De olho na promoção de uma pecuária mais sustentável e transparente, gigantes da carne e do varejo estão se juntando para ajudar a acelerar um programa de rastreabilidade do gado liderado pelo governo do Pará, estado que tem um dos maiores rebanhos do Brasil.

O Grupo Carrefour Brasil anunciou nesta quinta-feira, dia 24 de abril, que aderiu ao programa Pecuária Sustentável, do governo do Pará, que foi lançado no fim de 2023, durante a COP28, realizada em Dubai.

Também integram a iniciativa empresas como a JBS e os frigoríficos Rio Maria e Mafrinorte.

O programa pretende fazer o processo de identificação individual de todo o rebanho do estado até dezembro de 2026. O estado tem o segundo maior rebanho bovino, com pouco mais de 25 milhões de cabeças, segundo dados do IBGE, perdendo apenas para Mato Grosso.

Com a rastreabilidade, é possível saber com precisão em qual fazenda cada animal nasceu e por quais propriedades passou ao longo de seu ciclo de vida e, dessa vez, rastrear a movimentação do gado nos fornecedores indiretos, que são as fazendas por onde o animal passa nas fases de cria e recria.

O Pará começou a colocar a identificação nos bovinos em setembro do ano passado, quando o boi Pioneiro recebeu dois brincos - um de identificação visual e um botton elétrico.

“Temos trabalhado para, por um lado, garantir a rastreabilidade do rebanho e, ao mesmo tempo, levar incentivos ao produtor, para garantir com que nessa transição, nesse avanço, ninguém fique para trás”, disse o governador do Pará, Helder Barbalho.

O chefe do Executivo local destacou ainda que, em março passado, o Pará atingiu a menor área com alertas de desmatamento da série histórica iniciada em 2019, chegando a 22 km². “Isso comprova que estamos no caminho certo e que seguiremos avançando”, comentou Barbalho.

Agora, o estado terá um incremento importante com o investimento de R$ 10 milhões feito pelo Carrefour. A JBS também vai entrar com um valor, que não foi revelado. O montante será destinado à compra dos brincos eletrônicos e dos bois.

Também está previsto o apoio a pequenos e médios produtores rurais do estado, com assessoria gratuita para regularização de fazendas, em uma colaboração entre Carrefour e JBS, além do engajamento de outros atores da cadeia como associações, bancos, outros frigoríficos e setor público.

"Para fazer transformações reais e poder chegar até o primeiro elo da cadeia, precisamos de uma colaboração multissetorial que envolva o poder público, a sociedade civil e diferentes atores do setor privado", diz Susy Yoshimura, diretora sênior de sustentabilidade do Grupo Carrefour Brasil, que conversou com o AgFeed por telefone, de Belém, logo depois de ter se reunido com o governo local.

Yoshimura diz que o Carrefour já adotava anteriormente medidas voluntárias de rastreabilidade.

Hoje, o grupo exige que seus fornecedores monitorem e não tolerem práticas de desmatamento, trabalho escravo ou infantil, embargos ambientais e invasões de terras indígenas e quilombolas e em áreas de preservação ambiental.

Além disso, no caso específico da indústria da carne, o Carrefour exige que os frigoríficos sejam signatários do protocolo Boi na Linha, que possuam ferramentas de geomonitoramento, que possam permitir nova análise das propriedades por um sistema de monitoramento do próprio Carrefour e que tenham CAR (Cadastro Ambiental Rural) ativo e licença ambiental se necessário.

“A gente tem interesse em apoiar movimentos que olhem para a rastreabilidade da produção pecuária, mostrando que é possível produzir com sustentabilidade. Esse é o grande objetivo dessa colaboração”, afirma Yoshimura.

Num primeiro momento, as 10 lojas do grupo no Pará, sob a bandeira Atacadão, vão ser as primeiras da empresa a comercializar produtos com a certificação do programa estadual.

A ideia, segundo Yoshimura, é expandir essa prática para lojas do grupo espalhadas por outros estados do Brasil. A rede conta com mil lojas em todas as unidades da federação, segundo a empresa, considerando as bandeiras Carrefour, Atacadão, Sam's Club, Bompreço e Nacional.

Dessa forma, é possível que, por exemplo, uma loja da rede Nacional no interior do Rio Grande do Sul, no extremo sul do Brasil, venda carne de gado de frigoríficos localizados do Pará, na região Norte.

O Pará também é um estado importante para a JBS, que já vinha apoiando o projeto e nesta quinta-feira também assinou o termo oficializando a participação no programa. A JBS possui unidades de processamento de carne e produção de couro no estado.

Logo na largada, em dezembro de 2023, a companhia dos irmãos Batista anunciou um aporte de R$ 5 milhões no Fundo Amazônia Oriental, um veículo controlado pelo governo do Pará e prometeu, na época, investir R$ 43,3 milhões ao longo de três anos para qualificar e rastrear a pecuária no estado.

A companhia também fez um projeto-piloto em sua unidade em Marabá (PA) para entender como se comportava a rastreabilidade dos animais.

Outra estratégia da JBS é a criação de Escritórios Verdes, que dá assistência técnica e apoio a produtores rurais interessados em regularizar suas propriedades. Hoje, são 20 unidades em sete estados brasileiros, entre eles, o Pará, com quatro escritórios.

“Por meio de investimentos em programas de rastreabilidade, regularização ambiental e requalificação comercial de pequenos produtores, a empresa tem contribuído com a evolução da pecuária no Estado", comentou Bruno Brainer, diretor de operações da Friboi na região Norte.

O frigorífico Rio Maria, com sede na cidade de mesmo nome, localizada no sul do Pará, que também participa da iniciativa, tem apostado em rastrear sua produção nos últimos anos.

Em julho de 2023, a empresa criou o chamado Protocolo de Rastreabilidade Individual e Monitoramento Indireto (Primi) em parceria com empresas parcerias como o curtume gaúcho Durlicouros e o Itaú Unibanco.

A ideia era brincar o gado de pecuaristas cadastrados. No fim de 2023, já eram mais de 40 fazendas certificadas e 113 mil brincos solicitados pelos produtores de gado.

“Entendemos que a rastreabilidade é uma exigência do futuro, e participar dessa transformação junto ao governo do Pará e demais parceiros mostra que é possível produzir com responsabilidade e agregar valor à cadeia da carne e do couro”, afirmou Roberto Paulinelli, presidente do Rio Maria.