Com perspectivas de margens menores na safra que está sendo plantada, 2025 vai chegando ao fim com sinais de mais um ano “desafiador” para a indústria de fertilizantes.
Os preços ficaram em média 15% mais altos ao longo deste ano, na avaliação do diretor presidente do Sindicato da Indústria de Adubos e Corretivos Agrícolas no Estado do Paraná (Sindiadubos), Aluísio Schwartz Teixeira.
A entidade é considerada uma referência também nacional para o setor em função do grande volume de fertilizantes que entra pelo Porto de Paranaguá e pela relevância do Paraná, estrategicamente, para boa parte das empresas do segmento. O estado funciona como uma espécie de hub logístico para as indústrias.
Na última semana, o Sindiadubos-PR realizou seu tradicional encontro de lideranças da indústria, evento realizado há 19 anos, que funciona como um termômetro para avaliar o mercado. Estiveram presentes mais de mil pessoas.
“A gente deve ter um ano (2025) com entregas um pouco acima de 2024, algo em torno de 47 a 48 milhões de toneladas. O volume físico vai ser maior, mas o total de nutrientes entregues deve ficar muito parecido com o do ano passado, porque está entrando muito produto com menor concentração”, explicou Teixeira, em entrevista exclusiva ao AgFeed.
A previsão é semelhante ao cenário descrito pela Anda, Associação Nacional para Difusão de Adubos, no evento realizado no início de setembro. Lá, o presidente Eduardo Monteiro falou em “empatar” o volume de entregas, em função da grande dificuldade de acesso ao crédito por parte dos produtores rurais.
Na visão do Sindiadubos, no entanto, o “empate” ocorre apenas em nutrientes aplicados e não em volume total, que deverá crescer entre 4% e 6%.
Isso acontece porque, com os preços em alta, o produtor rural buscou fazer substituições. A ureia, por exemplo, vem sendo substituída pelo menos em parte pelo sulfato de amônio, que tem bem menos nitrogênio.
“Então você acaba movimentando mais toneladas, mas com o mesmo teor de nutrientes. Em termos de adubação efetiva, o país deve empatar com o ano passado”, explicou.
China “salva” lavoura, mas causa polêmica
Para Aluísio Schartz Teixeira, o destaque do ano, que pode continuar em 2026, é a tendência de aumento das importações de fertilizantes da China.
“A agricultura brasileira foi salva pela China neste ano. Se não fossem os produtos chineses chegando, especialmente os fosfatados e o sulfato de amônio, a gente teria tido um desabastecimento sério e uma disparada de preços. A China entrou com volumes grandes, em alguns casos o dobro do que exportou no ano passado, e segurou o mercado”, disse ele, na conversa com o AgFeed.
Se não houve essa importação, na visão do executivo, o agricultor teria reduzido a quantidade de adubo aplicada na lavoura.
Somente no primeiro semestre do ano, segundo o dirigente, o Brasil importou 300 mil toneladas a mais de super fosfato simples da China. Já na linha de NP/NPS (nitrogênio e fósforo) as importações do país asiático passaram de 900 mil para 2 milhões de toneladas.
No sulfato de amônio o aumento é de 1,5 milhão de toneladas. Mesmo com a queda nas importações de MAP, se considerados todos os fertilizantes, o Sindiadubos acredita que o ano fecha com um incremento de 3 milhões de toneladas no volume importado.
Mas nem tudo é unanimidade no segmento. O fosfatado chinês, na visão de experientes executivos do setor, pode representar um risco à produtividade das lavouras, pelo fato de ter baixa solubilidade em água. Quem defende essa tese, diz que produtos com essa característica leva a uma menor absorção do nutriente por parte da planta.
Já o diretor do Sindiadubos discorda. Afirma que os críticos mais frequentes estão ligados a empresas que passaram a perder vendas para o importado chinês. Estariam na lista gigantes do setor.
“Hoje não existe nenhum estudo que comprove que uma solubilidade menor em água cause perda de eficiência agronômica. É uma discussão mais comercial do que técnica. Inclusive, em alguns casos, uma solubilidade um pouco menor pode até ser benéfica, porque o nutriente fica mais tempo disponível no solo”, defendeu Teixeira.
A questão é tão polêmica que, a pedido de algumas indústrias, o Ministério da Agricultura passou a exigir a indicação no rótulo da informação sobre o nível de solubilidade em água.
Incertezas à frente (e compra antecipada)
Ao avaliar o cenário para 2026, o diretor do Sindiadubos-PR vê diversas preocupações para a indústria.
Uma delas é o aumento da inadimplência e o crédito ainda restrito. “O crédito vai ser o grande gargalo de 2026. O produtor está mais descapitalizado, os bancos retraíram e a inadimplência aumentou muito neste ano. O Banco do Brasil, por exemplo, já reduziu o limite de várias operações”, afirmou.
Questões relacionadas à logística também estão no radar. “Os fretes subiram bastante e a tabela de piso do frete encareceu ainda mais o transporte. Isso tudo vai bater no preço do fertilizante no ano que vem. O produtor talvez ainda não tenha sentido agora, mas em 2026 esse custo vai aparecer na ponta.”
O executivo diz que é cedo para prever se a alta de 15% em média vista esse ano pode se repetir em 2026, mas admitiu que a tendência é de um custo maior.
“Tem frete subindo, tem dólar mais caro, e se a China resolver segurar produto, o mercado estoura. Então, se nada mudar, a gente entra em 2026 com preço pelo menos igual ou um pouco acima do atual”, avaliou.
Neste cenário, segundo ele, há quem tenha visto oportunidades para comprar o adubo que será usado só na safra 2026/2027 em função de uma relação de troca favorável.
Até o dia 30 de outubro, ele acredita que 3% do volume esperado para o próximo ano já havia sido negociado.
“O mercado avançou muito antes do esperado. Houve um movimento precoce, geralmente ocorre em meados de novembro e dezembro, esse ano aconteceu em setembro”, explicou.
Um fator importante para o próximo ano deve ser a disposição da China de ofertar mais produto no mercado, que poderá ou não se repetir. Além do reflexo nos preços, há também um impacto na logística do fertilizante. O grande volume de fertilizantes importados da China em curto espaço de tempo gerou longas filas para descarregamento no Porto de Paranaguá este ano, com espera média de 60 dias.
“Isso gerou um gargalo na logística portuária, com demurrage de US$ 20 mil a US$ 25 mil por dia por navio”, citou o presidente do Sindiadubos-PR.
Resumo
- O Sindicato da Indústria de Adubos do Paraná, região que opera como hub logístico para o setor no Brasil, projeta a entrega de até 48 milhões de toneladas de fertilizantes no País em 2025.
 - O diretor presidente da entidade, Aluísio Teixeira, disse que a China "salvou" o agricultor brasileiro, ao vender mais produtos, o que impediu uma alta mais expressiva nos preços.
 - Segundo o Sindiadubos-PR, já estão ocorrendo vendas de fertilizantes para a safra 2026/2027, em movimento antecipado por parte de produtores que identificaram boa relação de troca.