Os produtores de biocombustíveis deram nesta sexta-feira, dia 3 de outubro, em Belém (PA), o primeiro passo de uma mobilização em defesa do setor, que deve se estender até a COP 30, a Conferência da Organização das Nações Unidas (ONU), em novembro de 2025, também na capital paraense.

As principais lideranças do setor realizaram, na sede da Federação das Indústrias do Estado do Pará (Fiepa), o evento “Etanol & COP30: Liderança Brasileira Energética Global”, que reuniu entidades representativas e especialistas para debater o papel estratégico do setor de biocombustíveis nos assuntos que vão permear a conferência, que envolvem a transição energética e o combate às mudanças climáticas.

A iniciativa foi coordenada pelas entidades Bioenergia Brasil e União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia (Unica), que congregam as empresas do setor, além do Sindicato da Indústria de Fabricação de Etanol do Estado do Pará (Sindicanálcool) e da Fiepa.

De acordo com Mário Campos, presidente da Bioenergia Brasil, o encontro de Belém inaugura uma “jornada” que vai se estender até a realização do evento.

A ideia é influenciar os negociadores climáticos para que aceitem a tese de que o etanol e outros biocombustíveis possam ser reconhecidos como alternativa sustentável aos combustíveis fósseis.

“O que nós esperamos para a COP é que, de fato, os biocombustíveis sejam considerados uma opção real, escalável, economicamente viável e sustentável para substituir os fósseis”, afirmou Campos, em entrevista ao AgFeed.

Como forma de reforçar suas ideias, o setor estará presente na Blue Zone, a área mais restrita do evento, acessada por negociadores, com um estande da “mobilidade sustentável”, reunindo os representantes das indústrias de etanol, biogás, biometano e automobilística.

O setor também pretende lançar, durante a COP, a “Carta de Belém”, um documento que pretende servir como instrumento de influência para as negociações multilaterais da conferência.

“Queremos reforçar que os nossos biocombustíveis são parte da solução global para a descarbonização”, diz Campos.

Além do estande conjunto na Blue Zone, o setor terá ainda presença na AgriZone, espaço organizado pela Embrapa Amazônia Oriental a poucos quilômetros do Parque da Cidade, sede da conferência, com a realização de debates no dia 19 de novembro, em parceria com a CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária) e a CNI (Confederação Nacional da Indústria).

O próprio presidente da COP 30, embaixador André Corrêa do Lago, tem defendido em declarações públicas que os biocombustíveis devem ser um tema central na agenda da delegação brasileira na conferência.

No mês passado, em uma reunião com representantes da indústria internacional, na Semana do Clima de Nova York, Corrêa do Lago disse que o Brasil está elaborando uma proposta a ser levada, aos líderes da COP 30, para que os governos endossem o compromisso de elevar em quatro vezes, a nível global, a produção e o uso de combustíveis sustentáveis – biocombustíveis, biogases, combustíveis sintéticos e hidrogênio e seus derivados – até 2035.

“Para atingir esse objetivo, precisamos colaborar e trabalhar juntos para superar as barreiras existentes, como a falta de interoperabilidade das metodologias de contabilidade de carbono, os altos custos, a falta de sinais claros de demanda e, em alguns casos, a necessidade de investimento em novas infraestruturas”, afirmou Corrêa do Lago.

Segundo o embaixador, a proposta se basearia em um estudo da Agência Internacional de Energia (AIE), que apresentou resultados preliminares indicando ser possível quadruplicar o uso de combustíveis sustentáveis até 2035.

O relatório completo deve ser divulgado, junto com o compromisso, na pré-COP, evento que será realizado entre os dias 13 e 14 de outubro, em Brasília (DF).

União Europeia diverge

A defesa dos biocombustíveis ganha relevância porque, na União Europeia, que tradicionalmente tem forte presença na COP, ainda persiste a visão de que essas fontes não seriam totalmente sustentáveis, seja pela suposta competição com a produção de alimentos, seja pelos possíveis impactos ambientais ligados à sua fabricação.

“A produção de matéria-prima para biocombustíveis à base de culturas alimentares e forrageiras ocorre frequentemente em terras agrícolas que antes eram utilizadas para a agricultura, para o cultivo de alimentos ou rações”, defende a UE em sua página na internet.

O bloco argumenta ainda que, como essa produção continua sendo necessária, a expansão para biocombustíveis pode acabar pressionando a abertura de novas terras, inclusive em áreas com alto estoque de carbono, como florestas, pântanos e turfeiras, processo conhecido como mudança indireta do uso da terra (ILUC, na sigla em inglês).

“Como pode causar a liberação de CO2 armazenado em árvores e no solo, a ILUC representa um risco para a economia de gases de efeito estufa resultante do aumento da produção de biocombustíveis à base de culturas alimentares e forrageiras”.

Ainda assim, o bloco acredita que os biocombustíveis podem ajudar o bloco a reduzir as emissões de gases de efeito estufa. Até 2030, a União Europeia espera atingir uma participação de 29% de energia renovável no setor de transportes ou reduzir em 14,5% a intensidade das emissões dos combustíveis utilizados nesse setor.

A adoção dos biocombustíveis também é uma forma, na avaliação do bloco, de melhorar a segurança do abastecimento da União Europeia – ainda muito dependente de combustíveis fósseis e gás natural trazidos do Oriente Médio e da Rússia.