O mar não está para peixe no mercado de CRAs neste ano, ou melhor, não estava, porque os movimentos deste mês de agosto já mostram uma retomada no apetite pela emissão destes títulos.

O BTG Pactual está emitindo mais um CRA, desta vez no valor inicial de R$ 1,6 bilhão. O período de reserva para investidores começou nesta terça-feira (22/8) e vai até sexta-feira (25/8).

O valor é destinado à Engelhart (ECTP), sua própria trading internacional de commodities.

Em operação semelhante, o BTG Pactual emitiu no mês de junho o maior CRA da história, com R$ 3,5 bilhões.

Recentemente, o AgFeed mostrou que, segundo dados da Anbima, as emissões de CRAs tiveram queda de cerca 30% entre janeiro e julho deste ano, na comparação com o mesmo período do ano anterior.

As razões para a queda nas emissões seriam o mercado de crédito mais arisco, depois das crises envolvendo Americanas e Light, por exemplo, bem como o fato dos títulos terem registrado episódios de maior inadimplência.

Quer dizer, nem este burburinho e falta de apetite que alguns investidores mostravam até agora, assustou o BTG.

O novo CRA do BTG, que é o 106º emitido pela Opea Securitizadora, é composto de quatro séries. Para os investidores, cada série tem uma remuneração distinta. Na prática, o dinheiro aportado pode retornar de quatro maneiras diferentes.

Na primeira série, a remuneração será de 109% da taxa DI. Na segunda série, será 100% da taxa CDI mais um spread de 1% ao ano. Na terceira, a remuneração será baseada em um título do Tesouro Direto, o NTN-B de 2033 mais 1% ao ano. Por fim, a última será uma taxa DI, ou seja, um contrato futuro de juros, que possui vencimento em janeiro de 2031 mais 1% ao ano.

No caso desses CRAs, o BTG Pactual atua como devedor, enquanto a recebedora será a Engelhart, a trading do próprio banco.

Além delas, a Opea Securitizadora fez a emissão do título de crédito no mercado, a instituição custodiante é a Vórtx e o agente fiduciário foi a Oliveira Trust. O consultor jurídico da oferta foi a Stocche Forbes Advogados.

Os recursos captados pela emissão do CRA recorde e desse novo CRA de R$ 1,6 bilhão serão utilizados pelo BTG para aportes na trading.

Dentro da Engelhart, o dinheiro, que pode ficar em algo na faixa dos R$ 5 bilhões, servirá para pagar custos e despesas relativas à compra de soja, milho, farelo de soja e óleo in natura de produtores e cooperativas.

Segundo a Quantum Finance, dentre essas cooperativas, estão a Cooperativa Mista Agropecuária Do Vale Do Araguaia, a Cooperativa Mercantil e Industrial dos Produtores de Sorriso e a Copasul, Cooperativa Agrícola Sul Matogrossense.

De acordo com dados da Uqbar, empresa que atua com inteligência de mercado nos mercados de CRAs, CRIs, FIDCs e FIIs brasileiros, essas não foram as primeiras emissões de CRAs relacionados à Engelhart.

De acordo com um artigo publicado no site da consultoria, de janeiro de 2017 a junho de 2023 foram identificadas 8 operações de CRAs relacionados à Engelhart, totalizando mais de R$ 10 bilhões em emissões.

Nesse CRA recorde, também foram quatro séries de operação. Essas séries têm lastro nas Letras Financeiras subordinadas (LFs), emitidas pelo próprio BTG.

A 1ª série terá remuneração equivalente a 109% do CDI ao ano, e conta com um montante de R$ 1,02 bilhão.

A 2ª série será remunerada pelo CDI acrescida de 1% ao ano, com R$ 324 milhões. Já a 3ª série é atualizada monetariamente pelo IPCA e possui juros de 6,4338% ao ano, com R$ 1,34 bilhão.

Por fim, a última série possui uma taxa fixa de 11,78% ao ano e R$ 814 milhões. Os títulos desse CRA de R$ 3,5 bilhões, que foi o 92º emitido pela Opea, vencem em julho de 2033.

No anúncio de encerramento da oferta, o número total de investidores desse CRA de R$ 3,5 bilhões - somando as quatro séries - ficou em 27,5 mil pessoas físicas, cinco fundos de investimentos, 271 pessoas jurídicas, três instituições financeiras e um clube de investimento.

O chamado período de reserva, que é quando um investidor precisa informar à corretora quantos papéis pretende comprar, ocorreu em junho.

Inicialmente, a oferta começaria com duas séries e uma emissão mínima de R$ 1,6 bilhão, mas com a possibilidade de atingir até quatro séries e aumentar o valor, a depender da demanda, algo que ocorreu no fim das contas.