A “virada” no ciclo da pecuária, com preços mais altos e aumento das exportações também já reflete no setor de inseminação artificial e melhoramento genético.
O AgFeed conversou com Luís Adriano Teixeira, que acaba de assumir o cargo de presidente da Asbia, Associação Brasileira de Inseminação Artificial, entidade que representa as principais empresas do setor.
São centrais de genética, que comercializam sêmen e embriões, especialmente das raças bovinas de corte e leite, com foco no melhoramento dos rebanhos. Ao fornecer uma genética melhor, pecuaristas alcançam mais produtividade e mais qualidade, dentro das características desejadas, para o produto final, que é a carne e os lácteos.
“Estamos saindo do ciclo de baixa da pecuária, para uma retomada, com melhorias de preço e tudo já está sendo refletido. A gente está vendo que 2025 e, com certeza 2026, 2027 e 2028 vão ser anos muito favoráveis para o mercado de carne”, afirmou Teixeira, na entrevista exclusiva ao AgFeed.
Em 2024 foram vendidas 17,5 milhões de doses de sêmen de raças de bovinos de corte, o que representou um crescimento de 3%, depois de um ano de queda, em 2023.
Neste primeiro semestre de 2025 os números estão melhorando um pouco mais, segundo o presidente da Asbia. A estatística oficial do setor é feita por meio de INDEX ASBIA, relatório feito em parceria com o Cepea da Esalq/USP.
Embora o indicador ainda não tenha sido divulgado, Teixeira disse ao AgFeed que espera que as vendas de sêmen para corte fiquem “na faixa entre 5% e 6% de crescimento, então um pouco maior do que veio em 2024, e o leite deve ficar em 7%, então continua crescendo também”.
Ele explica que a gripe aviária no primeiro semestre acabou impactando o mercado de proteína animal, por isso no corte o avanço foi menor do que o esperado. Como a maior parte dos pecuaristas deixa para fazer o investimento mais próximo da estação de monta, no segundo semestre, a expectativa de Teixeira ainda é otimista para os próximos meses.
Teixeira credita que no ano de 2025 seja possível talvez superar 24 milhões de doses de sêmen vendidas, somando corte e leite, um patamar que poderia quase igualar o recorde de 25 milhões de doses que o setor registrou em 2022.
O Brasil é hoje um dos países que mais utiliza inseminação artificial no melhoramento do rebanho, principalmente na pecuária de corte. Segundo a Asbia, ainda há muita oportunidade de crescimento, especialmente no setor do leite, que utiliza 16% de inseminação.
“Nós estamos (no leite) em um terço do mercado de gado de corte, então a gente tem 3 quartos para crescer ainda”, ressaltou. Segundo ele, no Brasil o mercado dobrou de tamanho nos últimos 10 anos.
Incerteza com o tarifaço
Assim, como os principais setores do agro, nas empresas de inseminação artificial, as tarifas de Donald Trump sobre os produtos brasileiros causam preocupação.
Das 23 milhões de doses comercializadas no ano passado, 850 mil foram exportadas. Os principais destinos são os países da América Latina, como Colômbia e América Central para o leite e Paraguai e Bolívia, para o corte.
Como não há exportação direta para os Estados Unidos, o impacto do tarifaço não é imediato. Porém, Luís Adriano lembra que boa parte da genética utilizada na inseminação artificial no Brasil vem de fora, com participação importante dos Estados Unidos e Canadá.
Caso o Brasil adote retaliações, aplicando tarifas aos produtos americanos, o setor também poderia sofrer. A segunda raça mais usada para fazer inseminação, o Angus Preto e o Vermelho, totaliza 4,4 milhões de doses por ano. Metade deste volume é importada, com destaque para os norte-americanos.
No mercado de leite, cerca de 5 milhões de doses são da raça holandesa e, segundo presidente da Asbia, três quartos desse volume vêm dos Estados Unidos, Canadá e Europa.
“Então isso (tarifaço) também teria um impacto na cadeia do leite, mas afeta a cadeia como um todo, não uma empresa ou outra”, admitiu.
Com a tarifa, a carne bovina brasileira deixa de ser a mais barata, porque a gente exporta commodity, a carne para hambúrguer, então provavelmente os Estados Unidos devem achar outros fornecedores”, explicou.
Ainda assim, na visão do executivo, o mundo não conta com tanta oferta de fornecedores, por isso o mercado tende a se reequilibrar.
“O rebanho dos Estados Unidos está no nível mais baixo desde 1951. Não vai recuperar rápido, então não tem carne, estão tendo que importar. O rebanho europeu também não está crescendo. A Austrália está crescendo também a produção deles, mas sai de dois, três anos de seca muito forte”, ressaltou.
“Então a demanda está muito forte e não tem grandes players no mercado internacional para atender essa demanda. Se o Brasil deixar de atender os Estados Unidos num curto prazo, com certeza vai ter um impacto. Mas os Estados Unidos vão comprar de outros, e esses outros vão precisar comprar de outros lugares”.
Tendências para o setor
O presidente da Asbia acredita na adoção crescente da inseminação artificial na pecuária em função da relação custo-benefício, que vem melhorando, segundo ele.
“A genética dentro do seu custo total de produção vai representar 1,5% mais ou menos, depende do sistema de produção. É um impacto muito pequeno e a gente fala que ele é um investimento perene, porque tudo que você investe em genética na sua fazenda, ela fica pra vida toda”.
Outra frente de crescimento deve ser a venda de material genético sexado, onde já é possível definir previamente por fêmeas ou machos. A tecnologia faz muita diferença na pecuária leiteira, onde as fêmeas têm o maior valor.
Atualmente, apenas 1,1 milhão de doses vendidas no Brasil são de genética sexada.
Teixeira também vê com o otimismo o crescimento das exportações, em função da maior demanda pela “genética tropical”, com raças adaptadas ao clima destas regiões, como Nelore, Gir e Girolando. A expectativa é passar a exportador mais de 1 milhão de doses daqui a dois anos.
Entre as prioridades à frente da Asbia, Teixeira destaca que vai buscar aperfeiçoar o INDEX ASBIA, com o Cepea, além de consolidar outro índice, o INDEX EMBRIÕES, que foi lançando recentemente, em parceria com a Sociedade Brasileira de Tecnologia de Embriões.
Resumo
- A Associação Brasileira de Inseminação Artificial (Asbia) prevê que a virada no ciclo da pecuária colabore para aumentar as vendas de genética bovina, com avanço estimado de 6% no primeiro semestre de 2025.
- O novo presidente da entidade, Luís Adriano Teixeira, acredita que no ano de 2025 seja possível superar 24 milhões de doses de sêmen vendidas, somando corte e leite, um patamar próximo do recorde que o setor registrou em 2022.
- O setor está preocupado com o tarifaço de Donald Trump, que pode afetar o mercado da carne bovina, além de trazer incertezas para o setor que importa boa parte do sêmen que comercializa no Brasil.