Apesar de colher uma safra menor de soja, na comparação com o ano passado, o Brasil deve seguir aumentando seu déficit de armazenagem de grãos na temporada 2024/2025, o que representa oportunidade para as empresas com foco no chamado “pós-colheita”, como a brasileira Kepler Weber.

A companhia apresentou hoje os detalhes sobre um estudo que encomendou ao consultor de mercado Carlos Cogo, sobre o cenário de “prêmios negativos”, ou seja, do deságio que foi praticado nos últimos dois anos na hora de definir o preço de exportação da soja e do milho brasileiros.

O levantamento indica um total de R$ 41,4 bilhões que o País teria perdido se contabilizados os períodos de prêmio negativo nos anos de 2023 e 2024. O “prêmio”, como é chamado no Brasil, nada mais é do que o diferencial portuário, que define quanto acima ou abaixo do preço indicado na Bolsa de Chicago deve ser vendida a soja ou o milho produzido aqui.

Historicamente, o diferencial foi chamado de prêmio porque, na maioria das vezes, era positivo, ou seja, é um preço para acrescentar na cotação de Chicago. Nas últimas duas safras, porém, na maior parte do tempo, foi praticado um desconto em relação ao preço internacional. E a razão disso é o fato de estar “sobrando” grãos à disposição das tradings, uma combinação de super safra e de falta de capacidade de armazenagem por parte do produtor para que pudesse segurar mais a colheita, adiando a oferta, que fica concentrada em determinados períodos – e assim alcançando preços melhores.

“Primeira vez na história tivemos dois anos consecutivos de prêmio negativo, por isso a armazenagem que sempre foi importante, agora se tornou urgente”, afirmou o CEO da Kepler Weber, Bernardo Nogueira, que conversou com jornalistas diretamente da Agrishow em Ribeirão Preto.

No caso do milho, estudo mostra perdas acumuladas, nestes dois anos, R$ 21,2 bilhões. No ano passado, os prêmios negativos impactaram os resultados da commodity entre maio e setembro, diz a Kepler Weber, com base nos números da consultoria.

Já a soja somou perdas de R$ 20,1 bilhões em 2023 e 2024. Os prêmios negativos de exportação impactaram os resultados entre março e julho do ano passado e entre janeiro e abril deste ano, segundo o estudo.  Recentemente, para diversos vencimentos, o prêmio da soja Paranaguá, por exemplo, passou para o campo levemente positivo.

A análise feita por Carlos Cogo sinaliza que os prêmios devem ficar levemente positivos entre junho e dezembro deste ano, mas voltam aos patamares negativos a partir de janeiro de 2025, permanecendo assim pelo menos até julho do ano que vem.

Bernardo Nogueira acredita que a próxima safra brasileira de grãos poderá chegar próximo a 330 milhões de toneladas. “Neste cenário o déficit de armazenagem que hoje está em 100 milhões subiria para 130 milhões de toneladas, o que levaria a um terceiro ano de prêmios negativos”, alertou o executivo.

O CEO da Kepler Weber disse que alguns de seus clientes “mais profissionalizados e bem estruturados” estão enxergando esse cenário da safra 2024/2025 e retomando investimentos em armazenagem.

Ele alerta para um risco de “colapso na estrutura de armazenagem, principalmente para a soja, em janeiro e fevereiro”.

Apesar do “momento mais delicado do agro”, segundo Nogueira, o próprio balanço da Kepler Weber divulgado esta semana já mostra que a tendência natural de retração nos investimentos está sendo revertida.

Ele reforçou que houve um aumento de 17% nas vendas da Kepler Weber no primeiro trimestre de 2024, inclusive com maior compra por parte dos agricultores individuais, que montam estruturas em suas fazendas.

O mercado mais aquecido, segundo o executivo, também ocorreu nos últimos 30 dias, período em que foram vistos melhores preços para a soja, principalmente pelo real mais desvalorizado em relação ao dólar. “Mas a motivação para investir está vindo mais pelo gargalo logístico do que por esta diferença no preço da soja”, afirmou.