Maior financiador da agropecuária no País, o Banco do Brasil tinha expectativa de sair da Agrishow 2024 com R$ 3 bilhões em propostas de financiamento. Mas ao longo da semana, o clima entre os clientes produtores rurais animou os seus executivos, que, antes mesmo da divulgação do balanço oficial, já previam superar o objetivo em Ribeirão Preto.
“Foi uma feira mais animada do que no ano anterior, com muitos pedidos dos produtores entrando no nosso sistema”, avaliou o diretor de Agronegócios e Agricultura Familiar do Banco do Brasil, Everton Kapfenberger, ao AgFeed.
Nesta sexta-feira, 03 de maio, os números confirmaram o sentimento. O BB anunciou ter recebido mais de R$ 3,2 bilhões de propostas, recorde em relação a todas as feiras que já participou.
Com isso, em 2024, até agora, atingiu quase R$ 12 bilhões em negócios em feiras do agro em todo o País, volume 20% superior ao obtido no mesmo período do ano passado.
A instituição levou mais de 100 funcionários para a Agrishow, distribuídos em times especializados, como alta precisão, máquinas e implementos, até o segmento aeronáutico.
Kapfenberger disse que todas as manhãs o grupo se reunia para entender como estava o apetite dos produtores em contratar financiamentos.
“A percepção deles foi de retomada nos investimentos, as impressões foram as melhores já nos primeiros dias da feira”, afirmou.
Segundo o diretor, as linhas mais demandadas – que coincidem com aquelas que o Banco do Brasil havia aumentado o aporte de recursos – foram as destinadas a compra de tratores para a agricultura familiar.
Um dos destaques é o Pronaf Investimento, que faz parte do Plano Safra, ou seja, tem juros subsidiados pelo Tesouro Nacional. No caso do chamado Pronaf Mais Alimentos, a taxa varia entre 4% e 6% ao ano e o prazo é de 10 anos, com 3 anos de carência.
O diretor disse que na metade da semana “o time já estava celebrando os resultados parciais”, baseado no volume de propostas colhidas, mas admitiu que não poderia revelar números em função do período de silêncio da empresa, que divulga seu balanço de resultados do primeiro trimestre na próxima semana.
O Banco do Brasil teve crescimento nesta demanda por propostas na Agrishow, na comparação com ano passado, não apenas no Pronaf, mas também nas demais linhas, segundo o executivo.
A estimativa do banco era oferecer R$ 400 milhões nas chamadas linhas de recursos controladas, com os subsídios do Plano Safra.
Na abertura do evento, o diretor da Abimaq Pedro Estevão disse ao AgFeed que os recursos que o Banco do Brasil trouxe para o Moderfrota, que financia principalmente tratores e colheitadeiras de maior porte, “se esgotariam no primeiro dia”.
O diretor do Banco do Brasil não revelou se isso realmente ocorreu, mas destacou que “a demanda foi grande e, seguramente, todos os recursos controlados que trouxemos vão ser utilizados”.
Para os grandes produtores, como alternativa, o banco ofereceu principalmente uma linha própria chamada “Investe Agro”, considerada mais ampla, que pode financiar não apenas tratores e colheitadeiras.
“Ela é mais ampla, porque financia até 100% de itens que o Moderfrota não atenderia. Desde linha amarela, até uma embarcação ou máquina de grande porte que tem todos os componentes importados”, explicou.
A taxa de juros da Investe Agro para Pessoa Física é de CDI mais 5,5% ao ano, mas as negociações são feitas caso a caso, segundo Kapfenberger. O prazo é de até 8 anos, com dois anos de carência.
Para dar conta da demanda, o Banco do Brasil usa a chamada “esteira agro” com as principais fabricantes de máquinas agrícolas, que já recebem as propostas via concessionárias. Além disso, vem crescendo o uso do marketplace Broto, especialmente naquelas marcas que não tem essa parceria.
Fundo Clima BNDES tem demanda
Uma das novidades na Agrishow foi a demanda por uma linha lançada recentemente pelo BNDES que contempla diferentes atividades ligadas à transição energética.
O AgFeed apurou que a primeira operação do chamado Fundo Clima BNDES foi assinada durante a Agrishow. Trata-se de um financiamento no valor de R$ 198 milhões para um sistema gerador de energia fotovoltaica.
No inicio de abril, quando anunciou o programa, o governo federal mencionou que seriam disponibilizados R$ 10,4 bilhões para esta linha via Fundo Nacional sobre Mudança do Clima (Fundo Clima), envolvendo BNDES e Ministério do Meio Ambiente.
Um diferencial do financiamento é o prazo longo, de até 16 anos, incluindo cinco anos de carência. Os juros dessa linha, no Banco do Brasil, ficam entre 9,78 a 12,24% ao ano. O crédito está disponível para pessoas física e jurídica.
“Estamos também muito animados com este fundo”, disse Everton Kapfenberger. Segundo ele, os itens são financiados até 100%, com diferentes projetos, como conversão de biomassa, hidrogênio verde, energia solar, biometano, tudo o que está relacionado à transição energética.
Questionado sobre a CPR BNDES, que foi o principal anúncio do governo federal na cerimônia de abertura do domingo, o diretor do Banco do Brasil disse que as instituições ainda estão recebendo os releases, aguardando regulamentações, por isso ainda não há procura significativa.
Renegociações em andamento
Com a publicação das regras de renegociação de dívidas feita há 20 dias, a Agrishow 2024 também foi um momento importante para que os produtores rurais buscassem informações para aderir ao refinanciamento.
O diretor do BB lembra que qualquer produtor é elegível a renegociar dívidas de acordo com o Manual de Crédito Rural. Mas explica que, com a portaria e a autorização do Conselho Monetário Nacional, foram adicionadas vantagens a esse modelo de renegociação.
Ele relata uma forte procura pela postergação do pagamento das dívidas por parte dos produtores rurais de São Paulo, ao longo da semana. A medida autorizada pelo governo não se restringe aos agricultores que tiveram quebra de safra pela seca em regiões como Mato Grosso. Há também benefícios para outros estados e para atividades como pecuária de corte e leite.
“Já saíram as primeiras prorrogações, mas como o prazo é até 31 de maio, os produtores seguem procurando o banco para trazer os seus dados e avaliar a sua capacidade de pagamento, explicou.
Pelo modelo, o produtor pode adiar parcelas vencidas e vincendas de 2024 para o final do seu financiamento, o que pode ser até mesmo em 2026.
“Estamos em 96% dos municípios brasileiros, é uma capilaridade que permite sentar e conversar com o gerente. O importante é que ele mantenha a sua capacidade de produção, sem fazer um super endividamento, sem fazer uma prorrogação desnecessária”.