A safra 2025/2026 nem terminou de ser plantada, mas o produtor brasileiro já começou a negociar a compra de insumos para a temporada 2026/2027, a ser iniciada apenas em julho do próximo ano.
O spoiler dado por Bruno Fonseca, analista sênior do Rabobank, nesta quarta-feira, 29 de outubro, mostra que, mesmo com crédito escasso, juros altos e incertezas globais, a instituição financeira holandesa com forte presença no agronegócio mantém otimismo para esta e a próxima safra nas principais culturas agropecuárias do País.
Fonseca, que responde pelo setor de insumos, prevê um crescimento e um novo recorde na demanda por fertilizantes, de 46,6 milhões de toneladas este ano para 47 milhões de toneladas, e um leve aumento - de US$ 20,1 bilhões para 20,3 bilhões - no mercado de defensivos entre os períodos.
“Muitos produtores já fecharam os adubos para 2026, aproveitando a janela para fazer a trava para o próximo ano, em outubro deste ano, quando o normal é dezembro”, disse Fonseca durante o tradicional encontro “Perspectivas para o Agronegócio Brasileiro 2026”, realizado pelo Rabobank com a imprensa especializada nesta quarta-feira, 29 de outubro.
Um ponto de destaque no custo de produção, que segue em alta, é o fósforo, de acordo com o analista. Os preços saíram de US$ 630 dólares para US$ 760 a tonelada entre fevereiro e julho, recuaram para US$ 660 dólares, mas o mercado deve seguir demandado e pressionado nos próximos dois anos.
Apesar de a demanda ser por fertilizantes de menor tecnologia, por outro lado, o câmbio, com o dólar depreciado por aqui, ainda favorece no preço do fertilizante a ajuda no aumento do consumo.
Até mesmo para as principais culturas de grãos e fibras do País, culturas que mais sofrem com incertezas, as perspectivas são positivas. Marcela Marini, analista sênior de grãos e oleaginosas do Rabobank projetou um aumento de 2% na área plantada com soja, de 47,8 milhões para 48,8 milhões de hectares, e uma oferta de 177 milhões de toneladas, alta de 3% no próximo período.
Segundo ela, muitos produtores não estão tão alavancados, são menos impactados por juros elevados e têm uma margem ainda saudável na cultura. “Outro fator é que muitos são sofisticados na comercialização, com operações hedge, por exemplo, que garantem essa margem positiva”, disse.
A expansão na área, segundo a analista, é reflexo da implantação gradativa de projetos iniciados após a série de aquisições de propriedades entre 2021 e 2023.
Do lado da demanda, as exportações recordes de 111 milhões de toneladas podem se repetir no próximo período. A China seguirá como o principal destino para a soja brasileira e a retomada das compras dos asiáticos nos Estados Unidos não é um grande motivo de preocupação para os produtores daqui.
Tudo vai depender ainda do potencial acordo comercial entre Estados Unidos e China que pode acontecer ainda esta semana. Mesmo se confirmado, a exportação dos Estados Unidos pode ser menor, pois a janela de envio dos estadunidenses para a China já passou e a oferta dos Estados Unidos é menor.
“Além disso, o produtor norte-americano pode não correr risco e não elevará a área de soja na próxima safra”, disse Marina.
Demanda extra para a soja brasileira, excluindo a questão geopolítica, deve vir do novo aumento na mistura do biodiesel ao diesel de petróleo, de 15% para 16%, prevista para março do próximo ano. Com isso, o esmagamento deve crescer de 58 milhões para 60 milhões de toneladas entre 2025 e 2026.
Ainda de acordo com a analista, a área de milho pode crescer 2,2%, para 22,2 milhões de hectares. A oferta, que depende muito de uma safrinha que sequer foi plantada, pode cair de 142 milhões de toneladas para 137 milhões de toneladas, um recuo de 3,5% “a não ser que o clima colabore muito”, disse Marina.
Do lado da demanda, o etanol de milho deve ampliar o consumo em 5 milhões de toneladas, de 23 milhões para 28 milhões de toneladas. O setor de aves e suínos, também aquecido e responsável por 75% do consumo, chegará a 97 milhões de toneladas consumidas em 2025/2026, alta de 6,6%.
A demanda interna deve frear exportações do cereal, com queda projetada de 5%, para 37 milhões de toneladas, de acordo com a analista do Rabobank. Mais comedido, o algodão deve ter área 2,5% maior e uma oferta de 4 milhões de toneladas, queda de 2,4%.
Proteína animal
Wagner Yanaguizawa, analista de proteína animal no Rabobank projeta uma queda de 5,5% na produção brasileira de carne bovina em 2026, para 10,5 milhões de toneladas e um recuo de 9,5% no consumo, para 29,5 quilos per capita. No entanto, as exportações devem seguir em alta, de 4,33 milhões para 4,44 milhões de toneladas entre 2025 e 2026
No Brasil, segundo o analista, a demanda pode ser pressionada por Copa e eleições, com preços maiores no segundo semestre. Os preços da arroba seguirão sustentados na metade final de 2026 e devem retomar picos acima de R$ 350 a arroba.
Para o setor de suínos, o recuo nas importações chinesas é substituído pela demanda aquecida de outros mercados asiáticos, como Filipinas, principalmente, e Chile. O Rabobank projeta altas de 3,5% nas exportações, para 1,56 milhão de toneladas, e um novo recorde em 2026. A produção brasileira, também recorde, deve crescer 2,5% para 5,6 milhões de toneladas.
Com a retomada dos mercados após a crise causada por focos de gripe aviária, o Brasil deve ampliar em 2,5% as exportações de frango em 2026, para 5,5 milhões de toneladas e conseguir uma estabilidade em 2025, em 5,3 milhões de toneladas. A produção de frangos deve crescer 2%, para 15,6 milhões de toneladas, de acordo com as projeções do Rabobank.
Outras commodities
Após os picos de preços recentes, suco de laranja e café devem passar por correções até 2026, mas com cenários ainda positivos, de acordo com analistas do Rabobank. Após os problemas climáticos, o Brasil, maior fornecedor global, deve elevar a oferta de laranja para a bebida em 27% na atual safra, para 295 milhões de caixas de 40,8 quilos.
A oferta global de suco deve crescer 24% no período até junho de 2026, para 1,33 milhões de toneladas, o que pressiona o preço, com queda de 40%. No entanto, segundo o analista sênior do Rabobank Andrés Padilla, a receita do citricultor brasileiro deve seguir sustentada com a maior oferta da fruta, mesmo com preços menores
Para o café, o analista sênior Guilherme Morya, projeta uma oferta maior brasileira, ainda sem falar em números, diante da instabilidade climática. O analista, no entanto, projeta uma queda de 0,9% no consumo interno em 2025, para 21,4 milhões de sacas, e uma leve alta de 1,2% em 2026, para 21,7 milhões de sacas em 2026.
As exportações devem encerrar 2025 em 45,6 milhões de sacas, ante 47,5 milhões de sacas em 2024, e recuar ainda mais, para entre 39 milhões e 41 milhões de sacas em 2026, na avaliação do Rabobank.
Por fim, açúcar e etanol oriundos da cana-de-açúcar brasileira seguem sob um cenário incerto para 2026. O Rabobank projeta uma alta no processamento de cana no Centro-Sul brasileiro, de 590 milhões de toneladas em 2025/2026 para entre 600 milhões e 640 milhões de toneladas na temporada entre abril de 2026 e março de 2027.
A oferta de açúcar deve sair de 39,7 milhões de toneladas para entre 39,5 milhões e 42,1 milhões de toneladas entre os períodos. A produção de etanol de cana deve variar de 23 bilhões para entre 24,3 bilhões e 26 bilhões de litros.
“O açúcar está em um período de transição de déficit global encerrado em setembro para excedente e as usinas terão de enfrentar um dilema em relação ao mix de destino da cana para o etanol, ou não”, disse Andy Duff, gerente de pesquisa de etanol e açúcar do Rabobank.
“Para agravar um pouco mais, há incerteza nos preços da gasolina na safra que vem, olhando a trajetória dos preços internacionais do petróleo que pode gerar mais pressão nos preços do etanol”, concluiu.
Resumo
- Rabobank prevê aumento da área plantada e recorde na demanda por fertilizantes e defensivos em 2026, mesmo com crédito escasso
- Soja e milho seguem fortes; biodiesel, etanol de milho e proteínas animais impulsionam o consumo interno e exportações
- Café e suco de laranja devem ajustar preços; cana e etanol enfrentam incertezas, mas com perspectiva de maior produção