Em um país exportador de carnes e alimentos com base na proteína animal, qualquer notícia sobre doenças que afetem animais de criação, como aves e bovinos, tem potencial de gerar stress no mercado financeiro, especialmente para as ações das empresas do setor.

Assim, durante vários meses, analistas ficaram atentos, no Brasil, a eventuais contaminações da gripe aviária em granjas comerciais, com medo que a doença repetisse aqui os estragos provocados em outros países produtores, como a China. As medidas sanitárias adotadas aqui, felizmente, impediram que isso acontecesse e o vírus, que infectou aves silvestres, se alastrasse.

Nesta quinta-feira, 18 de junho, entretanto, um outro mal contaminou as ações de BRF, Marfrig e JBS - especialmente as duas primeiras. Elas sofrem quedas sensíveis no pregão da B3 depois que o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) confirmou, na véspera, um foco da doença de Newcastle em uma granja aviária de corte na cidade de Anta Gorda, no Rio Grande do Sul.

Em comentário sobre o assunto, a XP Investimentos ressalta que o estabelecimento atingido pela doença está distante das plantas da Seara, unidade da JBS de aves, e da BRF localizadas no Rio Grande do Sul.

O grande risco, segundo os analistas Leonardo Alencar, Pedro Fonseca e Samuel Isaak, está em uma eventual suspensão temporária das exportações de frangos produzidos no estado, que responde por quase 15% do total vendido pelo Brasil.

A XP ressalta que a BRF tem três de suas 19 plantas localizadas no Rio Grande do Sul, enquanto a Seara tem só uma, de um total de 23. Por isso, as ações da BRF e da sua controladora, Marfrig, sofrem mais que as da JBS. Nesta quinta, por volta das 13 horas, os papéis caíam 7,5%, 6% e 2,5%, respectivamente.

Em nota, a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), que representa as empresas do setor, juntamente com a Associação Gaúcha de Avicultura (ASGAV), afirmaram que acompanham e dão suporte à ação do Mapa para conter o avanço da doença.

O Mapa estabeleceu um processo de erradicação do foco da doença de Newcastle, com a eliminação e destruição de todas as aves do estabelecimento e posterior desinfecção do local, que foi interditado.

O Ministério ainda vai realizar uma investigação completa em um raio de 10 quilômetros em torno da ocorrência.

“Como de praxe, o Brasil manteve e manterá total transparência no tratamento à situação, garantindo rápida solução a esta que é questão sanitária das aves”, afirma a ABPA em sua nota.

A doença de Newcastle é provocada por um vírus que afeta aves domésticas e silvestres, e causa sinais respiratórios que são frequentemente seguidos por manifestações nervosas, diarreia e edema na cabeça dos animais.

A notificação à Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA) é obrigatória. Os últimos casos haviam ocorrido no Brasil em 2006 em aves de subsistência nos estados de Amazonas, Mato Grosso e Rio Grande do Sul.