Primeira usina de etanol de trigo do Brasil deve começar a operar no início de 2026

Após vários adiamentos, a primeira usina de etanol de trigo do Brasil deve começar a entrar em operação já no início de 2026.

A informação foi antecipada ao AgFeed por Tiago Gorski Lacerda, diretor da CB Bioenergia, que está erguendo em Santiago (RS), na região central do Rio Grande do Sul, o que será a primeira unidade industrial do País a produzir biocombustível a partir de trigo e outros cereais de inverno como triticale, cevada, centeio e milho.

A empresa acaba de conseguir a licença de operação do governo do Rio Grande do Sul, liberada na segunda-feira, dia 24 de novembro, autorizando o início das atividades.

Agora, a CB aguarda apenas uma vistoria da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), que deve acontecer em meados de dezembro deste ano, para dar início à operação já em janeiro de 2026.

A primeira usina de etanol de trigo do Rio Grande do Sul deve produzir 1,3 milhão de litros de etanol hidratado por mês e 1,1 milhão de litros de álcool neutro por mês, além de 2,1 mil toneladas de WDGS e 810 toneladas de DDGS, subprodutos de alto valor nutricional utilizado na nutrição animal.

A unidade industrial vai se concentrar na fabricação de etanol hidratado, visando o mercado de aviação agrícola, e de álcool neutro, para atender indústrias de bebidas e cosméticos. A usina da CB não deve produzir etanol anidro.

“No Rio Grande do Sul, 50% da aviação agrícola consome etanol, que vem de fora do estado. Para mim, faz mais sentido vender direto para a aviação, agregando mais valor, do que vender o anidro por um preço mais baixo para ser misturado na gasolina”, afirmou o empresário e produtor rural Cássio Bonotto, idealizador do empreendimento, em entrevista ao AgFeed em agosto do ano passado.

Bonotto teve a ideia de levantar a estrutura em 2018, quando chegou a cogitar deixar de lado as plantações de trigo, após várias safras ruins consecutivas, e resolveu seguir o exemplo bem-sucedido de biocombustível produzido a partir de grãos no Centro-Oeste.

“Mas, pior que plantar o trigo, era não plantar, porque não dá para botar todos os custos da propriedade na conta da soja. Então, eu comecei a pesquisar alternativas. Comecei a visitar usinas de grãos no Centro-Oeste, onde eles tinham o mesmo problema com o milho safrinha antigamente, e me espelhei neles”, afirmou.

A construção da usina, que se iniciou em 2022, já consumiu pelo menos R$ 100 milhões de Bonotto, e teve sua inauguração adiada algumas vezes.

Em outra região do Rio Grande do Sul, no Norte do estado, a Be8, uma das maiores produtoras de biodiesel do Brasil, vem avançando na construção de sua usina de etanol obtido a partir do trigo e outras culturas de inverno em Passo Fundo (RS).

A planta da companhia terá uma capacidade bem maior que a usina da CB Bioenergia, sendo capaz de produzir 210 milhões de litros de etanol, 153 mil toneladas de DDGS e 27 mil toneladas de glúten vital.

A Be8 conseguiu do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) alguns financiamentos para erguer a estrutura. Inicialmente, em março de 2024, a companhia obteve financiamento de R$ 729,7 milhões do banco público para construir a fábrica.

Depois, em julho passado, o BNDES aprovou novo financiamento, de R$ 290,2 milhões para a construção de uma fábrica de glúten vital anexa à usina de etanol.

As obras começaram em abril passado e a expectativa da Be8 é de que a fábrica comece a operar no segundo semestre de 2026.

Com a entrada em operação das indústrias, o Rio Grande do Sul deixará de ficar totalmente dependente do etanol trazido de grandes centros produtores como São Paulo e Mato Grosso do Sul, distantes do extremo sul do Brasil, o que dificulta a logística, encarece o preço do etanol e desestimulando o consumo.

Com as indústrias, há a expectativa de mais uma possibilidade de comercialização dos cereais de inverno para o produtor, fazendo com que áreas produtivas ociosas no Rio Grande do Sul sejam ocupadas com plantação de trigo e outras culturas de inverno.

Muitos produtores gaúchos ficam com receio de cultivar o trigo no inverno após o plantio da soja no verão pelas dificuldades de comercialização e vulnerabilidade às oscilações climáticas – o cereal é colhido a partir de setembro, na primavera, estação do ano em que chove muito no estado.