos aviões pelas propriedades brasileiras.

“Precisamos descobrir como queremos entrar no mercado e qual a abordagem correta para isso”, destaca o executivo.

Depois de uma primeira visita em maio, Fabian voltou em julho ao país e participou “disfarçado” do congresso de aviação agrícola do Sindag, em Sertãozinho (SP), para participar de reuniões. Entre setembro e outubro, deve voltar ao Brasil.

“Não tem um único produtor ou agricultor de quem falamos que não gosta do que vê”, afirma Fabian. “Ouvimos deles que isso é o futuro e que gostariam de ver o produto em ação. Os produtores que conversamos nos questionam quando teremos o avião. A aceitação dessa fase é extremamente alta”, comenta.

De um lado, os produtores estão animados. Do outro, a Pyka ainda precisa definir a estratégia comercial para voar nos nossos céus.

Após conversar com produtores tanto de grande quanto de pequeno porte, Fabian identificou alguns clientes que possuem a infraestrutura necessária para os aviões. Entre o final deste ano e o começo do próximo, é possível que a Pyka esteja oficialmente por aqui.

Os primeiros meses de uso dos aviões Pelican no agro brasileiro ainda funcionarão como uma espécie de teste.

No longo prazo, ele acredita que a Pyka pode suprir integralmente a demanda por esse tipo de aeronave por aqui, mas lembra que o avião da empresa é menor quando comparado aos convencionais.

Estaria, assim, no meio do caminho entre essas aeronaves – que podem transportar até 3 mil kg de defensivos agrícolas – e os drones – com capacidade máxima de 150 kg.

Nos cálculos do diretor comercial, dois ou três aviões Pelican Spray podem substituir um avião tradicional, mas destaca que a empresa planeja também lançar aviões maiores no futuro.

“Quando olhamos para os produtores que já possuem aviões, pensamos em primeiro complementar a operação”, diz. “Se houver sucesso, podemos substituir tudo no futuro”.

Para Fabian, um “cenário realista” seria ter 50 aviões da empresa comercializados nos primeiros dois anos de operação no Brasil. “Ao mesmo tempo, pensamos em desenvolver aviões maiores, o que torna a competição mais direta”, afirma.

“Acho que a aceitação do avião e a performance dele, ao mesmo tempo que reduz custos para o produtor é o mais importante para nós nesse momento. Depois disso pensamos na escalabilidade”.

Sobrevoo das bananas

O executivo conta que, atualmente, a Pyka tem ganhado mercado na América Central, na Costa Rica e em Honduras, onde atua principalmente com produtores de bananas. A cultura não foi escolhida ao acaso, e segundo Fabian, é um plantio perfeito para o produto da startup.

“Bananas necessitam de pulverização a cada 4 ou 5 dias, durante 52 semanas por ano”, diz. “O tamanho dessas propriedades lá varia entre 50 mil e 100 mil hectares”. A expansão nessa cultura deve ocorrer nos próximos meses em países como Guatemala e Equador, afirma o executivo.

Por aqui, a cultura que pode ser a primeira a receber aviões da Pyka para a pulverização é a do algodão. Segundo ele, as lavouras da fibra precisam receber pulverização de 3 a 5 meses no ano.

A empresa atua com o aluguel das aeronaves, e não a venda. O preço para usar o aparelho é variável e vai depender da quantidade de uso. Na cultura da banana na América Central, que precisa de muita pulverização, o executivo calcula que o aluguel fica em torno de US$ 20 mil por mês aos produtores.

Além do Pelican Spray, a empresa anunciou no início desse ano seu novo produto, o Pelican Cargo. De tamanho um pouco maior que o primeiro, tem capacidade de carga até quatro vezes maior, mas não serve para pulverização.

Parceria com a Embraer

A companhia teve seu nome estampado no país pela primeira vez em 2021, quando a Embraer, uma das maiores fabricantes de aeronaves do mundo, anunciou uma parceria com a startup.

Segundo Fabian, não existe uma parceria formal com a empresa. O que foi assinado na ocasião foi um Memorando de Entendimentos, que é como se fosse um pré-contrato, e serviu para pensar, em conjunto, como comercializar os aviões autônomos por aqui.

Mesmo sem vínculo oficial, a Pyka continua próxima da Embraer, fabricante do Ipanema, avião agrícola mais vendido no Brasil. “Quando você pensa em aviação e aviação agrícola, não tem como não pensar em Embraer, mas não tem nada em relação com nossa estratégia de entrar no mercado brasileiro”, explicou.

Rodadas de investimento

Depois da primeira rodada de US$ 11 milhões em 2019, a Pyka captou mais US$ 37 milhões em abril do ano passado, numa rodada de investimentos do tipo Series A.

A rodada mais recente foi liderada pela Piva Capital, uma empresa de capital de risco de São Francisco, nos EUA, que investe em empresas que oferecem soluções tecnológicas para vários setores.

Além dela, também participou a Prelude Ventures, que apoia teses que estão envolvidas com questões climáticas.

Por enquanto, a empresa não tem uma nova rodada em andamento. Mas se o plano de expansão no Brasil for como esperado, entre 2024 e 2025 um novo aporte pode acontecer, disse o diretor.