O banco Santander acaba de aprovar mais um financiamento para a Be8, companhia que é uma das líderes do mercado nacional de biodiesel. O crédito será de R$ 90 milhões e é o terceiro destinado à empresa desde julho do ano passado.
Antes dele, outros R$ 100 milhões em recursos “verdes” já haviam sido liberados. Além das condições financeiras, porém, os contratos firmados carregam exigências de cunho socioambiental.
Destinados a investimento no aperfeiçoamento das operações da empresa, maior produtora de biodiesel do Brasil, eles devem resultar em melhorias do perfil socioambiental da produção.
A contrapartida acordada para esta nova transação foi a utilização de um volume de ao menos 20 mil toneladas de óleo de cozinha usado (UCO, na sigla em inglês) na composição do biodiesel produzido em 2023, o que representa uma elevação de 48% em relação ao volume de 2022.
Segundo dados da ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis), o uso de UCO como matéria-prima para produção de biodiesel em 2017 era de 58,5 milhões de litros. De lá para 2022, o montante avançou 152%, e bateu os 148 milhões de litros.
A inserção do insumo traz uma série de vantagens ambientais. Além da reutilização do material que seria descartado no ambiente, as emissões de gases efeito estufa do biodiesel produzido com UCO podem ser até 40% inferiores às verificadas no combustível derivado do óleo de soja virgem e até 80% menores que as do diesel convencional, a base de petróleo, de acordo com análise interna da Be8.
“Temos um papel importante, como instituição financeira, de atuar no fomento a práticas sustentáveis nos negócios que fazemos com nossos clientes. No caso da Be8, encontramos diferentes atividades que se encaixam com perfeição nesta premissa, o que abriu espaço para parcerias recorrentes”, afirma Esther Dominguez, head de Finanças Sustentáveis do Santander Brasil.
Na primeira operação entre Santander e Be8, o compromisso estava vinculado à ampliação do programa “Ser Sustentável”, que tem como parceira a Cooperativa Amigos do Meio Ambiente (COAMA).
A instituição, que atua com recicladores, possui licença ambiental para fazer o recolhimento de óleo de cozinha usado de estabelecimentos comerciais e de residências em Passo Fundo (RS).
A expectativa era reduzir o impacto ambiental causado pelo descarte inadequado do resíduo no meio ambiente e a elevação em 15% da renda de famílias que já faziam parte da cooperativa.
Na prática, essa iniciativa instalou novos pontos de coleta e forneceu mais equipamentos para acondicionamento no transporte do óleo coletado, que tem como destino a produção de biodiesel, completando o ciclo da economia circular.
Nos oito meses da implantação desse programa, a receita bateu R$ 23,3 milhões. O montante, por sua vez, foi repartido entre os participantes do projeto e serviu para aumentar as rendas mensais de cada um deles em quase 25%, acima da meta projetada antes do projeto ser colocado em prática.
O segundo financiamento foi utilizado para aumentar a participação do volume de gorduras animais como matéria-prima e a geração de Créditos de Descarbonização (CBIOS) oriunda de fornecedores participantes do Programa Crédito de Fornecedor Sustentável 2SC.
Segundo Esther Dominguez, o Santander olha para diversas iniciativas ESG, mas principalmente aquelas das Letras E e S, referentes a questões ambientais e sociais.
Segundo a executiva, o espectro de iniciativas que recebem financiamento é amplo, mas tem sido focado em energias renováveis e temas relacionados à reciclagem. Na parte social, o Santander tem dado apoio a financiamentos em saneamento.
“Nosso objetivo é acompanhar e ajudar os clientes na transição energética de economia, com temas que tenham impacto. O banco está com um foco cada vez mais intenso em fomentar esse tipo de linha, com uma equipe focada em estruturar esse tipo de operação”, disse a head de investimento sustentável.
Dominguez não entrou em números, mas disse que 2023 é um ano recorde para o Santander em financiamento concedido para iniciativas ESG. Ao todo, o ano deve contar com mais de 100 operações nesse âmbito.
Em entrevista recente ao AgFeed, o CEO da Be8, Erasmo Battistella, comentou que os planos da empresa englobam a construção da primeira usina de etanol em grande escala no Rio Grande do Sul e de uma planta no Paraguai, com foco em ampliar a produção de biodiesel a ser exportado para uso na aviação e transporte marítimo.
Para tal, a Be8 está investindo cerca de R$ 3 bilhões na expansão, que deve durar até o ano de 2027.