A forte dependência externa do Brasil no mercado de fertilizantes faz com que cada movimento lá fora reflita no custo desses produtos, que são essenciais para uma boa produtividade agrícola.
Quando se considera os itens mais utilizados na agricultura, o grupo chamado NPK, nitrogênio, fósforo e potássio, ainda se estima que 85% sejam importados no Brasil.
Por isso, questões geopolíticas e decisões de países fornecedores em relação à oferta desses produtos costumam causar fortes oscilações de preço. Foi assim na pandemia e também no início da guerra entre Rússia e Ucrânia, por exemplo.
Neste início de 2025, um dos fatores que vem chamando a atenção de analistas de mercado é alta no preço dos fertilizantes nitrogenados.
Um relatório divulgado esta semana pelo Itaú BBA mostrou que um produto nitrogenado fundamental para a lavoura de milho, por exemplo, que é a ureia, teve alta de 14,5% nos portos brasileiros somente no mês de janeiro.
“A alta nos preços dos nitrogenados se deve à menor oferta do produto iraniano, o qual teve sua produção reduzida por conta da restrição de matéria prima no país, além do custo de produção crescente, devido à alta no preço do gás natural nos mercados internacionais”, diz o banco.
No lado da demanda, conforme o relatório, “os leilões de compra (de ureia) na Índia foram mais agressivos para garantir o suprimento do macronutriente”.
Em entrevista ao AgFeed, o analista de Inteligência de Mercado da consultoria Stone X, Tomás Pernías, explicou que, nessa época do ano, é natural ocorrer uma tendência de alta para esses fertilizantes, em função da primavera no Hemisfério Norte, que é o momento de adubar as lavouras nesta região.
O Itaú BBA também destacou que “começou o período de compras de fertilizantes dos agricultores dos EUA e da Europa, portanto, a expectativa é de maior demanda”.
Entre os americanos, analistas vêm ressaltando uma tendência de maior interesse pelo milho em detrimento da soja (lá o clima permite plantar uma só safra por ano, fazendo com que o agricultor tenha que escolher entre as duas culturas).
Um dos indicadores levado em conta, destacou o banco, são os “preços relativos maiores do milho (relação de preços de 2,1 da soja/milho contra a média de 2,4)”. Se houver uma maior migração da soja para o milho nos EUA, haveria um maior consumo de ureia.
Pernías, da Stone X, diz que além da sazonalidade natural de maior demanda, também estão contribuindo para a alta dos nitrogenados em dólar as dificuldades produtivas em países como Irã e Egito. Neste último, por exemplo, há uma oferta limitada de gás natural – matéria-prima que vira amônia para depois fazer o nitrogenado – e o governo às vezes orienta uma redução na produção e vendas dos fertilizantes.
Outro player importante em nitrogenados é a China que também está no período do ano em que procura priorizar o fornecimento a seus agricultores. “Quando ela precisa, costuma reduzir as exportações e essa ausência é fator de alta”, diz o analista.
Neste cenário, o preço da ureia CFR (no porto brasileiro) que estava em US$ 331 por tonelada no fim de novembro do ano passado, foi cotado em US$ 425 no dia 6 de fevereiro, o que representa uma alta de 28%.
Quando se considera os preços em moeda nacional, a alta é ainda maior. Subiu de cerca de R$ 2,4 mil para R$ 3,25 mil por tonelada, em Rondonópolis-MT, pelos cálculos da Stonex, o que indica um aumento de 35%.
A boa notícia é que a relação de troca do milho com a ureia, apesar da alta no preço internacional, está muito semelhante ao ano passado. Com 30 sacas de milho se compra 1 tonelada do adubo. A relação não mudou tanto porque a cotação do cereal está um pouco melhor ao produtor este ano.
Fósforo e potássio oscilam menos
O cloreto de potássio (KCL), outro importante nutriente para as lavouras, teve alta bem menor. Em janeiro, segundo o Itaú BBA, subiu 3,3%, cotado em US$ 305 por tonelada.
A relação de troca dos grãos com o potássio segue favorável ao agricultor, mas já piorou um pouco se comparado ao mesmo período do ano passado. Segundo a Stone X, a relação entre a soja e o cloreto de potássio está pior que na safra passada, mas em linha com a média dos últimos 5 anos. Hoje seriam necessárias, em média, 14 sacas de soja para comprar uma tonelada de cloreto. No mesmo período de 2024 a relação é de 10 sacas por tonelada do adubo.
Nesse caso, explicou Pernías, os preços do potássio vinham relativamente baixos e “atrativos” o que provocou uma maior demanda a partir de novembro, elevando levemente as cotações.
Nos fertilizantes potássicos o “fator Trump” ainda é uma possibilidade de influência futura. O presidente americano vem ameaçando aplicar tarifas de 25% sobre o Canadá, que um importante fornecedor global desse fertilizante. As negociações prosseguem e a taxação foi postergada.
Porém, como EUA importam 80% do potássio do Canadá, caso venha a reduzir as compras, isso poderia mexer nos preços. Com mais oferta canadense – quem sabe – o Brasil poderia pagar um pouco menos, mas é algo que os analistas preferem não comentar por enquanto.
Nos fosfatados, um dos mais utilizados é o MAP, que teve uma piora na relação de troca com a soja, na comparação com o mesmo período do ano passado. Porém, nas demais culturas, como no café, que vem batendo recordes de alta, a relação de troca é a melhor dos últimos 5 anos.
“O preço do MAP em dólar está estável há meses, mas em reais tem caído um pouco nas últimas semanas”, alertou Tomás. O motivo é a queda do dólar, que antes estava acima dos R$ 6 e agora já opera abaixo de R$ 5,80.