O meio trilhão não vem, pelo menos este ano. Faltaram cerca R$ 25 bilhões para o Plano Safra 2024/2025 atingir a marca sonhada pelas entidades do agronegócio brasileiro, segundo o número, ainda extra-oficial, informado hoje pelo ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, a jornalistas em Brasília.
Ele fez uma conta de chegada para valorizar os R$ 475,56 bilhões que formarão o pacote a ser anunciado na próxima semana pelo governo federal – R$ 400,585 bilhões e R$ 74,98 bilhões para a agricultura familiar.
Olhando apenas pelo lado financeiro, o volume é 9% superior aos 435,8 bilhões do Plano Safra 2023/2024. Mas Fávaro usou outro indicador para citar uma elevação de 20% de um ciclo para outro: a área, em hectares, que será financiada.
“Diante da queda do custo de produção de 9% na próxima safra, o aumento de 9% nos recursos vai acarretar uma cobertura 20% maior em hectares ante o Plano Safra passado”, disse ele ao Broadcast Agro.
As primeiros reações dos representantes do setor foram de frustração. A Confederação Nacional da Agricultura (CNA) pedia um total de R$ 570 bilhões. Já a Frente Parlamentar da Agropecuária demandava R$ 22 bilhões em subvenções das taxas de juros.
Na matemática de Fávaro, há outros números positivos. Ele citou que a oferta total de crédito pode chegar a R$ 582 bilhões se incluídos outros R$ 106 bilhões direcionados por Cédula do Produto Rural (CPR) e Letras de Crédito do Agronegócio (LCAs), “que serão complementares ao Plano Safra elevam o total de recursos a serem empregados na agropecuária brasileira”, destacou Fávaro”.
A subvenção das taxas de juros, por sua vez, ficará, segundo o ministro, em R$ 16,7 bilhões, 23% acima do que o disponibilizado na safra anterior –R$ 6,3 bilhões para a agricultura empresarial e R$ 10,4 bilhões para a familiar.
Médios e grandes produtores, assim, teriam obtido, no cômputo geral dos recursos, um aumento de 10% do volume de crédito pelo plano. Os pequenos, um crescimento de 4,7% em relação ao ano anterior.
Ainda há pontos a serem definidos no Plano. O próprio adiamento do anúncio, que estava marcado para a última quarta-feira, 26 de junho, e acabou ficando para julho, já dentro do período oficial da nova safra - algo que não ocorria há 16 anos -, deveu-se, segundo o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, a um pedido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, para que uma das linhas de crédito fosse ampliada.
“Nós apresentamos o Plano Safra para o presidente, ele pediu ajustes para melhorar”, afirmou Haddad. “Não se trata de mais equalização. Se trata de uma linha específica que ele pediu para turbinar e que não tem impacto fiscal”.
Procurada pelo AgFeed, a FPA não quis comentar os números divulgados por Fávaro. Em nota, informou que “aguardará o anúncio formal, com todas as informações sobre seguro, taxas de juros e demais dados para analisar e emitir um posicionamento sobre o assunto”.
Um deputado ligado ao setor, entretanto, disse ao AgFeed que a bancada não ficou satisfeita com “a tentativa do ministro de florear com os recursos” e “misturar dados com critérios que não são os mesmos do ano passado”.
Segundo esse deputado, que preferiu seguir orientação da FPA de só se manifestar oficialmente após haver detalhamento de informações relevantes, como as taxas de juros que serão aplicadas e os recursos destinados ao seguro rural, por exemplo, Fávaro tem demonstrado pouca força nas negociações dentro do governo.
“Se não fosse a FPA ter ido até o Haddad, nem isso conseguiríamos”, afirmou.
O parlamentar disse esperar que ainda haja espaço para negociações em torno dos juros e dos seguros, já que as informações de que os deputados dispõem hoje é de que as notícias não são boas nesses dois pontos.
“No seguro, até agora, não há nada além do que tivemos no ano passado”, afirmou. “E nas taxas de juros, falam em algo entre 0,5 e 1 ponto percentual abaixo da Selic. No ano passado, com a Selic a 13,5%, as taxas foram de 10,5%, quase 30% abaixo”.