Ribeirão Preto (SP) - Muito calor, muita terra e longas caminhadas. A experiência de quem visita a Agrishow em Ribeirão Preto é unânime, e encontra um respiro em meio aos estandes com ar condicionado e água gelada.
As altas temperaturas não chegam a ser novidades no evento de Ribeirão Preto, embora esse ano uma onda de calor tenha feito os termômetros subirem mais do que o habitual.
No protocolo, entretanto, foi uma Agrishow diferente. Começou com uma abertura sem público, no domingo, para reduzir a temperatura política. E terminou sem a tradicional entrevista coletiva dos organizadores para o anúncio e análise dos resultados, divulgados, desta vez, em uma nota sintética.
A edição 2024 da maior feira de agronegócio para a América Latina, encerrada nesta sexta-feira, 3 de maio, movimentou, segundo sua organização, um volume de R$ 13,6 bilhões em intenções de negócios.
O número mostra um singelo crescimento de 2,4% em relação ao anotado na edição de 2023, quando o volume bateu os R$ 13,2 bilhões. A Agrishow estima que 195 mil pessoas passaram pela feira de domingo até hoje, número equivalente ao visto em 2023.
Apesar dos números, a sensação de quem foi à feira era de que havia menos público na edição deste ano. Em alguns estandes visitados pela equipe do AgFeed, a percepção de empresários, vendedores e executivos era essa: mais calor e menos público do que em 2023.
Nos primeiros dias do evento, alguns diretores chegaram até a dizer que “ficaria feliz se as vendas empatassem com o ano anterior”.
Após a abertura, apenas com autoridades, no domingo, a feira teve seus dias mais movimentados entre segunda e quarta. Apesar das anunciadas melhorias na infraestrutura da feira, os frequentadores chegavam a esperar de quase uma hora entre a entrada nos estacionamentos e o primeiro passo nas ruas da feira.
Na quarta, com o feriado do Dia do Trabalho, a sensação era de que a Agrishow estava mais cheia, com muitas famílias passeando por lá.
As principais atrações seguiram sendo as máquinas agrícolas, foco da feira desde os primeiros anos de vida. Estandes demarcas como John Deere, Case IH e Massey Ferguson eram os mais robustos e com exposições mais exuberantes.
Colheitadeiras tecnológicas e tratores modernos enfeitavam as ruas, ora de terra, ora de asfalto, do evento. Drones e o robô agricultor da Solinftec também estiveram entre as atrações mais visitadas pelo público.
Outra das marcas da edição 2024 da Agrishow foi o intenso tráfego de helicópteros, facilmente notado por quem chegava ou saía do evento. Foi ele a causa do momento de maior tensão da semana – que acabou resultando na decisão dos organizadores de cancelarem a entrevista coletiva de encerramento.
Na quinta-feira, 2 de maio, uma dessas aeronaves, ao preparar-se para o pouso, aproximou-se demais de uma área com tendas, provocando um deslocamento de ar que fez com que uma delas desabasse.
O incidente fez duas vítimas, que foram prontamente atendidas pelas equipes do Corpo de Bombeiros que atuam na feira e por unidades de socorro, segundo informou a Agrishow através de nota. Os dois trabalhadores foram levados para hospitais na região.
Os organizadores informaram, na manhã da sexta, que em respeito às famílias dos atingidos, não faria o evento final da semana.
Apreensão deu lugar ao alívio
A nota emitida, de certa forma, corrobora um sentimento que foi se consolidando ao longo da semana no setor de máquinas, que chegou apreensivo à Agrishow.
O cenário que engloba produtores menos capitalizados por conta da queda do preço dos grãos nos últimos anos somado a um El Niño feroz na safra 2023/24 trouxe uma expectativa de que o ano seja mais lento no segmento.
“Estávamos cautelosos para a Agrishow”, afirmou Eduardo Penha, diretor de marketing da Case IH na América Latina, ao AgFeed, na quarta-feira. “A feira é um grande termômetro para o resto do ano”.
Segundo Penha, o mercado de máquinas no primeiro trimestre deste ano havia sido menos intenso para as vendas do que no período equivalente de 2023. Ele estima que, principalmente nas colheitadeiras, as vendas recuaram 30% no setor.
Mas a Agrishow trouxe um certo alívio para as empresas, que começou já na pré-feira, em reuniões com concessionárias e vendedores para falar sobre as linhas de financiamento e condições especiais oferecidas no evento.
“Chegou segunda-feira e toda cautela e apreensão acabaram. Eram 8h30 da manhã e o nosso estande já estava cheio. E terça encheu ainda mais”, comentou Penha.
Ele estima que os protocolos de venda, que podem ou não ser concretizados nas próximas semanas, foram maiores nos primeiros dias da feira do que no ano passado. Apesar disso, ele acha difícil que o montante da semana toda atinja o visto em 2023.
O cenário positivo também foi visto na John Deere. Marcelo Lopes, diretor de vendas da empresa, afirmou que a feira “trouxe um clima melhor” para os negócios.
“Ainda não otimista, mas já vemos uma mudança de postura. Vejo de uma forma positiva o comportamento do produtor na feira, e o sentimento ruim do começo do ano ficou para trás. Ele já está olhando para o próximo plantio e seus custos”.