Depois de anos de El Niño, La Niña, secas, estiagens e, por fim, as enchentes do Rio Grande do Sul, o risco climático está cada vez no radar das instituições financeiras na hora de conceder crédito no campo.

A avaliação é da Austin Rating, a principal agência nacional de classificação de risco, que acaba de publicar um estudo sobre o tema.

Há quase quatro décadas no mercado, a agência sempre esteve atenta aos riscos climáticos – inerentes à agricultura – em suas análises, mas há cinco anos começou a intensificar esse tipo de avaliação.

"E no último ano começamos a treinar os nossos analistas para olhar com mais detalhes esse tipo de risco, ainda mais depois do episódio no Rio Grande do Sul no primeiro semestre", detalha Erivelto Rodrigues, CEO da Austin.

Em seu estudo, a Austin mapeou impactos climáticos diretos e indiretos para o agronegócio e outros segmentos como construção civil e setor bancário.

A agência destaca que esses riscos precisam ser avaliados porque são processos que “estão se intensificando” e “não tem volta”.

São fatores diversos, que vão dos óbvios desastres naturais até temas que não parecem ter uma relação tão evidente em termos de risco, caso da transição para a economia verde, por exemplo.

Dada a multiplicidade de ventos contrários, segundo Rodrigues, não há um risco mais importante que outro. "Tudo precisa ser analisado, não tem um mais relevante ou menos relevante.”

No caso específico do agronegócio, alguns riscos listados pela agência já são velhos conhecidos de quem está no campo.

É o caso, por exemplo, de eventos climáticos extremos, como secas, inundações e tempestades. Segundo a Austin, esse é um risco que pode afetar a receita e a produtividade dos produtores, desencadeando em dificuldades financeiras.

Danos à infraestrutura das propriedades, como sistemas de armazenagem e irrigação, também entram nessa conta pela possibilidade de aumento de custos operacionais, de acordo com a Austin.

A novidade maior para o produtor está, na verdade, nos impactos indiretos – e, no fim das contas, tudo envolve os custos da adaptação à mudança do clima.

De acordo com o estudo da agência, mudanças nos padrões climáticos, com alterações de temperatura e precipitação podem afetar a produtividade.

“Isso pode levar a uma necessidade de adaptação e investimentos em novas tecnologias e práticas agrícolas, impactando a capacidade de pagamento das dívidas”, indica a Austin.

Outro impacto indireto dos riscos climáticos para o crédito – e que não parece tão óbvio – são regulamentações ambientais, tanto aquelas que estão sendo adotadas no momento, quanto as que poderão surgir mais à frente.

Segundo a Austin, políticas mais rígidas, que exijam o controle de gases do efeito estufa e o uso de técnicas sustentáveis, podem afetar os negócios no campo. “O custo dessas mudanças pode impactar a rentabilidade e, por consequência, o risco de crédito”, diz o estudo.

Desde que a Austin redobrou a atenção para risco climático em suas análises, não houve casos de rebaixamento de rating envolvendo operações do agronegócio, mas, em três casos, a nota dada pela Austin passou a ter observação negativa.

O rebaixamento por parte das agências de classificação de risco é relevante porque denota que a empresa está mais vulnerável e pode ter dificuldade de cumprir seus compromissos. Isso contribui para encarecer as emissões de dívida feitas pelas companhias.