Depois de colher bons resultados no Brasil com o programa Reverte, programa de agricultura regenerativa que apoia a recuperação de solos degradados no Cerrado brasileiro, a companhia de insumos Syngenta e o banco de investimentos Itaú BBA vão levar o programa para o Paraguai nesta safra 2025/2026.
O país vizinho tem sofrido com perda de cobertura florestal e degradação de seu territórios com o avanço das áreas agrícolas e de pecuária nas últimas décadas. A área florestal total do Paraguai diminuiu 17% entre 1990 e 2010, de aproximadamente 21,2 milhões de hectares para 17,6 milhões de hectares, de acordo com dados compilados por um projeto da Comissão Europeia e Nações Unidas.
Há dez anos, 51,6% das terras do Paraguai estavam degradadas, de acordo com Relatório de Neutralidade da Degradação de Terras do Paraguai, submetido à Convenção das Nações Unidas para o Combate à Desertificação em 2015.
Hoje, esse número pode ser ainda maior com a abertura de novas áreas para produção agrícola e pecuária. O grande foco de desmatamento está no Gran Chaco, ao norte do Paraguai, que atingiu um pico de perdas em 2019, com cerca de 244,3 mil hectares desmatados naquele ano – ao todo, o Chaco paraguaio possui 13,8 milhões de hectares de florestas.
"O Paraguai tem grande parte de sua área hoje degradada, especialmente no Chaco. Temos muita possibilidade de escalar o projeto", avalia Guillermo Delgado, head de sustentabilidade da Syngenta para a América Latina, em entrevista ao AgFeed.
O Reverte deve iniciar no Paraguai abrangendo entre 2 mil e 5 mil hectares. O número exato ainda não está fechado porque as negociações ainda estão sendo feitas com os produtores rurais que serão os primeiros do projeto no país, explica Delgado.
"Neste ano, podemos ter no mínimo, dois, e no máximo, quatros produtores, dependendo da agilidade do Itaú em selecionar os clientes que lhes apresentamos", afirma.
A ideia é que o programa esteja alcançando 20 mil hectares já no ano que vem. Delgado diz que existem produtores com operações no Brasil e no Paraguai que já aderiram ao Reverte em sua produção brasileira e agora querem repetir a experiência no país vizinho.
Assim como no Brasil, o Itaú vai atuar no programa fornecendo crédito aos produtores. O banco possui uma operação no país, que oferecerá aos produtores que aderirem e cumprirem as condições do programa empréstimos a prazo e taxas preferenciais, que serão definidas de acordo com a situação do produtor.
“O Itaú vai fazer a análise pontual de cada produtor, sempre garantindo que vai dar taxas diferenciais que hoje não estão no mercado e com prazos mais acessíveis”, diz Delgado, sem detalhar quais condições de pagamento estão previstas. No Brasil, o Itaú oferece prazo de até dez anos e período de carência de até três anos.
No Paraguai, o programa também terá a parceria da Fundação Solidaridad para validação dos critérios de implementação das práticas agrícolas e o monitoramento agronômico nas lavouras.
A Syngenta pretende levar o projeto a outros países da América Latina, segundo Delgado, ainda que isso não tenha uma data definida para acontecer.
“Estamos trabalhando para trazer o Reverte à Argentina. Também queremos levar para outros países latinos, como México, Colômbia e Peru, onde também há muitos terrenos degradados. Tendo conseguido tirar do papel o Reverte no Brasil, há a possibilidade de replicá-los em outros países”, afirma o executivo da Syngenta.
No Brasil, para aderir ao programa Reverte, as fazendas precisam cumprir parâmetros como não ter praticado desmatamento ilegal após 22 de julho de 2008, não ter convertido vegetação nativa após janeiro de 2018 e estar em conformidade com o Código Florestal brasileiro e a legislação ambiental do país.
Além disso, a iniciativa exige que o produtor tenha um engenheiro agrônomo responsável ou uma consultoria agronômica que compartilhe regularmente o manejo utilizado na área.
A partir disso, é criado um protocolo exclusivo utilizando as tecnologias da Syngenta para restaurar a terra, o que inclui a aplicação de corretivos e fertilizantes, rotação de culturas agrícolas, plantio de culturas de cobertura e adoção do sistema de plantio direto. No lado financeiro, o Itaú entra financiando essa transformação.
Por aqui, desde que passou a ser implementado no campo brasileiro, em 2021, numa parceria entre Syngenta, a organização The Nature Conservancy (TNC) e o Itaú BBA, o programa Reverte já fez operações em 365 fazendas operações até agora, somando R$ 1,9 bilhão em financiamento e 262,2 mil hectares em recuperação, com foco na conversão para produção de soja e milho no Cerrado brasileiro.
Apesar de o volume de áreas recuperadas pelo Reverte ser significativo, ainda há bastante trabalho a fazer. Isso porque a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) projeta que o Brasil tem hoje 28 milhões de hectares em estágio de degradação de médio a severa com potencial para conversão, com um custo total estimado em R$ 482,6 bilhões, nas contas do Itaú BBA.
O potencial da recuperação dessas áreas, no entanto, é trilionário, também segundo cálculo feitos pelo banco de investimentos do Itaú, uma vez que a conversão de áreas degradadas pode ampliar em 52% a produção nacional de grãos, além de gerar R$ 904 bilhões apenas em valorização fundiária.
Em Mato Grosso, terras de pastagem avaliadas em R$ 14,5 mil por hectare podem chegar a R$ 50 mil após a conversão. Em regiões consolidadas na produção agrícola matogrossense, como Sorriso e Primavera do Leste, o valor pode passar de R$ 80 mil.
Além, é claro, de diminuir a pegada de carbono deixada pelo agro: ao evitar a abertura de 28 milhões de hectares de novas áreas de produção agrícola, convertendo terrenos hoje em estado de degradação, o Brasil pode deixar de emitir até 3,5 bilhões de toneladas de CO2 equivalente.
Resumo
- Syngenta e Itaú BBA vão implantar programa Reverte no Paraguai, com previsão inicial de alcançar entre 2 mil a 5 mil hectares na safra 2025/2026
- Programa terá financiamento com taxas e prazos diferenciados e contará com apoio da Fundação Solidaridad para monitoramento técnico
- Objetivo é expandir a recuperação de áreas degradadas no país vizinho, replicando modelo já implementado em 262,2 mil hectares no Brasil