Este repórter e tantas outras pessoas foram pegas no susto quando começou um corre-corre na sala de imprensa para fugir do incêndio que consumiu estandes dentro do pavilhão da Blue Zone, no início da tarde desta quinta-feira, 20 de novembro.

"Fogo!", "Fogo!", gritavam algumas pessoas, que passaram correndo. Ainda bem. Pois, como estávamos todos na sala de imprensa, bem distante do foco do incêndio, não havia nem cheiro de fumaça e muito menos barulho das chamas. Não foi possível ouvir sirenes.

Com o pânico generalizado, todos saíram rapidamente por uma porta de emergência aos fundos da sala de imprensa - e muitos deixaram pertences para trás.

A partir daí, no entanto, o cenário ficou um tanto confuso. Afinal, não sabíamos por onde sair, se deviamos ir embora, esperar o fogo ser controlado do lado de fora, enfim, o básico. Mas nem isso a organização da COP conseguiu fazer.

Não havia qualquer orientação oficial, de bombeiros ou seguranças, sobre o que estava de fato acontecendo. Restava apenas contar com as informações que se espalhavam na base do boca a boca e do celular.

Alguns guardas até tentavam dar alguma ordem, mas sem sucesso frente à multidão que rapidamente se formou. Caminhões de bombeiros chegavam o tempo todo, um atrás do outro, na tentativa de controlar rapidamente o incêndio.

A sensação que fica é de alívio, uma vez que não houve feridos e o Corpo de Bombeiros foi ágil em controlar o incêndio. Mas é bom lembrar que a ONU já tinha cobrado ao governo brasileiro melhorias na estrutura.

É verdade que a sinalização melhorou e que o ar-condicionado em algumas áreas passou a funcionar. Mas a estrutura ainda tinha deficiências.

No começo da manhã, por exemplo, estava insuportável circular pela Green Zone, sem ventilação e lotada de visitantes, que aproveitaram o feriado do Dia da Consciência Negra para conhecer o espaço.

O episódio não vai colocar por água abaixo todo o esforço da população local e dos governos para botar de pé a COP na Amazônia. Acidentes acontecem e ainda não se sabe o que exatamente causou o incêndio. Mas fica o alerta de que, se o País quiser hospedar novos eventos do tipo, precisará melhorar – muito – sua estrutura.

Ficou evidente ao longo das últimas duas semanas que a organização da COP estava precária e aquém da grandeza do evento e do País. Será que a ONU terá coragem de um dia instalar sua principal conferência novamente no Brasil, diante de tantos problemas? Fica a dúvida.

Pelo menos não era inflamável

Parte das lonas que abrigam a Blue Zone queimaram, é verdade, mas o fogo não causou um incidente maior porque o material que as reveste é anti-chamas, segundo o ministro do Turismo, Celso Sabino, e isso ajudou a conter a gravidade do incêndio, para que não se espalhasse rapidamente, evitando uma grande tragédia como a da boate Kiss, em Santa Maria (RS), de 2012.

Green Zone aberta

Apesar do incidente na área restrita, a Green Zone, espaço da COP aberto à população, seguiu operando ao longo desta quinta-feira. No momento do incêndio, porém, houve evacuação do espaço e princípio de tensão porque todo o processo era feito por apenas uma porta de acesso.

E o dia de amanhã?

A Blue Zone ficou fechada até as 20h desta quinta-feira. Mas a grande dúvida estava em relação ao que será da sexta-feira, dia em que, em tese, a COP se encerra. Como ficará o acesso à Blue Zone? Apenas negociadores e imprensa vão acessar? E quem tinha seus pertences, como vai recuperar? Dúvidas a serem ainda sanadas pela ONU.

Protesto na AgriZone

A quinta-feira foi mesmo problemática em Belém. Pela manhã, manifestantes ficaram em frente à AgriZone, o espaço da Embrapa na COP, caracterizados como pulverizadores de veneno, utilizando máscaras e roupas de proteção e cartazes com frases de protesto contra multinacionais do setor. “O agronegócio, a Bayer e a Nestlé garantem que não faz mal à saúde", dizia um cartaz. "Regulação internacional dos agrotóxicos”, pedia outro.