Belém (PA) - Enquanto o governo brasileiro segue com as negociações para angariar fundos para o TFFF (Tropical Forest Forever Facility), o fundo das florestas tropicais, um grupo de bancos multilaterais, liderado pelo BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), anunciou na COP 30 a mobilização de US$ 185 bilhões para financiar projetos de resiliência climática.
O objetivo é ampliar a oferta de recursos para países com renda média ou baixa para que tenham condições de se adaptarem às mudanças climáticas, combinando iniciativas de adaptação e mitigação até 2030.
O grupo é composto por 10 bancos multilaterais de desenvolvimento, entre eles o Banco Mundial e o BID, presidido pelo brasileiro, Ilan Goldfajn, ex-presidente do Banco Central do Brasil.
Um dos diferenciais anunciados é a Cláusulas de Dívida Resiliente ao Clima, prevista nos contratos com o BID e BID Invest. Por meio dessa cláusula, países que integram a lista de selecionados para solicitar linhas de crédito podem adiar o pagamento do principal por um período de dois anos em caso de desastre natural, o que oferece alívio financeiro em momentos de estresse econômico. Outro instrumento que tende a melhorar o acesso é o Programa de Resiliência Empresarial do Setor Privado.
Por esse programa, o BID Invest criou um mecanismo pioneiro que protege investimentos privados contra uma gama mais ampla de choques externos que afetam a continuidade dos negócios, incluindo agora calor extremo e outros.
Essas cláusulas permitem adiamentos do principal e extensões do prazo de até dois anos, ajudando a reduzir o risco das transações e a liberar maior investimento privado em setores como agronegócio, infraestrutura, energia e turismo.
Do total anunciado (US$ 185 bilhões), US$ 120 bilhões são oferecidos pelos bancos. Outros US$ 65 bilhões, serão captados no setor privado. No ano passado, os bancos de desenvolvimento concederam e mobilizaram um recorde de US$ 118 bilhões para ações climáticas em países de baixa e média renda.
Segundo Goldfajn, os desastres climáticos estão ocorrendo com mais força e frequência, tendo custado ao mundo mais de US$ 320 bilhões apenas no ano passado. “Os países em desenvolvimento estão arcando com a maior parte desse impacto", disse.
Um exemplo recente desse cenário foi o tornado que atingiu o estado do Paraná no início de novembro e que causou seis mortes e prejuízos econômicos de mais quase R$ 115 milhões, segundo estimativas da CNM (Confederação Nacional de Municípios).
A mesma CNM, em outro estudo, calculou em R$ 732 bilhões os prejuízos acumulados com eventos climáticos como incêndios, secas e alagamentos no Brasil entre 2013 e 2024. Apresentado em março, o levantamento mostrou que 95% dos municípios foram afetados por algum tipo de catástrofe natural.
O anúncio feito na COP pelos 10 bancos multilaterais foi baseado em levantamento do BID, que mostrou que as mudanças climáticas estão causando rupturas econômicas, com impactos mais significativos em ecossistemas e sociedades mais vulneráveis do ponto de vista social e ambiental.
“O papel dos bancos multilaterais de desenvolvimento é ajudar os países a se prepararem, a investir em resiliência antes que a crise aconteça, não depois. Isso significa ampliar o financiamento, alinhar sistemas e tornar a resiliência central no modo como planejamos, construímos e crescemos. Juntos, podemos transformar o preparo em proteção e resiliência em oportunidade”, disse Goldfajn.
Além do BID e do Banco Mundial, estão na lista de bancos o Grupo Africano de Desenvolvimento, o Banco Asiático de Desenvolvimento, o Banco Asiático de Investimento em Infraestrutura, o Banco de Desenvolvimento do Conselho da Europa, o Banco Europeu para Reconstrução e Desenvolvimento, o Banco Europeu de Investimentos e o Banco Islâmico de Desenvolvimento.
Resumo
- Bancos multilaterais, liderados pelo BID, vão mobilizar US$ 185 bi para adaptação e mitigação climática em países de baixa e média renda até 2030
- Iniciativas incluem cláusulas que pausam dívidas após desastres e mecanismos que protegem investimentos privados contra choques climáticos extremos
- Meta é acelerar resiliência em setores como agro, energia e infraestrutura, diante do aumento de desastres que já custam bilhões ao ano