Belém (PA) - Erasmo Carlos Battistella, CEO da Be8, uma das maiores produtoras de biodiesel do Brasil, já participou de outras COPs e aproveitou a realização da COP 30 – desta vez em solo brasileiro – para pregar a palavra dos biocombustíveis e dissipar dúvidas de visitantes estrangeiros sobre a possibilidade do “food vs fuel”.
A companhia, única grande empresa de biocombustíveis com um estande na green zone da conferência da ONU – e direito a um caminhão movido a biodiesel e que pode emitir 99% em comparação com um veículo abastecido com diesel comum – foi com um objetivo bem claro para a conferência.
“Nós estamos trazendo aqui informações importantes sobre o setor e isso é muito importante para que os países, as delegações do fora do Brasil possam conhecer na realidade o trabalho que nós estamos fazendo”, afirma Battistella.
“Outro ponto importante também é que a gente está trazendo a desmistificação sobre os biocombustíveis na relação entre alimento e energia, e demonstrando na prática que os biocombustíveis são muito positivos para o agronegócio do Brasil, para as pessoas, meio ambiente e economia”, emenda o CEO da Be8, que conversou com o AgFeed na tarde desta terça-feira, dia 11 de novembro, pouco antes de fazer um anúncio importante no espaço da Be8.
A companhia assinou um protocolo de intenções com o Investe Piauí, órgão de fomento do governo do Piauí, para estabelecer “cooperação institucional com vistas à investimentos” para a ampliação da capacidade produtiva da fábrica de biodiesel da Be8, localizada na cidade de Floriano, e que pertencia à Biopar até o ano passado.
A ideia é também instalar no local da unidade de Floriano uma segunda fábrica, destinada à produção de Be8 BeVant, um biocombustível exclusivo da companhia e renovável, que pode ser usado 100% puro em motores diesel e, de acordo com a empresa, tem potencial de reduzir até 99% das emissões do tanque à roda quando comparado ao diesel de origem fóssil.
Com isso, o BeVant, que hoje é produzido em Passo Fundo, com capacidade de 120 mil litros por dia, poderia ter alcance nas regiões Norte e Nordeste, segundo Battistella.
Hoje, a fábrica de Floriano tem capacidade de produzir 90 milhões de litros por ano, que poderá ser ampliada a partir do investimento. O volume futuro ainda é incerto, segundo Battistella, porque depende de estudos de viabilidade técnica e econômica-financeira, além do cronograma preliminar de implantação.
A fábrica de Floriano está sob o controle da Be8 desde o início deste ano, assim como as usinas de Nova Marilândia (MT) e Santo Antônio do Tauá (PA), adquiridas da Biopar.
"Essa unidade de Floriano, especialmente, tem uma ligação histórica com o biodiesel. Foi de lá que saiu a primeira nota fiscal comercial de produção de biodiesel no Brasil entre 2005 e 2006", ressalta Battistella.
Com a adição das fábricas da Biopar ao seu parque produtivo, ampliando sua capacidade produtiva de 1,090 bilhão para 1,47 bilhão de litros de biodiesel por ano, e também beneficiada pelo aumento da mistura obrigatória de biodiesel no diesel, de 14% para 15%, o faturamento da Be8 deve ultrapassar R$ 11 bilhões neste ano, segundo Battistella. Se confirmado, o número representaria uma alta de % em relação aos R$ 7,3 bilhões do ano passado.
Além das indústrias adquiridas, a Be8 tem produção também em Passo Fundo, Marialva (PR), e fora do país, nas cidades de La Paloma del Espíritu Santo, no Paraguai, e Domdidier, na Suíça.
Em paralelo ao projeto no Piauí, a companhia continua erguendo a usina que vai produzir etanol obtido a partir do trigo e outras culturas de inverno em Passo Fundo.
A Be8 estima que, na unidade, vai produzir 209 milhões de litros de etanol anidro e 25,6 mil toneladas de glúten vital por ano, além de 153 mil toneladas de DDGS, farelo que é um subproduto da produção de etanol e é destinado para nutrição animal. Ao todo, serão processadas 525 mil toneladas de cereais por ano, que servirão de matéria-prima para a produção.
Para erguer o complexo industrial, que envolve ainda uma fábrica de glúten vital, a Be8 já obteve R$ 1,019 bilhão em financiamentos junto ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
Battistella conta que a Be8 vinha discutindo o projeto há quatro anos, especialmente com a Embrapa. Para que a estrutura não fique dependente apenas do trigo, que apesar de ser o cereal de maior disponibilidade no Rio Grande do Sul, também é bastante frágil às intempéries climáticas - a companhia optou por uma estratégia "multicereais", segundo o CEO.
"É uma estratégia também de nós fomentamos com parceiros grande parte da nossa matéria-prima, ou seja, aumentar a produção de trigo e de triticale no inverno, principalmente. Mas é também a estratégia de nós termos outros cereais, como sorgo e milho. Acreditamos que essa flexibilidade é o nosso ponto forte", diz o executivo.
A Be8 pretende envolver cerca de 1 mil produtores em um programa de fomento ao cultivo do trigo e outras culturas de inverno, que começou neste ano. A empresa mantém relação com mais de 10 mil produtores, entre agricultores, cooperativas e cerealistas.
Emissão 99% menor
Além da assinatura do protocolo de intenções com o governo do Piauí, a Be8 também apresentou resultados de uma iniciativa chamada Rota Sustentável, que foi feita em parceria com a montadora Mercedes-Benz, e que levou dois caminhões e dois ônibus, que usam os motores Euro 6, do Sul ao Norte do Brasil.
Esses veículos, movidos com o biocombustível Be8 BeVant e diferentes proporções de biodiesel, saíram de Passo Fundo, no Rio Grande do Sul, e chegaram recentemente à Belém, cumprindo um trajeto de aproximadamente 4 mil quilômetros.
Ao final da caravana, a Be8 afirma que foram reduzidas em aproximadamente 99% as emissões de gases de efeito estufa na avaliação com biocombustível 100% em motores Euro 6 dentro do conceito de “tanque à roda”, ou seja, do momento em que sai do tanque até chegar ao veículo.
Isso acontece porque o biocombustível utilizado, produzido a partir de fontes renováveis como o óleo de soja, já absorveu CO2 equivalente da atmosfera durante o seu cultivo. Na prática, de acordo com a empresa, o que foi emitido pelo veículo ao rodar foi praticamente compensado pelo que a planta retirou do ar antes de virar combustível.
Examinando o ciclo completo do “poço à roda”, da produção do combustível até seu uso, os dados preliminares apontaram uma redução de cerca de 65% nas emissões de CO2e. A avaliação foi feita pelo Instituto Mauá de Tecnologia.
A proposta metodológica seguiu padrões reconhecidos, como o Protocol GHG, e utilizou dados certificados por programas como o RenovaBio e o ISCC, o que garantiu rastreabilidade e comparabilidade dos resultados.
“Essa ação de avaliação é muito significativa para a Mercedes-Benz e para a Be8 porque promoveu análises em operação real com caminhões e ônibus lastreados percorrendo estradas brasileiras, utilizando um biocombustível alternativo que é uma solução de curto prazo para a descarbonização do nosso setor de transporte de cargas e de passageiros“, diz Luiz Carlos Moraes, diretor de Comunicação e Relações Institucionais da Mercedes-Benz do Brasil, em nota.
Resumo
- Na COP 30, a Be8 anunciou projeto para ampliar a planta de Floriano (PI) e construir uma segunda fábrica dedicada ao Be8 BeVant, biocombustível desenvolvido exclusivamente pela empresa
- Com a incorporação das usinas da Biopar e a expansão da capacidade produtiva, o faturamento pode chegar a mais de R$ 11 bilhões em 2025
- Companhia também apresentou os resultados da “Rota Sustentável”, em parceria com a Mercedes-Benz, mostrando reduções de até 99% nas emissões