Os estoques das Letras de Crédito Agrícolas, as LCAs, bateram um novo recorde no mês de maio de 2023, atingindo R$ 404 bilhões, um avanço de 62% em relação mesmo período do ano passado.
Além das LCAs, outros títulos do agronegócio como as CPRs – Cédulas de Produto Rural e os CRAs – Certificado de Recebíveis do Agronegócio -também atingiram cifras bilionárias, com R$ 248 bilhões e R$ 106 bilhões, respectivamente.
Esses montantes mostram aumentos de 76% e 40% na comparação com o que foi observado em maio do ano passado.
A tendência para esses estoques ainda é positiva, e uma mudança governamental recente na política das LCAs pode fazer os próximos meses baterem novos recordes.
Na avaliação de Octaciano Neto, diretor de agronegócio da Suno, um ponto relevante que pode continuar a fazer essa curva subir é a nova diretriz do Conselho Monetário Nacional (CMN) decidida na última semana.
Na reunião, o órgão decidiu elevar de 35% para 50% o volume mínimo de saldo do LCA que precisa ser direcionado para o financiamento rural. Por mais que o nome LCA contenha a palavra “agrícola”, a destinação dos recursos não é exclusiva do setor.
“Cada vez mais a LCA se transforma no principal instrumento de financiamento do agronegócio para operações de curto prazo”, afirma Octaciano Neto.
Ainda segundo o diretor da Suno, os níveis de CDI elevados e uma busca contínua por crédito agrícola devem fazer os próximos meses mostrarem montantes em elevação para as LCAs. “[o gráfico] continua crescendo por mais um tempo e depois estabiliza”, comenta.
O levantamento foi produzido pela Secretaria de Política Agrícola do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) e publicado no Boletim de Finanças Privadas do Agro de junho.
Os dados foram retirados da B3, CERC, CRDC e da Anbima, e são referentes ao mês de maio.
E se a Selic começar a baixar?
Apesar de a última reunião do COPOM manter a taxa básica de juros do Brasil em 13,75% ao ano, o mercado financeiro começou a projetar o início do ciclo de queda da Selic num futuro bem próximo.
Na última edição do Boletim Focus, publicação semanal divulgada pelo Banco Central contendo um resumo das expectativas de mercado a respeito dos principais indicadores da economia brasileira, as previsões de economistas mostram que a Selic deve baixar em 0,25p.p já na reunião de agosto do comitê.
Esse recuo, se confirmado, pode começar a fazer os investidores trocarem seus investimentos de títulos de renda fixa, como são as LCAs, e partirem para opções de renda variável, ou com risco maior.
Se isso acontecer, o grande atrativo desses títulos de dívida do agro, que é uma remuneração baseada no CDI, pode perder o charme para os investidores.
Apesar disso, Octaciano Neto vê que a medida do CMN ainda pode deixar o agro seguro. “Mesmo que o valor da captação seja menor, a destinação da LCA para o agro vai ser maior”, comenta.
Somado a isso, no anúncio do Plano Safra 2023/2024, o presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, se mostrou favorável ao banco voltar a emitir LCAs.
“O mercado de crédito teve problemas no início do ano depois da fraude da Americanas, mas mostramos que conseguimos reaquecer o segmento com a emissão da maior debênture de infraestrutura da história, de R$ 1,8 bilhão. Essa experiência mostra que o banco público fomenta o mercado de capitais. Somos aliados e não concorrentes”, comentou Mercadante em entrevista coletiva na semana passada.
Dentre os outros títulos de dívida do agro, Octaciano Neto vê um bom futuro para as CPRs sendo o principal instrumento para as operações não bancárias, o oposto das LCAs.
Os CRAs, em sua visão, acabaram não tendo o futuro imaginado anos atrás por conta do preço para emissão, que parte de um universo de R$ 200 mil até R$ 400 mil.
“O CRA para mim nunca virou um instrumento tão relevante e cada vez vai perder mais mercado, com as CPRs mais atreladas ao mercado de capitais e as LCAs ao mercado bancário”, finaliza.