Um movimento incomum agitou o mercado de exportação de soja brasileira esta semana. Em apenas três dias, compradores chineses adquiriram o equivalente ao que,  em média, levariam cerca de um mês e meio para importar do Brasil.

Foram cerca de 40 navios (o equivalente a pelo menos 2,4 milhões de toneladas) desde o último domingo, 6 de abril, quando na China já era segunda-feira e os mercados já estavam abertos, segundo confirmaram ao AgFeed traders que atuam na negociação da oleaginosa.

De acordo com essas fontes, a média da comercialização de soja brasileira para a China (no que se refere aos negócios reportados entre os agentes de mercado) é de cerca de 25 cargas por mês, ou entre 6 e 7 por semana.

A demanda extraordinária coincidiu com o agravamento das tensões comerciais entre China e Estados Unidos, segundo maior fornecedor de soja para os chineses – o Brasil é o primeiro.

Com a elevação de tarifas de importação dos dois lados do front, a expectativa é de que os exportadores brasileiros sejam beneficiados com uma maior procura pelo produto, mas não se esperava nenhum movimento de curto prazo nesse sentido.

Guilherme Britzki, sênior broker da corretora internacional McDonald Pelz, disse ao AgFeed, no entanto, que não se deve atribuir o alto volume de compras diretamente à guerra comercial.

Segundo ele, o que mais influenciou os negócios foi o momento de margens de esmagamento favoráveis na China.

De fato, não é possível relacionar o aumento repentino de fluxo ao tarifaço. Mais do que isso, o que pode ter influenciado o maior volume de compras são os preços mais baixos dos grãos no mercado internacional – esses sim afetados pela guerra comercial.

Além disso, as incertezas sobre o comércio global fizeram disparar os preços de farelo de soja na China, o que também favorece os processadores.

Outra parte dessa movimentação incomum pode ser explicada pelo represamento de embarques nas semanas anteriores, em que o mercado ficou menos ativo justamente pela decisão dos compradores de aguardar um momento mais propício para agir.

Os contratos fechados esta semana preveem, em sua maioria, embarques para entrega em maio, junho e julho. As 40 cargas representam quase um terço do volume médio processado por mês na China.

Para Eduardo Vanin, analista da Agrinvest Commodities, que também atua como corretora, na tarde desta quinta-feira devem ter sido vendidos “pelo menos mais uns 10 ou 15” navios de soja.

“Eu diria que essa semana já passou de 60 barcos, é a maior semana que eu já vi, quando se leva em conta que é só Brasil”, disse Vanin.

Ele explica que concorda que a guerra comercial não é o principal fator. “É uma combinação de produtores querendo vender, com margem (de esmagamento) razoável na China e a trading também fazendo dinheiro, então não é comum ter as três pontas felizes em fazer negócios”.

Guilherme Britzki destacou também que os chineses, mesmo comprando mais,  “não aceitaram pagar” prêmios tão elevados quanto alguns agentes de mercado esperavam para a soja brasileira.

Houve um aumento nos prêmios de exportação nos portos brasileiros a partir de março, como vinha mostrando o AgFeed, desde que a guerra de tarifas se intensificou entre China e EUA, reforçando a expectativa de que haveria mais demanda pelo nosso produto.

Porém, as ofertas de compra ficaram sempre muito abaixo do que ofereciam os vendedores. Neste cenário, a soja brasileira para embarque em junho, por exemplo, que na semana passada valeria 1 dólar por bushel acima da cotação da Bolsa de Chicago, acabou sendo vendida essa semana com 80 centavos de dólar de prêmio.

Com reportagem de Alessandra Mello