Há uma espécie de contagem regressiva perversa assustando a indústria da carne nos Estados Unidos. Ela termina na próxima segunda-feira, 17 de março, data em que expiram as licenças para que centenas de frigoríficos americanos exportem para a China.
Em meio ao tiroteio tarifário entre os dois países, as autoridades alfandegárias chinesas têm rejeitado sistematicamente os pedidos dos EUA para que as licenças sejam renovadas.
Uma primeira leva de registros, que venceu em fevereiro, ainda está suspensa. E não há expectativa de que sejam reabilitadas em curto prazo.
Diante desse cenário, pecuaristas e indústrias dos Estados Unidos vivem momentos de incerteza e de contabilizar prejuízos. Segundo a agência Bloomberg, as licenças que expiram na próxima semana podem inviabilizar mais de US$ 3 bilhões em exportações de carnes bovina, suína e de aves.
Nessa nova leva, estão as plantas que haviam sido habilitadas pela China há cinco anos, quando um acordo selou a paz na primeira versão da guerra comercial entre os dois países.
As plantas que enfrentam o vencimento na segunda-feira foram aprovadas inicialmente há cinco anos como parte do acordo comercial da Fase 1 entre os EUA e a China.
No início de 2020, ainda no primeiro mandato de Donald Trump na Casa Branca, aos chineses haviam concordado em comprar US$ 200 bilhões em produtos americanos.
Isso incluía carnes oriundas de frigoríficos de grandes grupos como Tyson Foods, Smithfield Foods, Cargill e até da filial americana da JBS. Todas elas, agora, devem ter suas licenças expiradas.
A visão de analistas e de entidades do setor nos Estados Unidos é a de que essa suspensão praticamente fecha as portas do mercado chinês para as carnes americanas – abrindo mais mercados para países como Brasil e Canadá.
A China é o segundo destino para exportação dessas carnes, atrás do México. Para Joe Schuele, porta-voz da US Meat Export Federation , que reúne produtores de carne bovina, suína e ovina, isso cria uma “situação terrível” para o setor..
“O USDA, apesar dos esforços persistentes, não conseguiu obter uma resposta da China sobre as renovações pendentes das plantas”, disse Schuele à Bloomberg.
Na quarta-feira à noite, os grupos de pecuaristas americanos – e até de produtores brasileiros – em redes de mensagens compartilhavam postagens alarmadas.
Uma delas, obtida pelo AgFeed junto ao um veterano pecuarista brasileiro, externava sem rodeios a desilusão dos criadores americanos com a estratégia de seu presidente.
“Ao ficar batendo no peito com tarifas, Trump deu à China desculpas para abandonar a carne dos EUA”, dizia o texto. “Enquanto isso, Canadá e Brasil vão rindo ao banco. Os pecuaristas americanos estão ferrados”.