A comemoração foi grande, mas curta. O Conselho Nacional dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé) festejou na noite da quinta-feira, 20 de novembro, a decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de retirar as tarifas adicionais de 40% incidentes sobre produtos agrícolas brasileiros, mas já alertou que ainda há produtos relevantes para o setor na lista do tarifaço.
Em áudio distribuído à imprensa por sua assessoria, o presidente do Cecafé, Marcio Ferreira, não escondeu o alívio com a informação vinda dos Estados Unidos, mas lembrou que o café solúvel, produto com maior valor agregado e que representa cerca de 10% das exportações aos americanos, permanece entre os produtos sujeitos às tarifas adicionais.
“Para nossa alegria e de todos os brasileiros, o governo americano finalmente retira a tarifa de 40% sobre o café verde, que vinha nos colocando em condição extremamente desvantajosa e muito preocupante em relação ao futuro”, afirmou Ferreira.
Ele relatou, no áudio, uma reunião realizada ontem pelas entidades do setor cafeeiro com o vice-presidente da República e ministro da Indústria e Comércio, Geraldo Alckmin, em que foi apresentado um cenário “muito ruim previsto em caso permanecessem as tarifas”.
As contas mostradas a Alckmin indicavam perdas, para os exportadores brasileiros de café, na ordem de até US$ 2,5 bilhões apenas em função das vendas que deixariam de ser feitas aos EUA.
Nos últimos três meses, segundo Ferreira, os embarques para aquele país haviam recuado 50%. E, segundo afirmou, havia risco de caírem ainda mais após a decisão de Trump, na semana passada, de retirar as tarifas recíprocas, válidas para todos os países, em relação a vários produtos agrícolas, inclusive o café.
De acordo com Ferreira, aquela decisão faria com que, “para os outros países”, as taxas de importação ficassem zeradas, enquanto para o Brasil, mesmo com a retirada de uma tarifa de 10%, restariam as 40% adicionais.
“Nossa perspectiva é de que perderíamos mais 30% do mercado”, disse. Assim, calculou, a queda total das exportações aos EUA chegaria a 80%, “o que significa uma queda na balança comercial da ordem de aproximadamente US$ 2 bilhões de dólares somente para os Estados Unidos”, apontou.
Além disso, na tentativa de escoar sua produção para outros mercados, o Brasil estaria sendo penalizado pela pressão dos compradores para obterem preços mais baixos.
“Mesmo com uma safra menor, esses diferenciais que a gente chama de desconto sobre a Bolsa, se alargaram bastante”, afirmou. “Em função disso, estimávamos que, também no espaço de 12 meses, poderíamos perder mais US$ 1 bilhão sobre o restante das exportações brasileiras”.
Atualmente, segundo dados do Cecafé, o País vende em torno de 40 milhões de sacas por ano, sendo 8 milhões para os Estados Unidos e 32 milhões para o restante do mundo.
As contas do Cecafé indicam, portanto, um potencial de redução de divisas na ordem de US$ 3 bilhões anuais, que foi eliminado, por ora, com o recuo de Trump nas taxações.
O Cecafé manifestou a Alckmin também sua preocupação com o fato de os estoques de café brasileiro nos EUA terem praticamente zerado com a redução das exportações nos últimos meses. Com isso, de acordo com Ferreira, o País corria o risco de ver o seu produto substituído pelo de outras origens na formação dos blends comercializados no mercado americano.
“Ontem nós saímos um pouco preocupados pelo que poderíamos ter de prejuízo, mas também tendo uma indicação de que talvez a solução poderia ser mais breve do que eventualmente a gente esperava”, disse ele sobre o clima da reunião, realizada poucas horas antes de chegar a notícia da eliminação das tarifas adicionais.
Ferreira contou que, ao longo do dia, recebeu essa mesma sinalização de importadores americanos, “que nos mostraram que as soluções estavam chegando mais perto”.
A decisão de Trump atinge a grande maioria das exportações brasileiras, mas Ferreira agora diz que é preciso manter a mobilização do governo – a quem agradeceu pelo empenho nas negociações com as autoridades americanas – e das entidades em torno das tarifas ainda incidentes sobre o café solúvel.
“Temos uma tarefa pela frente”, disse, afirmando que imediatamente após ser informado da nova situação entrou em contato com a embaixada do Brasil em Washington, com autoridades em Brasília e com os nossos importadores. “Já estamos debruçados para trabalhar também no solúvel”.
Embora com volumes bem menores que o café verde, a cadeia do café solúvel, segundo ele, tem um impacto social muito grande já que, “para cada emprego gerado pelo café em grão, três ou quatro são gerados pelo café solúvel, com valor agregado maior, obviamente, por ser produto final acabado”.
Ferreira finalizou dizendo que o episódio do tarifaço ensinou lições importantes ao setor, seja em torno da necessidade de estar mais alinhado em suas posições, seja em torno do investimento em marketing de cafés do Brasil.
“Hoje o consumidor americano sabe do peso que tem a falta de cafés do Brasil, já que os preços subiram muito”, afirmou. “Mas ao mesmo tempo, a experiência mostrou que nós podemos fazer bem melhor daqui para frente”.
Resumo
- Cecafé celebra a retirada das tarifas de 40% dos EUA sobre o café verde brasileiro, que evitou perdas estimadas em até US$ 3 bilhões ao ano
- Apesar do avanço, o setor alerta que o café solúvel — de maior valor agregado e forte impacto social — ainda permanece sujeito ao tarifaço
- Entidade pede continuidade das negociações e reforço em marketing e alinhamento setorial para proteger exportações e espaço nos blends americanos