A safra foi de grandes desafios para o produtor de arroz. Depois de três anos seguidos enfrentando estiagens, ele plantou menos em 2023/2024 com a expectativa de recuperar o prejuízo, mas o clima, mais uma vez, ditou as regras do jogo.
As fortes chuvas de final de abril e início de maio provocaram uma grande enchente no Rio Grande do Sul, principal estado produtor do cereal.
Mesmo que mais de 85% já tivesse sido colhido, as cheias atingiram silos e armazéns, estragando o produto e impedindo que produtores pudessem vender sua safra.
Os 15% restantes foram perdidos. Além disto, estradas que serviam para escoamento foram afetadas, dificultando a logística de entrega do arroz e recebimento de insumos.
“Esses fatores aumentaram significativamente as despesas e afetaram a rentabilidade, dificultando o planejamento financeiro e a capitalização para o plantio da nova safra”, afirmou a diretora do Instituto Riograndense do Arroz, IRGA, Flávia Tomita.
Mesmo assim, segundo ela a perspectiva de plantio no Rio Grande do Sul para o período 2024/2025 é positiva, com mais de 95% dos 948 mil hectares previstos já semeados.
As condições climáticas favoreceram as janelas de semeadura, permitindo que mais de 80% da área fosse plantada dentro do período ideal.
A região central do Estado, entretanto, apresenta um atraso devido aos prejuízos causados pelas enchentes, que impactaram o calendário de semeadura na região.
“Houve a necessidade de um trabalho forte na recomposição nutricional do solo, por conta da lixiviação provocada pela enchente”, informa Tomita.
Ela lembra ainda que a produção de arroz irrigado na safra 2023/2024 foi de 7,198 milhões de toneladas, com uma produtividade média de 8.387 mil kg/ha em uma área de 900,2 mil hectares semeados.
“Essa produção teve uma redução de apenas 0,6% em relação à safra anterior, o que indica que, apesar de uma leve queda, a produção se manteve bastante estável”, explica a técnica.
É preciso ressaltar que o Rio Grande do Sul produz 70% do arroz consumido no Brasil. E, para completar o cenário estatístico, os outros estados brasileiros produziram cerca de 3,2 milhões de toneladas na safra 2023/24.
Para a safra 2024/2025 em semeadura no Brasil, a perspectiva é de uma área 9,85% maior em nível nacional, com a expectativa de aumento em área no Rio Grande do Sul em 9,7%, aponta o analista de mercado da Scott Consultoria, Felipe Fabbri.
O presidente da Federação das Associações de Arrozeiros do RS, Federarroz, Alexandre Velho, concorda com a diretora do IRGA no que se refere às dificuldades que o setor enfrentou.
E ainda acrescenta um outro detalhe, que foi muito importante e que, se fosse confirmado, traria, na sua visão, um grande prejuízo aos produtores.
“No meio das cheias o Governo Federal anunciou a aquisição de arroz de outros países, com medo de que fosse faltar o produto para consumo no mercado interno. Se isto realmente acontecesse, os preços teriam caído e muito. Foi uma interferência ruim que felizmente, através do movimento dos arrozeiros e outras entidades, conseguimos suspender”, lembra Velho.
Preços e custos
Em março deste ano, 2024 o preço da saca do arroz esteve entre R$ 115 e R$ 120 por conta de uma baixa no estoque mundial. A enchente no Rio Grande do Sul atrasou a entrada da safra no mercado, o que sustentou estes preços.
Passado esse período crítico e com o aumento da oferta, os preços começaram a cair e se estabilizaram em R$ 100,45 a saca.
“É um valor que, no mínimo, precisa ser mantido, pois é o cálculo que temos para os custos médio de produção para esta safra que estamos trabalhando neste momento”, defende o presidente da Federarroz.
Na avaliação de Fabbri, da Scott Consultoria, o poder de compra do produtor de arroz frente ao mercado de fertilizantes é um dos fatores que está pesando nesta balança de custos.
Na comparação desta safra com a anterior ele afirma que ficou pior, considerando-se que há maior necessidade de uso de sacas de arroz para a compra de uma tonelada de fertilizante. “Hoje precisa-se de 31,4 sacas. Há um ano, eram 26,8 sacas para essa mesma compra”, diz ele.
Antônio da Luz, economista chefe da Federação da Agricultura do RS (Farsul), ressalta que outro custo que está pesando para o produtor, o financeiro.
“Com o governo pagando mais de 15% para rolar sua dívida, o dinheiro no Brasil está caríssimo para todos os brasileiros e os produtores não são diferentes. De todos os custos, o que mais subiu foi o financeiro”, aponta ele.
Em busca de oferecer um apoio ao produtor para manter os preços o Governo Federal lançou mão do Contrato de Opção de Venda (COV) de arroz, uma modalidade de seguro de preços que permite aos produtores venderem o arroz para o governo a um preço previamente fixado.
Ao todo foram destinados R$ 1 bilhão para esta operação. “Isto não é uma solução, porque estes contratos estão com valores a base de R$ 87,00 a saca, abaixo do custo de produção, então é um recurso que traz prejuízo ao produtor”, critica Velho.
Mesmo assim, para Tomita, do IRGA, a perspectiva de preços para a próxima safra é boa, justificando o acréscimo na área plantada.
Para Fabbri todo o cenário junto, mais o fato de não ter um La Niña forte, colaboram com a expectativa de aumento de área para o ciclo 2024/2055 e, consequentemente, de produção. A projeção é que o Brasil produzirá 12,0 milhões de toneladas de arroz.