Uma fala de surpresa do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, nesta quinta-feira, 17 de outubro, animou a indústria brasileira exportadora de carne bovina. Taxado em 76% - 26% da tarifa normal e mais 50% da sobretaxa imposta desde o final de agosto - o setor brilhou os olhos com a mensagem de Trump de que teria fechado um acordo para reduzir o preço da carne bovina para os consumidores estadunidenses.
Sem dar detalhes, Trump relatou, durante um evento no Salão Oval, que seus esforços para combater a inflação não renderam dividendos suficientes e que a carne bovina é uma das vilãs.
"Estamos trabalhando na carne bovina e acho que temos um acordo para a carne bovina que vai reduzir o preço", disse Trump, segundo informações da Bloomberg.
"Esse seria o único produto que diríamos que está um pouco mais caro do que queremos, talvez mais caro do que queremos, e isso também vai cair em breve. Fizemos algo, fizemos nossa mágica", concluiu Trump.
Os comentários do presidente foram feitos dias depois de ele receber o presidente argentino Javier Milei na Casa Branca para discutir comércio e financiamento para ajudar a impulsionar a economia daquele país e no momento em que Brasil e Estados Unidos iniciaram conversas bilaterais para a derrubada das sobretaxas impostas por Trump.
Os EUA são um grande importador de carne bovina dos dois países, mesmo com o Brasil taxado em 76% e a Argentina sujeita a uma cota anual antes da entrada em vigor das tarifas ampliadas.
Sem oferta local e com o menor rebanho em mais de 50 anos, os norte-americanos têm se tornado cada vez mais dependentes dos países da América do Sul e viram o preço da carne bovina disparar internamente.
As exportações brasileiras de carne bovina aos Estados Unidos somaram quase 200 mil toneladas até julho, o correspondente a todo o volume de 2024, e a expectativa era atingir 500 mil toneladas em 2025, volume que não deve se concretizar. Em setembro, primeiro mês após o tarifaço, as vendas somaram 10 mil toneladas, ante uma média de 40 mil toneladas.
Segundo a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec), mesmo com a sobretaxa alguns cortes ainda são competitivos e conseguem chegar ao mercado norte-americano.
Mas a entidade trabalha nos bastidores para que a sobretaxa caia até o final do ano e que a mágica de Trump se torne realidade. “Estamos otimistas”, resumiu Roberto Perosa, presidente-executivo da Abiec, em evento nesta quinta-feira.
Enquanto isso, o lobby permanece. Segundo reportagem do UOL publicada no último final de semana, os irmãos Joesley e Wesley Batista, controladores da J&F e da JBS, maior empresa global de proteína animal, teriam se reunido pessoalmente com Trump para tratar do assunto.
Além da discussão política, os grandes frigoríficos encontraram duas saídas para se protegerem, ao menos até o final do ano, contra a tarifa norte-americano. Prevendo a taxação, companhias enviaram e internalizaram grandes volumes de carne congelada nos Estados Unidos antes da aplicação da sobretaxa, o que garantiria uma oferta pelos próximos meses.
Além disso, as companhias conseguem utilizar subsidiárias em outros países da América do Sul para exportarem diretamente e sem barreiras tarifárias ao mercado norte-americano.
Oficialmente, o discurso da Abiec segue o mesmo de que “há grande necessidade dos Estados Unidos e grande oferta do Brasil pela nossa carne”, conforme afirmou Perosa.
O executivo lembra que volumes que seriam enviados aos Estados Unidos foram encaminhados a mercados da Ásia e Sudeste Asiático, no entanto com preços menores do que os negociados com os Estados Unidos . A tonelada de carne para a China é exportada, em média, a US$ 5.700 enquanto que para os Estados Unidos o preço chega a US$ 7.500.
“Estamos muito confiantes de que haverá um entendimento governamental para retomar o fluxo aos Estados Unidos”, disse Perosa. Enquanto aguarda a mágica de Trump, o executivo embarca na segunda-feira, 20 de outubro, para uma rodada de negócios de 15 dias pela China, principalmente em regiões interioranas, em busca de ampliar aquele mercado.
Resumo
- Trump afirma trabalhar em acordo para reduzir o preço da carne bovina nos EUA, o que poderia eventualmente aliviar a tarifa de 76% sobre o Brasil
- Exportadores brasileiros, como a JBS, intensificam lobby e buscam alternativas na Ásia enquanto aguardam decisão americana
- Abiec mantém otimismo e espera que a “mágica de Trump” resulte na retomada do fluxo comercial entre Brasil e EUA ainda em 2025