O que era senso comum acabou de se confirmar em números: 2024 foi o ano recorde para as recuperações judiciais no agronegócio. Dados do Serasa Experian divulgados nesta terça-feira, 1 de abril, apontaram que o setor registrou 1.272 solicitações de RJ entre janeiro e dezembro do ano passado.
Os números somam os pedidos de produtores rurais pessoa física, produtores rurais PJ e empresas do ramo. De acordo com o Serasa, foram 534 pedidos em 2023 – ou seja, de um ano para o outro, o número mais que dobrou.
Os motivos para esse avanço, segundo Marcelo Pimenta, head de Agronegócio da Serasa Experian, todos já conhecem.
“A alta da taxa de juros, aliada ao aumento dos custos de produção com insumos agrícolas – que ficaram mais caros devido à inflação e à desvalorização cambial –, foram alguns dos desafios principais e, para além disso, tivemos o agravante das adversidades climáticas”, disse Pimenta, em nota oficial.
Somente no quarto trimestre do ano passado, a Serasa identificou 320 pedidos, uma alta em relação às 254 solicitações no terceiro trimestre. De acordo com o head de agro da Serasa, houve um “represamento” dos pedidos do terceiro trimestre, que havia registrado queda frente ao primeiro semestre do ano passado.
“Apesar da alta, é preciso ponderar o número absoluto de solicitações, que é pequeno se considerarmos um universo com cerca de 1.4 milhão de produtores que tomaram crédito rural durante os últimos dois anos no país”, afirma Marcelo Pimenta.
Nos produtores que atuam como pessoa física, foram 566 pedidos ao longo de 2024, ante 127 requisições em 2023. A Serasa ainda avaliou que 224 desses pedidos foram feitos por produtores que não possuem propriedades no campo, ou seja, arrendatários ou grupos familiares relacionados ao setor.
Nas PFs, os grandes proprietários somaram 132 solicitações, os pequenos, 113 e os médios, 97. Por região, o destaque ficou com Mato Grosso (173) e Goiás (122). No último trimestre do ano, essa categoria foi responsável por 140 pedidos de RJ.
Dentre os profissionais do agro que atuam como PJ, foram 409 solicitações, ante 162 em 2023.
A análise por setor mostrou que os sojicultores concentraram o maior número de recuperações (222), seguido por pecuaristas, com 75, cerealistas, com 49, cafeicultores, com 16 e algodoeiros, com 10 RJs. Por região, Mato Grosso registrou 92 pedidos e Goiás 62.
No segmento empresarial, a Serasa identificou 297 requisições de RJs ao longo do ano passado. Em 2023, foram 245 solicitações.
Considerando o top 5 dos setores, a maior parte dos pedidos ficou com “agroindústrias de transformação primária”, com 73 pedidos.
Na sequência estavam empresas de “serviços de apoio à agropecuária”, com 64 pedidos, “indústrias de processamento de agroderivados”, com 58 solicitações, “comércio atacadista de produtos agropecuários primários”, com 33 RJs e “revendas de insumos (exceto máquinas)”, com 32 solicitações.
Nas empresas, o perfil de estado muda, e o ranking é composto por São Paulo, com 14, e Paraná, com 9, seguidos por Goiás, Rio Grande do Sul e Santa Catarina empatados com seis pedidos de recuperação judicial na terceira posição.
A Serasa Experian realizou o levantamento a partir de estatísticas de processos na base da companhia, provenientes de tribunais de Justiça espalhados pelo País.
“Estão contemplados nesse levantamento proprietários e produtores rurais de todos os portes que atuam como pessoas físicas e jurídicas, além de empresas demandantes do recurso analisado que possuem Classificação Nacional de Atividade Econômica (CNAE) principal constante no Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ) da cadeia agro. Além disso, as análises estaduais são realizadas de acordo com a Unidade Federativa atrelada ao cadastro do demandante”, informou a Serasa.