A conta é simples. A partir de 6 de agosto, se nada mudar até lá, 33% do café consumido nos Estados ficará 50% mais caro graças ao tarifaço de Donald Trump sobre os produtos brasileiros.
Os norte-americanos consomem 24 milhões de sacas da commodity anualmente, 8 milhões delas importadas do Brasil.
Com a oferta global restrita e sem produção relevante, não há saída para os Estados Unidos suprir sequer parte desse volume e os preços da bebida preferida dos norte-americanos devem subir no mercado interno. Os impactos devem se estender para a indústria local, altamente dependente do café brasileiro.
Na avaliação do diretor Felipe Augusto Lima de Oliveira, head global de pesquisa em café da Cofco, uma das maiores tradings do setor, o tarifaço trará uma redução na demanda dos EUA, já freada pelo cenário macroeconômico negativo.
“Onde eles vão achar um fornecedor substituto para 8 milhões de sacas?”, indagou Oliveira em entrevista ao AgFeed.
A primeira opção seria a Colômbia, que vive com seguidas quebras de safra e não tem essa oferta. “A Etiópia produz 8 milhões de sacas e eles não vão comprar a Etiópia inteira. O impacto será uma queda na demanda por lá”, afirmou Oliveira, sem estimar qual seria a redução.
Segundo Oliveira, os norte-americanos, sem opção, manteriam as compras em menores volumes do Brasil. Já os produtores brasileiros teriam outros “mercados emergentes” para escoar o produto que deixarem de enviar aos Estados Unidos.
“Além da China, que pode ampliar a demanda, temos Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita, Argélia, Marrocos e Turquia. Esses países emergentes da região que a gente chama de MENA, ‘Middle East e North Africa’ podem ser um potencial destino dos cafés brasileiros”, afirmou o executivo.
Outra saída para consumidores e produtores, segundo Oliveira, é a manutenção das negociações com o governo estadunidense para incluir o café na lista de produtos que terão a tarifa de 10%.
É o que pregou o Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé) em nota divulgada nesta quarta-feira, 30 de julho. A entidade que representa o setor no País informou “que seguirá em tratativas com seus pares dos EUA, como a National Coffee Association (NCA), com o intuito de que o produto passe a integrar a lista de exceções elaborada pelo governo americano”.
No documento, o Cecafé informa que “diante da relevância do café aos consumidores e à economia norte-americana” é necessária a revisão da decisão de taxar os cafés do Brasil em 50%.
Para a entidade, o tarifaço implicará na “elevação desmedida de preços e inflação, uma vez que esses tributos serão repassados à população americana no ato da compra”
O Cecafé citou novamente dados que embasam os argumentos e mostram a relevância do café para a economia local, entre os quais o de que 76% da população norte-americana consome a bebida e gasta cerca de US$ 110 bilhões em café anualmente.
“A indústria cafeeira norte-americana sustenta mais de 2,2 milhões de empregos com mais de US$ 101 bilhões em salários, o que beneficia todos os Estados e comunidades locais. Além disso, a cada US$ 1 que os Estados Unidos importam de café, são injetados outros US$ 43 na economia americana, fazendo com que o setor movimente US$ 343 bilhões ao ano, montante que representa 1,2% do PIB dos Estados Unidos”, conclui o Cecafé.
Resumo
- Para head de pesquisa de café da Cofco, EUA não têm fornecedores alternativos em volume suficiente, o que deve pressionar preços e afetar a indústria local
- Segundo o executivo, exportadores brasileiros têm alternativas como China, Emirados Árabes, Arábia Saudita, Marrocos e Turquia para escoar o excedente
- Cecafé afirma que manterá empenhom para incluir o café na lista de exceções do tarifaço americano