As chuvas que ajudaram no desenvolvimento das lavouras, ainda atrapalham a colheita da safra de soja e o plantio da safrinha de milho em Mato Grosso.
Mesmo com a janela curta e a pressão dos produtores, a XP Investimentos estima uma oferta recorde de 48 milhões de toneladas da oleaginosa e um crescimento de até 5% na área de milho no estado, que é o maior produtor de grãos do País.
A estimativa está no relatório XP Crop Tour finalizado nesta segunda-feira pelos analistas e especialistas do banco, após uma viagem ao coração produtivo mato-grossense, entre Cuiabá e Sinop.
Na rota pela BR-163, eles conversaram com diversos players do setor, desde produtores, até revendas agrícolas, indústrias de etanol, passando por tradings, exportadoras e até políticos locais.
“A primeira conclusão é que a safra deve ser maior do que o mercado está imaginando, com produtividade de soja muito positiva e o aumento na rentabilidade de milho puxando a alta na área de milho em Mato Grosso”, disse ao AgFeed Samuel Isaak especialista em commodities do banco de investimentos.
A previsão para a soja supera a do Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea), que projeta uma oferta de 47,2 milhões de toneladas, em relatório também divulgado nesta segunda-feira. No relatório de janeiro da Conab, era prevista uma produção de 46 milhões de toneladas em Mato Grosso.
Para a safra de inverno de milho, de acordo com o especialista, enquanto o Imea ainda estima um aumento na área de 0,6%, a XP Investimentos “não descarta ver um aumento considerável de 4% a 5%”, para entre 7 milhões e 7,1 milhões de hectares.
“É claro que as chuvas aumentam o risco de piorar a janela de plantio, mas, no patamar atual, o milho é rentável e pode incentivar cultivo fora dessa janela ideal”, disse. Mesmo com o aumento, a área plantada de milho de inverno deve ficar aquém do recorde de 7,492 milhões de hectares da safra 2022/2023”, avaliou Isaak.
“É factível e economicamente faria sentido rivalizar com o recorde anterior, mas a janela está ruim na safra”, completou Isaak.
Segundo os analistas do banco de investimentos, o estoque de máquinas é grande em Mato Grosso e deve ajudar na aceleração da colheita da soja, se as chuvas permitirem. No entanto, o gargalo do transporte e a escalada nos preços dos fretes já são um consenso no mercado local.
“A safra recorde e com colheita concentrada vai gerar um pico nas próximas semanas. A maioria dos caminhões fica presa em tiros curtos nas operações entre lavoura e armazém e, para quem precisa para tiro longo, para levar os grãos para portos, por exemplo, não está disponível”, afirmou o especialista.
Insumos em fase melhor
Outra constatação da equipe da XP Crop Tour é que o pior da crise no setor de insumos em Mato Grosso já passou, mas as cicatrizes ainda são visíveis e o caminho para normalidade é longo. Com a quebra na safra passada e os efeitos na cadeia produtiva, os fornecedores de insumos estão mais restritos em relação ao crédito para produtores e muitos se protegem com operações de barter.
“Com o acesso a crédito mais difícil, a gente acredita que novos casos de recuperação judicial de produtores surgirão, principalmente os que mais sofreram na safra passada. Há um movimento dos players do setor de diminuir o apetite ao risco, mas buscando formas de mitigar, com o aumento de barter”, afirmou Isaak.
Curiosamente, os especialistas da XP Investimentos tentam entender como o produtor rural tem escolhido suas táticas de expansão de áreas com a compra de terras em paralelo com a de comercialização da produção. Para Isaak, é difícil entender a racionalidade do produtor, que compra terra com pagamentos de longo prazo, entre 40 e 50 anos, e precisa comercializar sua safra no curto prazo.
“Muitas vezes, o produtor poderia deixar de comercializar a soja, se preservar e se capitalizar com os juros. Mas a lógica não é 100% financeira e tem muito a ver com valor da terra e preservar a rentabilidade das lavouras acima das taxas de juros”, concluiu.
Moratória da Soja
Outro ponto observado pela equipe do banco de investimentos é a expectativa do setor em relação à decisão final do plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a moratória da soja. O acordo feito pelas indústrias e exportadoras prevê o veto à compra do grão oriundo de áreas desmatadas do Bioma Amazônico.
“Segundo o levantamento da própria moratória, tem 2,7 milhões de hectares de florestas que foram derrubados dentro do bioma, mas só 250 mil hectares são cultivados com soja. Se a moratória caísse, haveria uma área grande disponível para expansão de soja e safrinha de milho. O tema é espinhoso, mas é importante destacar que está na boca do setor”, concluiu.