No ano passado, os mais de 42 mil cooperados que fazem da Coopercitrus, a maior cooperativa do Brasil em número de associados, financiaram mais de R$ 5 bilhões para a aquisição de produtos e serviços junto à cooperativa.

De sementes e defensivos químicos a máquinas agrícolas ou serviços de monitoramento de lavouras e aplicação de biológicos, eles encontram nas diferentes unidades de negócios da Coopercitrus ou de parceiros praticamente tudo o que precisam para fazer a gestão de suas propriedades.

O relacionamento é intenso, mas pode ainda ser maior na visão do presidente executivo da cooperativa, Fernando Degobbi. “A gente vem preparando a Coopercitrus para oferecer uma jornada completa ao produtor”, afirmou ele ao AgFeed, em entrevista realizada durante a Agrishow, em Ribeirão Preto.

“Quando o produtor pensa em plantar, a gente faz desde os projetos de sistematização e conservação do solo com tecnologias digitais, agricultura de precisão, recomenda a semente... A gente hoje é muito relevante em irrigação, nós iremos saturar uns R$ 300 milhões de reais esse ano só com equipamento de irrigação...”.

A lista de possibilidades segue ainda por mais um tempo na fala de Degobbi e na estratégia de negócios da cooperativa. Apenas este ano a Coopercitrus lançou três novos negócios para aumentá-la e, assim, ampliar ainda mais a fidelização dos seus associados.

O mais recente passou a operar oficialmente durante a Agrishow e busca explorar justamente a grande demanda dos cooperados por serviços financeiros. Batizada de Fincoop, a iniciativa pretende, de forma ativa, atuar como uma assessoria financeira para o produtor sempre que ele buscar um crédito junto aos mais diversos canais de negócios da Coopercitrus.

“Nós criamos agora a fintech para ser um braço de serviço financeiro para os nossos cooperados”, disse ao AgFeed Simonia Sabadin, diretora financeira da cooperativa e, a desde janeiro, a CEO da Fincoop.

“No primeiro momento, nós vamos dar assessoria para a Coopercitrus na base de crédito de todos os nossos cooperados e direcionar esse crédito que nós fazemos aqui”.

Mais de 100 profissionais, recrutados dentro da própria Coopercitrus, já fazem parte do time da Fincoop, atuando de várias formas, desde a captação de recursos junto a instituições financeiras parceiras até a preparação da papelada do cooperado para a solicitação do finmanciamento.

“A gente vai assessorar o cooperado no acesso ao mercado financeirto, na tomada de recurso com custo diferenciado. Vamos ajudar na apresentação dele, no balanço de seus negócios, até mesmo na auditoria da pessoa física do cooperado junto com a uma empresa integrante do grupo das Big Four. Estamos fazendo uma parceria de oferecer esse serviço para o cooperado”, antecipou Simonia.

Na visão dela, essa ação vai ajudar muito na tomada de recursos por parte do cooperado, permitindo inclusive que ele organize melhor sua gestão financeira, como uma verdadeira consultoria, acionada de forma automática cada vez que ele inicie uma compra junto à cooperativa ou seus parceiros.

“O braço financeiro vai estar conectado na operação. Nós vamos, de forma ativa, acessar esse cooperado, fazer uma nálise da sua situação e da necessidade, ajudando no que ele precisar”, contou Simônia

“A proposta é, assim, auxiliá-lo no entendimento de suas contas, até mesmo a identificar o que realmente é o fluxo de caixa dele, o que ele precisa, se está dando resultado ou não resultado. E na parte jurídica também, teremos um braço voltado para sucessão e formação de holding, por exemplo”.

Diferentemente de uma cooperativa de crédito, que tem registro no Banco Central para oferecer serviços financeiros, inclusive crédito, a nova fintech da Coopercitrus não opera diretamente na liberação dosm financiamentos ou na aplicação dos recursos dos associados.

“Estamos servindo de conexão com a própria Creditcitrus (a cooperativa de crédito ligada à Coopercitrus) e com bancos que têm linhas para oferecer para o produtor. Nós temos acesso ao produtor, estamos ali vendendo a um produtor. Então, a gente casa uma coisa com a outra e no momento que o produtor realmente está precisando”, resumiu Degobbi.

A ideia é que a Fincoop, com o grande conhecimento que tem sobre os negócios dos seus cooperados, atue não apenas como um intermediário, mas como uma ferramenta que ajude a gerar uma análise mais certeira do risco dos produtores e a direcioná-los para as instituições financeiras que têm a linha de crédito mais adequada a eles, possibilitando inclusive taxas mais baixas nos financiamentos.

“A gente vai ter uma análise mais automática”, disse Simonia. “São várias frentes de acesso financeiro. Assim, vamos tirar um pouco da alavancagem da Coopercitrus e direcionar para os bancos”.

Nas diversas frentes de relacionamento com o associado, a Coopercitrus tem participado como financiadora, tomando o recurso no mercado e financiando algumas das operações dos produtores.

A cooperativa atua, por exemplo, com operações de barter, emitindo as CPRs que dão lastro financeiro à transação. Para financiar as vendas de máquinas agrícolas – a Coopercitrus é uma das maiores revendedoras do país nessa área –, a cooperativa estruturou fundos de investimentos de direitos creditórios (FIDCs) para captar recursos a serem usados na concessão de créditos. Um deles, feito com o Rabobank, somou R$ 800 milhões.

“A gente quer trazer semopre inovação para o nosso cooperado, que agregue valor e diminua o custo da operação. Esse é o papel da nossa Fincoop, buscar alternativas para o nosso cooperado”, afirmou Simonia.

Fábrica de negócios

A Fincoop se encaixa como uma luva dentro da estratégia que Degobbi vem liderando na Coopercitrus, de enxergar as necessidades dos cooperados e criar ou participar de negócios para atendê-las.

“O que buscamos é a construção de um modelo de negócios que ele mitiga riscos, porque permite aos produtores, através da cooperativa, participar em vários segmentos”, analisou.

No caso da fintech, a cooperativa atua sozinha. Em outros, atua como sócio relevante. É o que aconteceu em duas empreitadas anunciadas recentemente na área de insumos agrícolas.

Dona de uma das dez maiores operações de revenda de insumos do País, a Coopercitrus entendeu que poderia participar desse mercado do lado da indústria, levando as demandas do produtor para dentro da gestão dos fabricantes.

Assim, a cooperativa formou joint ventures com grandes parceiros na área de fertilizantes e de proteção e nutrição de cultivos. Na primeira, é uma das sócias da recém-criada Tello, empresa que vai produzir fertilizantes organomineirais e que tem como parceiros Amaggi, TecnoBeef, Viola Participações (do investidor-produtor Carlos Pellicer) e Souza e Lucas Participações (de Marcos Lucas, da família dona da AgroCP).

Na segunda, entrou como uma participação de 15% na formação, em sociedade com a indústria química alemã DVA, da Agroallianz, que produz e comercializa defensivos químicos, adjuvantes e insumos biológicos.

Ao fazer essas parcerias, Degobbi busca a expertise dos sócios em seus respectivos mercados, mas também uma forma de criar negócios com grande potencial a partir de investimentos menores, divididos entre os parceiros e diluídos ao longo do tempo.
Segundo ele, a Coopercitrus investe entre R$ 50 milhões e R$ 60 milhões anuais na ampliação de oportunidades de negócios.

“A gente vê cada vez mais o potencial de criar sinergias”, afirmou Degobbi. “A gente olha tudo. Sou uma pessoa que eu entendo que a gente precisa somar, conectar. É um tremendo valor que você consegue gerar”.]

No caso apenas dessas novas iniciativas, esse valor está até estimado. Segundo Degobbi, no final deste ano elas podem gerar “um impacto de 5% a 10% dos nossos números”. “No ano que vem de 10% a 12% e, para o terceiro ano, já mais relevante, uns 15%”.

São somas expressivasm considerando-se que a Coopercitrus fatura mais de R$ 8 bilhões ao ano. Degobbi cita, então, o potencial de negócios previsto para as duas joint ventures. A Tello, por exemplo, prevê receita de R$ 500 milhões em três anos. “Com a Agroaliens, a gente estima aí também que consiga algo semelhante”, disse.

Durante a Agrishow, as duas novas companhias estavam entre as 42 empresas com estandes dentro do grande pavilhão da Coopercitrus, ao lado de outras parceiras da cooperativa, algumas delas gigantes de seus segmentos e atuando nas mesmas áreas dos negócios em que a cooperativa é sócia.

Diplomático, Degobbi teve o cuidado, antes de divulgar essas novas frentes, de procurar os presidentes das outras empresas para explicar os movimentos. “Conversei pessoalmente, um por um, porque podia haver um ruído ali de informação”. Degobbi entende que é preciso manter relações transparentes e fortes com todos. Afinal, amanhã podem ser sócios em um novo negócio.