As entregas de fertilizantes no Brasil devem crescer até 7% em 2025 e encerrar o ano com volume recorde entre 45 milhões e 46 milhões de toneladas. É o que projeta a Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda).
O ritmo de consumo dos insumos segue o ânimo do produtor e, em 2024, ficou praticamente estável, com 45,61 milhões de toneladas entregues, leve baixa de 0,5% no período.
“Estamos extremamente otimistas, primeiro porque teremos uma safra recorde e a necessidade de reposição para esse ano é iminente e, segundo, pelas condições econômicas, com uma combinação bem positiva entre safra e safrinha”, disse Eduardo de Souza Monteiro presidente do conselho de administração Anda e country manager da Mosaic no Brasil e Paraguai.
O último levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) aponta que a safra brasileira de grãos deve chegar a 325,7 milhões de toneladas em 2024/2025, altas de 1,5% sobre o recorde de 2022/2023 e de 9,4% sobre 2023/2024. O destaque é a soja, com oferta de 166 milhões de toneladas, aumentos de, respectivamente, 6,6% e 12,4%.
Com oferta recorde de grãos e preços remuneradores, principalmente para o milho - cujo plantio da safrinha é finalizado este mês - a entidade espera maior consumo de fertilizantes para a próxima safra.
O ritmo de vendas para 2025/2026, puxado pelo cultivo da safra de soja, chegou a 36% do esperado, ante 30% na mesma época do ano passado. Nas safras anteriores, no entanto, a média era de 42% a 45%.
De acordo com o presidente da Anda, apesar do cenário positivo, os estoques são uma preocupação para o setor. No ano passado, houve um recuo de 4,2% ante 2023, para 8,326 milhões de toneladas.
O recuo de estoques de fertilizantes fosfatados foi de 12% e chegou a 18% para os de alta concentração de fósforo (MAP), segundo Monteiro. A queda é explicada pelo uso do mineral para a produção de ácido fosfórico pela China na produção de baterias veiculares, o que reduz a oferta do insumo para a agricultura.
Com a relação de troca entre grãos e fertilizantes ainda positiva ao produtor, o presidente da Anda segue o mantra de que o atual momento é favorável às compras para a próxima safra.
“Com relação de troca favorável e preços bons, não é o momento de esperar e ficar sujeito a qualquer disrupção no fluxo do mercado, ou mesmo de gargalos nos portos para a entrega”, afirmou Monteiro.
Risco geopolítico
Com 85% da oferta importada, o Brasil é o maior dependente do mercado externo de fertilizantes entre as potências globais do agronegócio. E a maioria dos fornecedores tem algum ruído interno que pode se transformar em restrição de insumos.
Além das incertezas em relação à oferta chinesa, a vulnerabilidade brasileira passa por fornecedores como Canadá, Rússia, Israel, Bielorrússia, Omã, Catar, Irã e Egito, a maioria sob conflitos geopolíticos recorrentes, principalmente os três primeiros.
Em relação ao Canadá, país que vive sob ameaça de guerra comercial com o vizinho e maior cliente, os Estados Unidos, uma possível taxação ao fertilizante local pelos norte-americanos poderia favorecer a oferta ao Brasil.
No entanto, na avaliação do presidente da Anda, o cenário pode ser diferente e o aumento da oferta seria compensado pelos custos maiores com o frete.
“Se houver essa situação e o produto canadense for deslocado para outros mercados, o Canadá teria de trocar uma estrutura ferroviária barata por uma marítima mais cara para o escoamento, o que aumentaria o custo”, disse Monteiro.
Sem oferta local e com ameaça tributária
A produção brasileira de fertilizantes aumentou quase 4% em 2024, segundo dados da Anda. Apesar deste crescimento e da perspectiva de investimentos de R$ 35 bilhões até 2030 em novos projetos, a oferta brasileira ainda é pequena e não há unidades produtivas previstas para entrar em operação em 2025.
Bernardo Silva, diretor executivo do Sindicato Nacional das Indústrias de Matérias Primas para Fertilizantes (Sinprifert), atribui a alta na oferta local no ano passado à inauguração da unidade da Eurochem, em Serra do Salitre (MG), que consumiu investimento de US$ 1 bilhão, além da expansão da produção de outras empresas.
Para os próximos anos, o incremento da produção local deve ficar por conta da Petrobras, que anunciou a retomada dos projetos de fertilizantes. O primeiro deles é a planta de Três Lagoas (MS), com aporte de R$ 3,5 bilhões para finalização da obra parada há uma década.
Além da nova fábrica sul-mato-grossense, unidades arrendadas na Bahia e em Sergipe serão reincorporadas e a de Araucária, no Paraná, reativada pela estatal.
Um freio para esse investimento interno pode ser tributário, na avaliação do diretor executivo do Sinprifert. O setor de fertilizantes segue as regras do Convênio 26 e a taxação do Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) é de 4% para o produto nacional e 4% para o importado.
No entanto, esse convênio termina no final de 2025 e, caso não seja renovado, os fertilizantes voltariam às regras do Convênio 100, com 8,4% de taxação para o produto nacional e alíquota zero para o importado.
Como o produto importado responde por quase 90% da oferta, há pressão dos agricultores para a retomada do enquadramento tributário no Convênio 100.
“O governo não pode se dar ao luxo de resgatar medidas antigas que foram causas da dependência e o mínimo que se espera é um campo de jogo nivelado”, criticou Silva.